"Em Citânia*: tem mini-saia – é uma rapariga leviana. Em Milão – é uma rapariga moderna. Em Paris: tem mini-saia – é uma rapariga. Em Hamburgo, no Eros: tem mini-saia – se calhar é um rapaz."
In O HÁBITO FAZ O MONGE, Umberto Eco, A Psicologia do Vestir (obra colectiva), Assírio e Alvim, 3ª Edição, 1989.
Hoje, apetece-me mostrar que sou mulher, que não tenho vergonha do meu corpo, que me sinto bem com as minhas formas e que os preconceitos são de quem os tem. Hoje vesti uma mini-saia! Quer dizer, não é muito mini, e é uma saia, o que é uma inovação para quem anda quase sempre de calças - o que noutros tempos, para uma mulher, também foi uma símbolo de libertação...
Afinal, uma rapariga de 1,70m precisa de poucos artifícios para que os outros dêem por ela. E hoje, apesar do tempo manhoso, apetece-me, e pronto.
Mas esta minha escolha é um pouco mais do que isso.
As pessoas são mais do meros cabides - aliás, a personalidade acaba sempre por sobressair e isso também explica que certos modelos (femininos e masculinos) tenham uma carreira mais top do que outros.
Amada e odiada, a mini-saia resume uma época de libertação e afirmação: Os Anos 60! A criação desta peça de roupa que se tornou um símbolo é atribuída a Mary Quant e Jean Courreges, que dividem o crédito da ousadia de subir as saias até cerca de 30 cm acima do joelho.
Ninguém duvida que a roupa é uma forma de afirmação ou de contestação. O que vestimos e a forma como o fazemos faz parte de nós, é uma atitude, tal como é uma atitude adequarmos a linguagem (ou não) ao sítio onde estamos, à ocasião em que nos encontramos e aos interlocutores. Todos nós somo "ilhas", temos um individualismo que nos é inerente e do qual não podemos fugir, mas não somos nada sem os outros, vivemos em comunidade e precisamos de comunicar com o exterior para evoluirmos como pessoas e sobreviver. Isto é tão básico e intuitivo que basta pensar que até os animais precisam de atenção e de carinho e isso faz toda a diferença. Os cães, os gatos, participam da nossa vida, recebem-nos caloramente quando chegamos a casa, sabem se estamos tristes ou se estamos doentes.
Ir a uma reunião de Administradores sem gravata ou de jeans é marcar uma posição, que pode ser vista como ousadia, provocação, desleixo, própria de um génio indomável e altamente criativo - suponhamos que se trata de um publicitário que apresenta a nova campanha ao seu cliente. É tudo uma questão de pormenores e de contexto. Que dizer de alguém que se dirige a uma assembleia como "Meus Camaradas"? Tudo depende ser for no meio militar, numa reunião de sindicalistas ou de accionistas. Há que situar para compreender o sentido da escolha da saudação.
E se há a Psicologia e a Etologia, também surgiu a Semiótica, como necessidade de estudar as linguagens verbais e não verbais, tudo o que produz o fenómeno de comunicação entre seres humanos e que abrange a roupa como uma linguagem visual.
Até a escolha de cores tem o seu significado: o vermelho para a realeza (senão em vez de um "tapete vermelho" teríamos um tapete de outra cor qualquer), o azul escuro ou o cinzento antracite para o "fato escuro", mais formal e exigido em profissões que exigem uma postura sóbria e credível, o branco das noivas e das debutantes, entre muitos outros exemplos.
Cores, texturas, tecidos e materiais (pele, vinil, algodão, linho, seda, caxemira...), formas, cortes, estética - podemos levar ao limite a decomposição das mensagens que expressamos, muitas vezes se darmos conta, dos nossos sentimentos, do nosso estado de espírito, das nossas opções de vida.
Também é inútil insistirmos que os outros olham para nós e conseguem ver para além da aparência. À primeira vista, num mundo de julgamentos rápidos, somos para os outros aquilo que aparentamos, não haja ilusões. O facto de alguém se interessar por mais do que está à superfície depende da sua vontade, do interesse despertado e da situação. Ninguém está à espera de ter uma ligação profunda com todos os que nos cruzamos no dia-a-dia.
A roupa é uma máscara social e diz mais do nós do que aquilo que podemos supor. Isto porque os outros nos passam todos os dias "a pente fino" em busca de significados.
Hoje, mais do que nunca, a moda é eclética e quase tudo é permitido. Ainda que o sexo feminino continue, neste campo, a ter mais opções, podemos todos divertirmo-nos muito com aquilo que vestimos - desde os revivalismos cíclicos ao vintage, passando por aquilo que mais gostamos ao que mais se identifica connosco. O que importa é sentirmo-nos bem connosco próprios e isso também é percepcionado pelos outros. Ninguém tem necessidade de ser fashion victim ou de vestir marcas para parecer bem e estar bem.
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* Estaria Umberto Eco, quando escreveu o artigo O HÁBITO FAZ O MONGE a referir-se a esta aldeia?
Como todos somos diferentes, nem tudo o que fica bem aos nossos amigos nos fica bem a nós e podemos sempre tirar partido do que temos de melhor. Que o digam estes "mestres" da auto-estima conhecidos em Portugal como Esquadrão da Moda (também na versão americana)
11 comments:
Pronto!
Não me batam mais, que já estou de volta!
É bom saber que houve quem tivesse saudades minhas... Eu também tive saudades vossas.
Bjs
O que dizer face a este post?
Que fiquei com um sorriso de orelha a orelha com o conselho que dás!:)
Obrigada!
Beijinhos e boa semana!
mini-saias!
venham elas com a primavera...
aqui ficam os votos de uma boa semana
;)
Bjs
Wiii... voltaste ^^
Umberto Eco? Gosto.
Este post? Humm... como todos os outros, grande, mas quando chegamos ao fim... dizemos: Ohhh... já acabou? Quero mais! Gosto de aqui vir ;) *
Bom regresso, Eva!
Confesso que não aprecio mini-saias... mas adorei voltar a ouvir falar de semiótica, a propósito do vestir.
Para te ser franca, acredita que não ligo a modas. Visto o que me apetece, com o que me sinto confortável e borrifo se olham ou não:) beijos
Se é mini-saia ou não a mim não me interessa! Adoro o "porque me apetece". Conceito BOM!!!
Hoje apetece-me TUDO! APETECE-ME! Porque sim!!!
(Deve ser do tempo...)
Eva,
"Uma mulher é que define como um homem quer que olhe para ela", disse ali em baixo.....e não tem nada a ver com o tamanho da roupa, mas sim em conjunto com a personalidade. A ti....arrisco dizer que fica bem. :-)
Beijo e :-)
A lice,
;)
A desenhar,
;) ;)
Alien,
Contacto estabelecido!
Clife,
Fico contente por gostares de vir aqui :)
Lr,
Pois é, uma mini-saia limita os movimentos e implica uma forma de estar diferente, digo eu, porque o sinto assim.
Acho que há tempo para tudo. Habitualmente uso calças; maxi-saias só tenho uma e é travada; tenho umas saiinhas para quando "me apetece". Mal de nós se não inovássemos de vez em quando...
Wind,
Não deixa de ser uma atitude e a tua roupa fala de ti, mesmo que tu não queiras, mesmo que não seja a mensagem que queres passar.
MP,
Bingo! O conceito é que importa!
Apetece-me, não me apetece...
Parrot,
;) :)
Bjs a todos!
Olá Obrigada pela visita! Podes ouvir o Duarte aqui:
http://www.rollsrock.com/duarte/duarte_downloads.htm
olá! também tenho um post no meu blog com exactamente o mesmo excerto do texto do Humberto Eco....
acabei de encontar este blog, mas voltarei com mais disponibilidade para a leitura.
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