Thursday, April 27, 2006

Lolo Ferrari, a silicone babe ou a escrava do bisturi

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Lolo Ferrari (1970? – 2000)

Eis a história de uma vida, que descobri meio por acaso, e que abre portas para uma reflexão sobre alguns problemas muito actuais como as consequências da insatisfação com o corpo, a busca de um ideal de beleza que ultrapassa o humanamente viável, a violência que o cônjuge pode exercer usando a sua ascendência psicológica.

Eve Valois ficou conhecida por Lolo Ferrari, a grotesca Vénus de silicone. Sujeitou-se a 22 operações plásticas em 5 anos, mas nem por isso teve uma existência mais feliz.

Nascida em França, a 8 de Novembro de 1970 (outras biografias dão como ano de nascimento 1963), Eve disse ter tido uma infância e adolescência marcadas por um pai ausente e por uma mãe que a chamava de “feia” e “estúpida”.

Apesar dos seus sempre bons resultados escolares, de ser uma rapariga esperta com uma potencial carreira em Medicina ou no Ensino, a realidade tornou-se bem diferente. Acabando o Liceu, Eve, então com 17, inicia uma carreira como modelo e conhece Eric Vigne, um empresário de 39 anos que mais do que seu agente se torna seu marido.

Desde cedo, Eric apercebeu-se da necessidade de afecto sentida por Eve, da má relação da jovem com o seu corpo, da vontade de se querer transformar em alguém diferente, encorajando-a a entregar-se à cirurgia plástica. Foi o próprio Eric que orgulhosamente desenhou a boca e os seios, alimentando a obsessão de Eve em ser fisicamente transformada.

Eve Valois foi cedendo o seu lugar à fabricada Lolo Ferrari. “Lolo” é o calão francês para mamas e “Ferrari” o nome carinhoso que lhe dava o seu avô e que valeu uma guerra em tribunal com a célebre marca de automóveis, quando Eve tentou lançar uma linha de lingerie e uma boneca com esse nome.

Em vez de conseguir lidar com os seus problemas de auto-estima e submeter-se a um tratamento sério de psicoterapia, Lolo sofreu de uma depressão crónica, agravada pelas constantes operações que apenas a deixavam momentaneamente mais satisfeita com o seu corpo. Não demorava muito a Lolo a encontrar “pontos de melhoria” - vivia com a necessidade se abandonar à anestesia geral com a certeza de acordar transformada.

O tamanho 54G do busto foi atingido em 1995 após cinco operações, o recurso aos moldes de fuselagem da indústria aeronáutica e uma longa procura de um cirurgião disposto a realizar tal empresa.

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Lolo Ferrari em Cannes: cada seio equivale a uma bola de futebol

Em 1999, Lolo Ferrari entra no Guinness Book como a detentora dos seios mais pesados do mundo – 2.8 kgs!


Escusado é dizer que a sua carreira foi orientada para a pornografia. Ainda que o seu sonho fosse tornar-se numa actriz e cantora, todos os trabalhos que apareciam eram relacionados com a exploração do corpo e da sua imagem sexual.

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O casal Vigne

Lolo apresentava uma ambivalência de sentimentos. Capaz de dizer que os enormes seios lhe davam conforto e segurança, também dizia que todas as modificações do seu corpo se deviam ao facto de não aguentar a vida. O sofrimento físico era inevitável e Lolo afogava-se em álcool e café que misturava com comprimidos vários.

O gigantismo mamário implicava o uso, dia e noite, de um soutien especial. Lolo só podia dormir de lado e tinha dificuldades respiratórias. Tinha horror a trepidações, não podia andar de avião sob pena dos implantes poderem rebentar e vivia aterrorizada com a possibilidade de um fan lhe furar os seios durante uma actuação em clubes nocturnos.

Além das dores, tinha pesadelos constantes – sonhava que ao acordar ia voltar a ter o rosto original!

Frases como “Odeio a realidade – quero ser totalmente artificial” ou “Criei uma feminilidade que é completamente artificial” denotam o seu estado mental doente.

Lolo morreu em circunstâncias misteriosas aos 35 anos na sua casa em Cannes.

A sua mãe, Catherine Valois, reclama a condenação de Eric Vignes pelo homicídio da filha, mas, até à data, não foram reunidas provas suficientes. De acordo com a mãe de Lolo, o marido já não precisava dela, já tinha dinheiro, a casa em Cannes e uma empresa, pelo que seria a altura ideal para se livrar de uma mulher que já não podia esconder os sinais do tempo e era demasiado temperamental.

Eric esteve em prisão preventiva, mas decorrido um ano de aplicação da medida de coacção saiu em liberdade. Diz estar inocente, que Lolo cometeu suicídio, que falava frequentemente da morte. Refere mesmo que Lolo visitara uma agência funerária e encomendara o caixão, falecendo no dia seguinte, alegamente por overdose dos habituais comprimidos que tomava.

Também há quem fale em teoria da conspiração…

Monday, April 24, 2006


Liberdade

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From Dοrοta in www.flickr.com

Todos os dias são dias para se falar de liberdade, especialmente quando este direito, nas suas diferentes formas, é agredido, restringido ou ameaçado.


Independentemente do conceito político-filosófico em que possa assentar, a liberdade, é reconhecida como parte integrante dos Direitos Humanos e surge em associação aos sistemas políticos democráticos, sendo consagrada expressamente nas várias Constituições.


A liberdade tem três dimensões: física, psicológica e espiritual. A escravatura condiciona a liberdade física, a dimensão mais visível da liberdade. As molduras em que fomos educados – sistema educacional, Religião, ideologias – podem tornar-nos psicologicamente dependentes, se não desenvolvermos um sentido crítico, uma capacidade de formar opiniões e juízos que podemos actualizar à medida que recebemos mais informação do exterior. A liberdade espiritual prende-se com a pura consciência e com o exercício da meditação que nos leva a separar do corpo físico e a limpar a mente de pensamentos a fim de alcançar a transcendência – é a dimensão da liberdade menos explorada.


Actualmente, o que mais me impressiona é o paternalismo do poder que se julga no direito de escolher aquilo a que podemos ou não aceder, as tentativas de tolher as consciências dos indivíduos por forma a direccioná-las num ou noutro sentido, desde que esteja de acordo com o que alguém estabelece como bom e desejável.


Aconteceu entre nós no chamado Estado Novo, ainda acontece um pouco por toda a parte com a manipulação dos media (não vamos fingir que isso não acontece), com os lobbies e jogos de poder, e continua a acontecer um pouco por todo o mundo, sendo os casos mais flagrantes e recentes o da China e o dos Emirados Árabes Unidos que controlam censuravelmente o acesso dos seus cidadãos à Internet.


Sendo adepta de uma ideia de liberdade que se distancia da permissividade e antes implica responsabilidade e respeito mútuo, custa-me que as “nações civilizadas” pactuem com este tipo de atitudes do poder instituído, apenas porque valores económicos e materiais falam mais alto.

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From Tsunami Notes in www.flickr.com

Liberdade significa a capacidade de dizer sim quando é necessário um sim, dizer não quando é necessário um não, e às vezes ficar calado quando é necessário - ficar em silêncio. Quando todas as dimensões possíveis são aproveitadas, a liberdade existe.

OSHO


Thursday, April 20, 2006


A APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, é uma organização sem fins lucrativos fundada em 1990 com o objectivo de prestar informação, protecção e apoio às vítimas de crime.

Quem é vítima de crime?
A pessoa que, em consequência de acto ou omissão violadora das leis penais em vigor, tenha sofrido um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de ordem moral ou uma perda material.

O conceito de vítima abrange também a família mais próxima, as pessoas a cargo da vítima directa e as pessoas que tenham sofrido um prejuízo na intervenção ou impedimento de situações de vitimização.

A APAV é sobretudo reconhecida pelo seu trabalho e intervenção num grupo específico de vítimas, as mulheres vítimas de maus-tratos, pelo facto de ser este que em maior número recorre aos seus serviços. Contudo, homens e mulheres, crianças e idosos, estrangeiros e minorias étnicas, todos podem ser vítimas de crime.

Sendo as princípais actvidades da APAV ouvir, aconselhar e apoiar todas as vítimas de crime e que sofram dos seus efeitos, o trabalho desta instituição está para além do atendimento ao público, passando pela criação de casas-abrigo, empresas de reinserção social, formação de profissionais que lidam directamente com vítimas (caso das forças de segurança, profissionais do foro, saúde e de apoio social), realização de wokshops e participação em projectos internacionais - PANDORA, PENÉLOPE, DAFNE entre outros.


A APAV assenta no trabalho em regime de voluntariado. Os seus voluntários devem aliar a boa vontade e gosto de ajudar os outros com uma elevada resistência ao stress e formação na área da Psicologia, Direito ou Acção social.

A APAV é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) de utilidade pública reconhecida (Diário da República, III Série, nº 159, de 12/7/90 e III Série, nº 27, de 1/2/91).

Linha de apoio: 707 2000 707 todos os dias úteis das 10h às 13h e das 14h às 17h

Também estou disponível para todas as questões que queiram colocar e em que possa ajudar. Responderei, não em nome da APAV, mas pela experiência como voluntária.

Post Scriptum

Convoquei para o desafio que me propôs o Parrot os seguintes bloggers:

- Ana "Tenho Horror";
- Musas;
- Nuno & Chiara
;

Espero que todos aceitem!

Monday, April 17, 2006

Em busca do Ser perfeito…
Over and Beyond by aqui-ali

Over and Beyond by aqui-ali

Vivemos numa sociedade orientada para resultados, baseada em economias de escala e com o lucro por fim último. Tudo acontece com uma velocidade alucinante, tudo é substituível, somos cada vez mais consumidores informados e exigentes.

Homens e mulheres, criados num tempo de “quase” igualdade entre sexos, habituados a analisar, pesar, medir, verificar, aferir, escolher entre vários produtos existentes num mercado concorrencial, minuciosos na gestão da sua vida profissional e pessoal.

Até que ponto esta forma de vida tem influência nos nossos relacionamentos e naquilo que esperamos dos outros?


Dizemos que procuramos alguém goste de nós tal como somos, que seja companheiro e que nos respeite como indivíduos.

Mas, na prática, o que é que acontece?

Gritamos que o outro tem de obedecer a um certo standard, mas não temos a coragem de admitir que o realmente queremos é uma solução taylor-made.

Exigimos que o outro seja um “Ser perfeito”, uma pessoa completa, acabada, resolvida e que´"encaixe" em nós sem folgas nem defeitos.

Pensamos mais no que podemos obter do outro em vez daquilo que podemos dar.

Krug and Pullman by Robert Scales
Krug and Pullman by Robert Scales

E como tudo o que se relaciona com pessoas é complexo, além do lado emocional ainda temos de contar com a importante variável que é a atracção sexual.

Quantas vezes conhecemos alguém interessante, bonito, culto, educado, honesto, livre, disponível, independente, com uma situação profissional estável, casa própria, um excelente relacionamento com os pais…? E o que é que acontece? Lamentavelmente, “não há química”.

Também acontece rejeitamos alguém com quem temos um bom entendimento, com quem a “química é excelente”, mas é um profissionalmente insatisfeito, tem problemas financeiros, é psicologicamente instável, tem uma vida familiar caótica (ou é a relação com os pais que está mal resolvida, ou são os constantes problemas com o ex, ou os filhos, ou outra coisa qualquer), não é aprovado pelo nosso círculo de amigos, mora noutro país, tem metade da nossa idade...

Se nuns casos é o nosso instinto de defesa a precaver futuros dissabores, até que ponto nos refugiamos em razões infundadas para nos impedirmos a nós próprios de correr riscos?

Acabamos por classificar os outros como "certos" ou "errados", deixando pouca margem de manobra.


Tudo isto leva a
:

- Um fraco investimento nas relações;
- Uma dificuldade imensa de compromisso;
- Uma não aceitação de responsabilidades – pois, isso, responsabilidade;
- Um desejo intenso de “não falhar” – no, not again!

Consequências:

- Exigimos alguém que preencha uma série de requisitos, que têm de ser “picados” um a um em semanas, para aferirmos a qualidade do espécime;

- Desanimamos ao mínimo sinal de defeito, pomos de parte à mínima saída infeliz;

- Não damos tempo para que haja um amadurecimento da relação, que tem um tempo variável de gestação e crescimento, mas não, damos connosco a sermos impacientes e querermos as coisas para ontem.

Conclusão:

Queremos tudo e damos pouco, ou seja, procuramos o máximo lucro com um investimento mínimo.

Mas a vida não é uma lotaria e, mesmo essa, é só para quem joga e as probabilidades de ter de um prémio que se veja são escassas.
As oportunidades não aparecem por si só, implicam uma boa dose de trabalho!

Friday, April 14, 2006

Para os bons entendedores
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Hoje as palavras ficam em suspenso. Não é um dia para escrever ou para falar. Hoje vou sentir, amanhã, logo se vê....


Foto: Marilyn Monroe Blowing Out Candle on 30th Birthday Cake June 1, 1956 by wessobi in www.flickr.com

Tuesday, April 11, 2006

Esse fenómeno chamado Blogosfera

Homage to Babsi by Stompy in flickr.com
Weblog ou simplesmente blog é a junção das palavras inglesas Web (Internet) e log (registo).

Está mais do que claro que os blogs vieram para ficar, que são muito mais do que um fenómeno passageiro, mas antes um meio privilegiado de partilha de informações, de troca de opiniões, de formação de grupos de discussão e tertúlias.

Um blog caracteriza-se por ser uma página on-line, actualizada regularmente e com registos que aparecem por ordem inversa de entrada, ou seja, datados do mais recente para o mais antigo.


Pertencentes a pessoas e não a organizações, os blogs têm conteúdos variados, podem ser generalistas ou temáticos e aparecem geralmente como uma espécie de diário em formato digital de partilha de momentos, reflexões, pensamentos, poesia, imagens.

Esta forma liberdade de expressão surgiu em 1997 e democratizou-se rapidamente com a ajuda de ferramentas de publicações de conteúdos, como é o caso do Blogger.

No fundo, apelidados de expressões narcisistas ou montras de afirmação pessoal, a verdade é que os blogs aparecem como parte de comunidades de interesses comuns, de companheirismo e interacção com o mundo.

Portanto, um aparente umbiguidismo (expressão de António Granado, 2004) leva ao contacto com os outros, à movimentação de milhões de internautas que escrevem, lêem e comentam nos blogs.

Em Portugal, tanto se utiliza a grafia “weblogue” como “blogue”, sendo os seus editores apelidados de “blogueiros” ou “bloguistas”. Eu quase sempre utilizo o inglês – blog.

Há quem diga que os blogs (e a Internet) rivalizam com a televisão e com a imprensa. Penso que se trata de mais um canal, de uma coexistência, não de uma guerra aberta entre media e Internet. Muito menos a Internet visa substituir o suporte em papel (livros, jornais, revistas), mas apenas facilitar,a busca e a troca de informação, o que é possível acontecer numa questão de segundos e em larga escala - pois a isto se chama "Sociedade de Informação" e "Aldeia global".

A blogosfera pela sua dimensão e poder de intervenção já suscitou alguns estudos. Afinal, existem cerca de 30 milhões de blogs e milhares de novos blogs nascem todos os dias. Em Portugal, parece-me que o trabalho de Hugo Neves da Silva sob orientação de Rogério Santos é o de maior referência - aqui publicado na íntegra

Melhores, piores, de gosto requintado ou duvidoso, há espaço para todo o tipo de blogs. Expoente máximo da liberdade de expressão e de opinião, um blog tem a importância que lhe quisermos dar e todos nós podemos escolher o que lemos habitualmente e o que gostamos de visitar, sem ter de dar justificações.

Ora bem, já lá vai o tempo em que se discutia o sexo dos anjos. Agora é moda discutir-se o sexo da escrita. E, claro, como uma coisa leva a outra, também houve quem se lembrasse de discutir o sexo dos blogs.

Mais importante do que a forma como os outros nos vêem, é a forma como nós nos vemos, ainda que a primeira tenha inevitáveis implicações na segunda.

Da articulação destes dois factos – a procura das afirmações de sexualidade nos blogs e a percepção que têm os outros de nós – resulta este texto.

Cheguei à blogosfera quase por acaso e essencialmente porque alguém quase que me obrigou. E o incentivo tem continuado, ao ponto da família, dos amigos e dos comentadores deste espaço me sugerirem temas para abordar.

Tudo isso tem tornado a minha experiência muito gratificante, pois sinto que recebo sempre mais do que dou.

Tenho aprendido muito e contactado com pessoas das mais diversas profissões, do Norte ao Sul de Portugal, bem como de países de língua portuguesa e inglesa.

Por alguma razão este blog foi classificado como um espaço dedicado à Mulher. Não me importo que assim seja. Afinal, eu sempre me defini como um casamento entre O Sexo e a Cidade e a Sic Gaija, e ambos são também para homens.

Quanto aos blogs femininos, das mais-valias da presença feminina na blogoesfera, das diferenças temáticas dos blogs masculinos e femininos – não quero saber! As teorias são para todos os gostos, mas passam-me completamente ao lado. Não leio o que quer que seja por causa do sexo do autor, mas sim pela qualidade dos conteúdos e pelos interesses em certas matérias.

Disse-me um amigo e leitor frequente: “escreves sobre coisas de mulheres e eu gosto de ler”. Assumo que a discriminação sexual ou a violência contra mulheres sejam temas recorrentes, mas a necessidade de maior auto-estima, sendo um problema feminino, não deixa de fazer sentido a muitos homens que ganhavam imenso em termos pessoas se gostassem mais de si próprios. E como este espaço como vive do estado de espírito da sua autora (ou não fosse um blog), se me apetecer falar de coisas fúteis (quiça femininas) é isso mesmo que faço!

Voyeurismo dos homens face aos blogs escritos por mulheres? Penso que seja uma curiosidade natural, não uma atitude de quem espreita às escondidas pelo buraco da fechadura. Tal como há blogs escritos por homens que não deixam de ter público feminino. Segundo creio, tenho tantos visitantes homens como mulheres, nunca notei qualquer desproporção entre visitantes de um e de outro sexo.

Nesta viagem digital que chega ao 6º mês, o que suscita a minha curiosidade e espanto é a classificação de Tudo sobre Eva no Top 100 da Blogosfera, na 52ª posição. É uma honra e não faço ideia dos motivos dessa presença nem sei muito bem quais os critérios de base do ranking.

Não vivo para estatísticas, muito embora deite sempre um olho a quem me visita. Se não posso saber quem são as pessoas, pelo menos fico com uma ideia de onde vêm e porquê. Tal como o PVC, o EVA é um tipo de plástico e há quem faça pesquisas sobre “tudo em eva” e seja supreendido por uma Eva que nada tem de plástico ou silicone – trust me!

A todos os que me visitam, intencionalmente ou por acaso, os meus sinceros agradecimentos. É sempre muito bom receber-vos na minha casa virtual!

Web2.0 - extended mindcloudmap

Saturday, April 08, 2006

Personal Closet
120545342 by Hoffman in flickr.com

Alguns conselhos podem tornar a nossa vida mais simples. E foi isso que aconteceu quando vi o programa da Ophra sobre organização do Closet – roupeiro, guarda-roupa, armário, como lhe queiram chamar.

Tenho o hábito terrível de juntar coisas. Não por ser materialista, mas porque as coisas me lembram pessoas e momentos. Não vivo só de recordações, mas recordar também é viver. Resumindo: guardo muitas coisas pelo valor sentimental que lhes atribuo. Em “coisas” incluo peças de roupa, daquelas que olho, pego e me deixam com o olhar vago e um sorriso nos lábios até que algo me faça descer ao planeta Terra novamente.

Contudo, acredito que é necessário ser-se prático e organizado para tirar partido do tempo, esse bem escasso e que se esvai. Tal como o dinheiro, o tempo precisa de uma boa gestão (tenha-se muito, pouco ou assim-assim), sob pena de um dia pensarmos que foi um desperdício e que o podíamos ter usado de outra forma. Aqui costumo aplicar a noção de “custo de oportunidade”, pois sei que todas as opções, por mínimas e quase instintivas que sejam, implicam sempre “ganhos” e “perdas” e prefiro pensar que “ganhei mais do que perdi” ou, pelo menos, que assumo as consequências das minhas escolhas.

Organizar por “fora” é também uma forma de organizar por “dentro”.

Assim sendo, aqui ficam umas dicas, que podem ser extrapoladas para outros tipos de arrumação, mas que me ajudaram a pôr ordem no meu roupeiro. Claro que é inevitável durante a semana alguma desorganização - tenho dias em que experimento 3 e 4 “roupinhas” antes de me decidir como vou sair de casa... Sempre que possível, nem que seja no fim-de-semana, há que fazer guerra ao caos.

1) Tudo tem o seu “ciclo de vida”

É fundamental deixar as coisas seguirem o seu curso, fluírem, fazerem a felicidade de alguém quando para nós já tiveram a sua utilidade e já cumpriram a sua função: aquilo que já não nos serve pode estar a fazer falta a alguém. Há que devolver ao Universo o que para nós teve o seu tempo.

2) Separar em 3 pilhas: o “sim”, o “não” e o “talvez”.

Isto significa olhar para uma peça de roupa e pensar: “Gosto mesmo disto?”, “Favorece-me?”, “Que mensagem estou a passar aos outros?”

Nós mudamos, evoluímos, apuramos gostos. O que pode ter feito sentido numa época da nossa vida pode não adequar-se ao momento actual. Se é isso que acontece, porque não em cortar com o passado em seguir em frente?

3) “Manter”, “Dar”, “Guardar” – as 3 opções possíveis.


As peças de roupa que queremos guardar por questões sentimentais devem ser separadas e acondicionadas num lugar destinado a arrumos. Dessa forma, ganha-se espaço para aquilo que realmente é importante e necessário no dia-a-dia.

Quanto ao “manter”, nada como um pouco de Marketing aplicado à vida pessoal. Se entramos numa loja e gostamos de ver as coisas expostas de uma forma lógica e apelativa, porque é que em casa deve ser diferente? Porque é que a roupa nova há-de perder a graça no nosso armário?


Cabides idênticos, organização por cores, por estações do ano, “partes de cima” para um lado, “partes de baixo” para outro – aqui as escolhas são próprias de cada um e totalmente individuais.

Wednesday, April 05, 2006

Real Women Dove
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O video é fantástico!

Com o True Colours de Cindy Lauper como fundo sonoro, ao vermos o apelo à descoberta da beleza individual e à auto-aceitação, até nos esquecemos do fim último de qualquer campanha publicitária - vender!

É meritória a chamada de atenção para a questão essencial da auto-estima, qualidade que se deve desenvolver desde cedo e cultivar durante toda a vida.

No entanto, entre a realidade e a almejada perfeição, milhões de pessoas gostavam de mudar algo em si: altura, peso, cor da pele, cor do cabelo...

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Mais de 50 % das mulheres dizem que não gostam do seu corpo (Estudo Interno Dove, 2002)

As modelos e actrizes retratadas nos media, têm, no mínimo, menos 10% de gordura corporal do que uma mulher saudável deveria ter (Associação Médica Britânica, 2000)

6 em cada 10 raparigas pensam que “seriam mais felizes se fossem mais magras” (Pesquisa sobre aparência física de adolescentes, Reino Unido, Jan 2004)

Apesar de apenas 19% das raparigas adolescentes terem peso a mais, 67% pensam que “precisam de perder peso” (Pesquisa sobre aparência física de adolescentes, Reino Unido, Jan 2004)


Das 87% das raparigas que dizem que se sentem "infelizes com o seu corpo", 9 em cada 10 pensam que a sua mãe se sente insegura em relação à sua aparência física. (Pesquisa sobre aparência física de adolescentes, Reino Unido, Jan 2004)

O que disseram algumas mulheres entrevistadas:

“As mulheres são bombardeadas com imagens de perfeição normalmente inatingíveis. Quando uma rapariga se olha ao espelho e não se parece com a modelo da revista ou da TV, não é nenhuma surpresa que a sua auto-estima possa ser afectada. É fantástico que marcas como Dove comecem a ouvir as preocupações das mulheres reais.”- Dr. Linda Papadopolous, Psicóloga; Daily Mirror; 29 de Março, 2004

Eu gostaria de dizer que vou comprar produtos da empresa que usa pessoas reais, mas provavelmente isso não será verdade… todas nos queremos parecer com as modelos. O que é caricato é que todas elas podem simplesmente pagar lipoaspirações ou cirurgias estéticas. Além de que as imagens delas são, provavelmente, todas retocadas quando aparecem nestas campanhas.”- Annali Burns; 27; Withington, Manchester; Daily Star; 1 de Abril, 2004

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O que terá mudado desde que o estudo foi realizado em 2004? Que impacto terá tido uma campanha lançada à escala mundial na mentalidade de homens e mulheres? Que papel pode ter uma marca forte na sociedade? É possível vender e ao mesmo tempo fazer a diferença?



Monday, April 03, 2006

Hoje apetece-me...


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"Em Citânia*: tem mini-saia – é uma rapariga leviana. Em Milão – é uma rapariga moderna. Em Paris: tem mini-saia – é uma rapariga. Em Hamburgo, no Eros: tem mini-saia – se calhar é um rapaz."

In O HÁBITO FAZ O MONGE, Umberto Eco, A Psicologia do Vestir (obra colectiva), Assírio e Alvim, 3ª Edição, 1989.

Hoje, apetece-me mostrar que sou mulher, que não tenho vergonha do meu corpo, que me sinto bem com as minhas formas e que os preconceitos são de quem os tem. Hoje vesti uma mini-saia! Quer dizer, não é muito mini, e é uma saia, o que é uma inovação para quem anda quase sempre de calças - o que noutros tempos, para uma mulher, também foi uma símbolo de libertação...

Afinal, uma rapariga de 1,70m precisa de poucos artifícios para que os outros dêem por ela. E hoje, apesar do tempo manhoso, apetece-me, e pronto.

Mas esta minha escolha é um pouco mais do que isso.

As pessoas são mais do meros cabides - aliás, a personalidade acaba sempre por sobressair e isso também explica que certos modelos (femininos e masculinos) tenham uma carreira mais top do que outros.

Amada e odiada, a mini-saia resume uma época de libertação e afirmação: Os Anos 60! A criação desta peça de roupa que se tornou um símbolo é atribuída a Mary Quant e Jean Courreges, que dividem o crédito da ousadia de subir as saias até cerca de 30 cm acima do joelho.

Ninguém duvida que a roupa é uma forma de afirmação ou de contestação. O que vestimos e a forma como o fazemos faz parte de nós, é uma atitude, tal como é uma atitude adequarmos a linguagem (ou não) ao sítio onde estamos, à ocasião em que nos encontramos e aos interlocutores. Todos nós somo "ilhas", temos um individualismo que nos é inerente e do qual não podemos fugir, mas não somos nada sem os outros, vivemos em comunidade e precisamos de comunicar com o exterior para evoluirmos como pessoas e sobreviver. Isto é tão básico e intuitivo que basta pensar que até os animais precisam de atenção e de carinho e isso faz toda a diferença. Os cães, os gatos, participam da nossa vida, recebem-nos caloramente quando chegamos a casa, sabem se estamos tristes ou se estamos doentes.

Ir a uma reunião de Administradores sem gravata ou de jeans é marcar uma posição, que pode ser vista como ousadia, provocação, desleixo, própria de um génio indomável e altamente criativo - suponhamos que se trata de um publicitário que apresenta a nova campanha ao seu cliente. É tudo uma questão de pormenores e de contexto. Que dizer de alguém que se dirige a uma assembleia como "Meus Camaradas"? Tudo depende ser for no meio militar, numa reunião de sindicalistas ou de accionistas. Há que situar para compreender o sentido da escolha da saudação.

E se há a Psicologia e a Etologia, também surgiu a Semiótica, como necessidade de estudar as linguagens verbais e não verbais, tudo o que produz o fenómeno de comunicação entre seres humanos e que abrange a roupa como uma linguagem visual.

Até a escolha de cores tem o seu significado: o vermelho para a realeza (senão em vez de um "tapete vermelho" teríamos um tapete de outra cor qualquer), o azul escuro ou o cinzento antracite para o "fato escuro", mais formal e exigido em profissões que exigem uma postura sóbria e credível, o branco das noivas e das debutantes, entre muitos outros exemplos.

Cores, texturas, tecidos e materiais (pele, vinil, algodão, linho, seda, caxemira...), formas, cortes, estética - podemos levar ao limite a decomposição das mensagens que expressamos, muitas vezes se darmos conta, dos nossos sentimentos, do nosso estado de espírito, das nossas opções de vida.

Mini saia

Também é inútil insistirmos que os outros olham para nós e conseguem ver para além da aparência. À primeira vista, num mundo de julgamentos rápidos, somos para os outros aquilo que aparentamos, não haja ilusões. O facto de alguém se interessar por mais do que está à superfície depende da sua vontade, do interesse despertado e da situação. Ninguém está à espera de ter uma ligação profunda com todos os que nos cruzamos no dia-a-dia.

A roupa é uma máscara social e diz mais do nós do que aquilo que podemos supor. Isto porque os outros nos passam todos os dias "a pente fino" em busca de significados.

Hoje, mais do que nunca, a moda é eclética e quase tudo é permitido. Ainda que o sexo feminino continue, neste campo, a ter mais opções, podemos todos divertirmo-nos muito com aquilo que vestimos - desde os revivalismos cíclicos ao vintage, passando por aquilo que mais gostamos ao que mais se identifica connosco. O que importa é sentirmo-nos bem connosco próprios e isso também é percepcionado pelos outros. Ninguém tem necessidade de ser fashion victim ou de vestir marcas para parecer bem e estar bem.

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* Estaria Umberto Eco, quando escreveu o artigo O HÁBITO FAZ O MONGE a referir-se a esta aldeia?

Como todos somos diferentes, nem tudo o que fica bem aos nossos amigos nos fica bem a nós e podemos sempre tirar partido do que temos de melhor. Que o digam estes "mestres" da auto-estima conhecidos em Portugal como Esquadrão da Moda (também na versão americana)

Ally McBeal

Sugestão para todas a mulheres que não deixam de ser femininas: uma visita a este blog.