Eis a história de uma vida, que descobri meio por acaso, e que abre portas para uma reflexão sobre alguns problemas muito actuais como as consequências da insatisfação com o corpo, a busca de um ideal de beleza que ultrapassa o humanamente viável, a violência que o cônjuge pode exercer usando a sua ascendência psicológica.
Eve Valois ficou conhecida por Lolo Ferrari, a grotesca Vénus de silicone. Sujeitou-se a 22 operações plásticas em 5 anos, mas nem por isso teve uma existência mais feliz.
Nascida em França, a 8 de Novembro de 1970 (outras biografias dão como ano de nascimento 1963), Eve disse ter tido uma infância e adolescência marcadas por um pai ausente e por uma mãe que a chamava de “feia” e “estúpida”.
Apesar dos seus sempre bons resultados escolares, de ser uma rapariga esperta com uma potencial carreira em Medicina ou no Ensino, a realidade tornou-se bem diferente. Acabando o Liceu, Eve, então com 17, inicia uma carreira como modelo e conhece Eric Vigne, um empresário de 39 anos que mais do que seu agente se torna seu marido.
Desde cedo, Eric apercebeu-se da necessidade de afecto sentida por Eve, da má relação da jovem com o seu corpo, da vontade de se querer transformar em alguém diferente, encorajando-a a entregar-se à cirurgia plástica. Foi o próprio Eric que orgulhosamente desenhou a boca e os seios, alimentando a obsessão de Eve em ser fisicamente transformada.
Eve Valois foi cedendo o seu lugar à fabricada Lolo Ferrari. “Lolo” é o calão francês para mamas e “Ferrari” o nome carinhoso que lhe dava o seu avô e que valeu uma guerra em tribunal com a célebre marca de automóveis, quando Eve tentou lançar uma linha de lingerie e uma boneca com esse nome.
Em vez de conseguir lidar com os seus problemas de auto-estima e submeter-se a um tratamento sério de psicoterapia, Lolo sofreu de uma depressão crónica, agravada pelas constantes operações que apenas a deixavam momentaneamente mais satisfeita com o seu corpo. Não demorava muito a Lolo a encontrar “pontos de melhoria” - vivia com a necessidade se abandonar à anestesia geral com a certeza de acordar transformada.
O tamanho 54G do busto foi atingido em 1995 após cinco operações, o recurso aos moldes de fuselagem da indústria aeronáutica e uma longa procura de um cirurgião disposto a realizar tal empresa.
Lolo Ferrari em Cannes: cada seio equivale a uma bola de futebol
Em 1999, Lolo Ferrari entra no Guinness Book como a detentora dos seios mais pesados do mundo – 2.8 kgs!
Escusado é dizer que a sua carreira foi orientada para a pornografia. Ainda que o seu sonho fosse tornar-se numa actriz e cantora, todos os trabalhos que apareciam eram relacionados com a exploração do corpo e da sua imagem sexual.
O casal Vigne
Lolo apresentava uma ambivalência de sentimentos. Capaz de dizer que os enormes seios lhe davam conforto e segurança, também dizia que todas as modificações do seu corpo se deviam ao facto de não aguentar a vida. O sofrimento físico era inevitável e Lolo afogava-se em álcool e café que misturava com comprimidos vários.
O gigantismo mamário implicava o uso, dia e noite, de um soutien especial. Lolo só podia dormir de lado e tinha dificuldades respiratórias. Tinha horror a trepidações, não podia andar de avião sob pena dos implantes poderem rebentar e vivia aterrorizada com a possibilidade de um fan lhe furar os seios durante uma actuação em clubes nocturnos.
Além das dores, tinha pesadelos constantes – sonhava que ao acordar ia voltar a ter o rosto original!
Frases como “Odeio a realidade – quero ser totalmente artificial” ou “Criei uma feminilidade que é completamente artificial” denotam o seu estado mental doente.
Lolo morreu em circunstâncias misteriosas aos 35 anos na sua casa em Cannes.
A sua mãe, Catherine Valois, reclama a condenação de Eric Vignes pelo homicídio da filha, mas, até à data, não foram reunidas provas suficientes. De acordo com a mãe de Lolo, o marido já não precisava dela, já tinha dinheiro, a casa em Cannes e uma empresa, pelo que seria a altura ideal para se livrar de uma mulher que já não podia esconder os sinais do tempo e era demasiado temperamental.
Eric esteve em prisão preventiva, mas decorrido um ano de aplicação da medida de coacção saiu em liberdade. Diz estar inocente, que Lolo cometeu suicídio, que falava frequentemente da morte. Refere mesmo que Lolo visitara uma agência funerária e encomendara o caixão, falecendo no dia seguinte, alegamente por overdose dos habituais comprimidos que tomava.
Também há quem fale em teoria da conspiração…