Em busca do Ser perfeito…
Over and Beyond by aqui-ali
Vivemos numa sociedade orientada para resultados, baseada em economias de escala e com o lucro por fim último. Tudo acontece com uma velocidade alucinante, tudo é substituível, somos cada vez mais consumidores informados e exigentes.
Homens e mulheres, criados num tempo de “quase” igualdade entre sexos, habituados a analisar, pesar, medir, verificar, aferir, escolher entre vários produtos existentes num mercado concorrencial, minuciosos na gestão da sua vida profissional e pessoal.
Até que ponto esta forma de vida tem influência nos nossos relacionamentos e naquilo que esperamos dos outros?
Mas, na prática, o que é que acontece?
Gritamos que o outro tem de obedecer a um certo standard, mas não temos a coragem de admitir que o realmente queremos é uma solução taylor-made.
Exigimos que o outro seja um “Ser perfeito”, uma pessoa completa, acabada, resolvida e que´"encaixe" em nós sem folgas nem defeitos.
Pensamos mais no que podemos obter do outro em vez daquilo que podemos dar.
E como tudo o que se relaciona com pessoas é complexo, além do lado emocional ainda temos de contar com a importante variável que é a atracção sexual.
Quantas vezes conhecemos alguém interessante, bonito, culto, educado, honesto, livre, disponível, independente, com uma situação profissional estável, casa própria, um excelente relacionamento com os pais…? E o que é que acontece? Lamentavelmente, “não há química”.
Também acontece rejeitamos alguém com quem temos um bom entendimento, com quem a “química é excelente”, mas é um profissionalmente insatisfeito, tem problemas financeiros, é psicologicamente instável, tem uma vida familiar caótica (ou é a relação com os pais que está mal resolvida, ou são os constantes problemas com o ex, ou os filhos, ou outra coisa qualquer), não é aprovado pelo nosso círculo de amigos, mora noutro país, tem metade da nossa idade...
Se nuns casos é o nosso instinto de defesa a precaver futuros dissabores, até que ponto nos refugiamos em razões infundadas para nos impedirmos a nós próprios de correr riscos?
Acabamos por classificar os outros como "certos" ou "errados", deixando pouca margem de manobra.
Tudo isto leva a:
- Um fraco investimento nas relações;
- Uma dificuldade imensa de compromisso;
- Uma não aceitação de responsabilidades – pois, isso, responsabilidade;
- Um desejo intenso de “não falhar” – no, not again!
Consequências:
- Exigimos alguém que preencha uma série de requisitos, que têm de ser “picados” um a um em semanas, para aferirmos a qualidade do espécime;
- Desanimamos ao mínimo sinal de defeito, pomos de parte à mínima saída infeliz;
- Não damos tempo para que haja um amadurecimento da relação, que tem um tempo variável de gestação e crescimento, mas não, damos connosco a sermos impacientes e querermos as coisas para ontem.
Conclusão:
Queremos tudo e damos pouco, ou seja, procuramos o máximo lucro com um investimento mínimo.
Mas a vida não é uma lotaria e, mesmo essa, é só para quem joga e as probabilidades de ter de um prémio que se veja são escassas.
As oportunidades não aparecem por si só, implicam uma boa dose de trabalho!
18 comments:
Eva!!! ainda agora publiquei um post sobre o Amor Perfeito hehehehe. Claro que sob a minha perspectiva
Afinal o quê procuramos nós? às vezes penso que não sabemos....
;) beijinho grande :*
Meia Lua,
O "ser perfeito", o "amor perfeito"...
Ó tema inesgotável!
;)
Bjs
Eu sou das que dá tudo, mas também quer tudo.
E sim, é verdade, muitas das vezes existe um "desencontro", como o que falas...há sempre um senão, ou há quimica e pouco mais, ou há mais e nenhuma quimica. É lixado...
os relacionamentos são sempre investimentos que se fazem
Meu deus... fiquei muito assustado depois de ler isto.
Ou seja, um tipo como eu está desgraçado.
É que todas as características para um espécimen (é lindo, acaba em men) ter alguma possibilidade de sucesso entre as tipas mais urbanas e sofisticadas, resume-se a ter carreira, dinheiro e bom aspecto.
Ora para se ter carreira e dinheiro em Portugal ou se é um grunho ou... um grunho.
Raros são os fulanos que têm carreira slash dinheiro e são cultos ou interessantes.
Não é imcompatível, mas é muito difícil.
Por isso é que as tribos serão sempre as tribos.
E por isso é que Portugal continuará a ser um país de bimbos, trogloditas e cromagnons... mas, e atenção damas, com um fatinho e um beemer.
Meu deus... fiquei triste.
muito triste.
Oi Eva,
Tudo bem?
Não há relações perfeitas...se as queremos manter...há que investir nelas...há que dar...para receber...
é a minha opinião..
Beijinho
Xá,
Fiquei chocada com o teu comentário!
Obviamente que vou exercer devidamente o meu direito de resposta.
Bjs
é...anda meio mundo a desejar outro mundo que não é o seu e ainda por cima esqecemos que quanto mais procuramos menos se encontra...e às vezes a felicidade está ali ao lado, vestido de calças de fazenda e de camisa saloia, mas o esteriotipo tem tanta força que nem permitimos sequer colocar a hipotese de dizer olá a quem pode na realmente vir a ser a nossa cara metade, porque isso seria uma dura batalha de convencer ao nosso grupo que de facto encontramos o parceiro fora das regras estabelicidas...somos muito estranhos realmente!
Beijocas
É claro que somos influenciados pela sociedade tão competitiva em que vivemos, e isso tem reflexo em algumas relações. Já tive oportunidade de dizer que o segredo está no dar-se (com limites). Quando se anda demasiado preocupado em encontrar....pode acontecer como os óculos de sol. Às vezes corremos a casa à procura dos óculos....é temo-los postos na cabeça.
As pressas são inimigas dos bons negócios....e dos bons relacionamentos.
Estas coisas não se "buscam", encontram-se.
Beijo
Xiiiiii! O que para aqui vai...
Bom... é como eu sempre digo, repetindo um amigo meu: isto das empatias não é quando a gente quer, é quando Deus (ou a Providência, para os ateus) quiser...
Quanto ao esforço, seguramente, seguramente...
olá Eva!!!li com atenção o teu texto...felizmente em toda a regra há a excepção!!! e nesse cenário, faço orgulhosamente parte do 0,001%...rs.Quero acreditar que não seja tanto assim...
bjs
A procura de um mundo mais perfeito, também passa por pequenas lutas.....estás convocada a contribuir .
.. Eva .. sempre aquela questão .. e se o coração tem razão .. e se não tem? muitas vezes cingimo - nos ao limite mais próximo e familiar .. temos medo de voos picados sobre o desconhecido .. quantas vezes já pensei: será que isto que estou a fazer sou eu? .. será que a estabilidade é tudo .. que a vida é tão frágil para deitar tudo o que construímos borda fora .. Às vezes mais vale fazer de conta que está tudo bem .. não vale a pena inventar ..
Desconhecida,
Mocho,
O ser humando é mesmo complexo e eternamente insatisfeito!
Greentea,
Isabel,
Sem dúvida que as pessoas têm de estar conscientes que é necessário empenho e investimento numa relação.
MP,
Parrot,
Ana,
Tal como tudo na vida, é necessário uma factor "sorte", uma confluência de condições que proporcionam uma situação ou acontecimento - tão bem explorado em MATCH POINT de Woody Allen. No entanto, tudo implica um esforço e cooperação da nossa parte.
Xá,
Sensibilidade e bom senso são duas característas que reúno. Além de as ter potência, tenho a preocupação de as desencolver e trabalhar constantemente. Não é presunção é uma auto-crítica consciente.
Nada do meu texto refere que as mulheres procuram homens com recursos, que não passem de umas interesseiras e que elegem como parceiro quem lhes proporcione um determinado tipo de vida. Também não é focado que qualidades procuram os homens nas companheiras.
O texto respeita quer a homens quer a mulheres, independentemente da sua orientação sexual. É humano querer-se amar e ser amado, ter estabilidade emocional, um equilíbrio entre afecto e profissão.
A questão aborda é a influência da sociedade em que estamos inseridos, que nos pressiona tremendamente no sentido da realização/ sucesso profissional, na vida pessoal e afectiva.
Aceito críticas e não estou à espera que o mundo inteiro concorde comigo. Muito pelo contrário, gosto de saber o que pensa quem discorda de mim. Só peço que seja uma crítica bem feita e construtiva, pois de outra forma, não vale a pena.
Sérgio,
Há quem defenda que a vida é mais simples quando pensamos menos nela.
Eu defendo que cada uma sabe de si, que a vida é uma aprendizagem constante e individual. Isso não invalida que nos socorramos da experiências e dos conhecimentos dos outros.
Bjs
oh Eva, ainda a propósito do tema...eu percebi perfeitamente as tuas palavras, mas também percebo as do Xá...o k eu acho verdadeiramente, e muito embora seja das 1ªs a defender que cada um sabe de si, é que nisto do amor não se pode ser muito racional, ou não se vai a lado nenhum...concordo plenamente quando dizes que as pessoas investem pouco e que desistem à primeira contrariedade, mas isso porque são demasiado egoistas para amar verdadeiramente...poder-te-ia dar imensos exemplos pessoais do k digo, mas não é local para isso....
acho k o Xa estava a ser irónico, mas a avaliação está infelizmente correcta...mas eu sei que não era disso que falavas...
e pronto,tenho dito!
beijinhos
Eva, este modelo de vida não dá para ninguém - a única excepção são os Japoneses, mas para eles a competição começa no jardim-escola.O que retiramos daí é que são um povo onde o suicídio e os comportamentos anti-sociais, são acontecimentos recorrentes.
Não quero essa Babilónia para mim !
A nossa responsabilidade ?
Como não nos conseguimos sentir bem num modelo como o que descreve, a solução é geralmente culpabilizar alguém..e os alvos são geralmente os que estão mais próximos..depois é uma espiral de incompreensão e mútuo ressentimento.
Para não entrar na «máquina de lavar» resta-nos dosear o esforço na medida da recompensa, sem que o nosso empenho profissional ou pessoal, ou social, saia prejudicado. Ninguém deveria entrar em causas a 100%, porque deixa de haver espaço para outros interesses e prazeres, acabando nuna qualquer forma de obsessão.
O mesmo se aplica ás pessoas que se metem em tudo e mais alguma coisa..se bem que conheço algumas que são assim e são óptimas em tudo o que fazem. Mas pagam o preço..de não olharem para elas próprias, de iludirem muitas vezes o seu interior, adormecendo-o..até um dia (as doenças psicossomáticas..).
Se não nos habituarmos a perceber o que se passa no nosso íntimo, só nos conseguimos ver a reagir, quando o que devemos procurar fazer é agir.
Os afectos, são uma consequência do nosso estado interior. Dele depende a nossa capacidade de atracção, sedução e disponibilidade para o envolvimento numa relação.
A felicidade é um pouco isso..habituarmos o nosso íntimo a desenvolver as respostas emocionais adequadamente positivas, conducentes a um nivelamento dos picos – para quem viu “What Bleep Do We Know ?” sabe que este condicionamento químico do cérebro é uma realidade.
Se assim não for, entramos num mundo de predadores e de presas, que serve apenas para mitigar as dores do momento..até ao próximo momento fugaz de prazer, como junkies do sexo.
Uma nota sobre a selectividade e a escolha de parceiros.
A selectividade é uma característica marcadamente feminina, consequência do maior investimento parental da mulher. O homem tem maior flexibilidade, consequência do menor investimento parental. O homem pode tomar conta do ciclo reprodutivo de uma só mulher, privilegiando uma estratégia de longo prazo e assim criando uma prole ou optar por manter uma estratégia de curto prazo e criar a sua prole fundando maior número de agregados. Isso tem custos muito superiores para a mulher, daí que sejam situações menos frequentes.
Estes são condicionalismos psicológicos a que nenhum de nós escapa, podendo ser potenciados por factores próximos como os recursos económicos disponíveis, status, ideal de beleza e atracção física, ou mais subtis, como troca social -menos custos maiores recompensas, efeito de similaridade ou de complementaridade, entre outros..
Uma coisa é certa, “It takes two for tango” e não podemos esperar ir buscar ao outro coisas que devemos encontrar em nós.
Muito bem, já (des)conversámos sobre isto.
De qualquer forma continuo, infelizmente, na minha.
Agradeço a todos os contributos para a discussão de ideias que suscitou o meu texto.
Deixa-me satisfeita o facto de notar da vossa parte uma leitura atenta e uma preocupação de críticas construtivas e que demonstram interesse pela questão: afinal, o que procuramos nós? Qual o grau de exigência que temos dos outros e do mundo? Até que ponto o meio que nos envolve justifica a dificuldade em estabelecer relações estáveis e satisfatórias?
Mesmo não concordando com tudo o que foi dito, acho que se proporcionou um debate interessante e que aqui fica registado para todos os que a ele queiram aceder. Não trazendo propriamente as respostas, levanta questões. Um bom início de reflexão...
Bjs
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