Monday, April 17, 2006

Em busca do Ser perfeito…
Over and Beyond by aqui-ali

Over and Beyond by aqui-ali

Vivemos numa sociedade orientada para resultados, baseada em economias de escala e com o lucro por fim último. Tudo acontece com uma velocidade alucinante, tudo é substituível, somos cada vez mais consumidores informados e exigentes.

Homens e mulheres, criados num tempo de “quase” igualdade entre sexos, habituados a analisar, pesar, medir, verificar, aferir, escolher entre vários produtos existentes num mercado concorrencial, minuciosos na gestão da sua vida profissional e pessoal.

Até que ponto esta forma de vida tem influência nos nossos relacionamentos e naquilo que esperamos dos outros?


Dizemos que procuramos alguém goste de nós tal como somos, que seja companheiro e que nos respeite como indivíduos.

Mas, na prática, o que é que acontece?

Gritamos que o outro tem de obedecer a um certo standard, mas não temos a coragem de admitir que o realmente queremos é uma solução taylor-made.

Exigimos que o outro seja um “Ser perfeito”, uma pessoa completa, acabada, resolvida e que´"encaixe" em nós sem folgas nem defeitos.

Pensamos mais no que podemos obter do outro em vez daquilo que podemos dar.

Krug and Pullman by Robert Scales
Krug and Pullman by Robert Scales

E como tudo o que se relaciona com pessoas é complexo, além do lado emocional ainda temos de contar com a importante variável que é a atracção sexual.

Quantas vezes conhecemos alguém interessante, bonito, culto, educado, honesto, livre, disponível, independente, com uma situação profissional estável, casa própria, um excelente relacionamento com os pais…? E o que é que acontece? Lamentavelmente, “não há química”.

Também acontece rejeitamos alguém com quem temos um bom entendimento, com quem a “química é excelente”, mas é um profissionalmente insatisfeito, tem problemas financeiros, é psicologicamente instável, tem uma vida familiar caótica (ou é a relação com os pais que está mal resolvida, ou são os constantes problemas com o ex, ou os filhos, ou outra coisa qualquer), não é aprovado pelo nosso círculo de amigos, mora noutro país, tem metade da nossa idade...

Se nuns casos é o nosso instinto de defesa a precaver futuros dissabores, até que ponto nos refugiamos em razões infundadas para nos impedirmos a nós próprios de correr riscos?

Acabamos por classificar os outros como "certos" ou "errados", deixando pouca margem de manobra.


Tudo isto leva a
:

- Um fraco investimento nas relações;
- Uma dificuldade imensa de compromisso;
- Uma não aceitação de responsabilidades – pois, isso, responsabilidade;
- Um desejo intenso de “não falhar” – no, not again!

Consequências:

- Exigimos alguém que preencha uma série de requisitos, que têm de ser “picados” um a um em semanas, para aferirmos a qualidade do espécime;

- Desanimamos ao mínimo sinal de defeito, pomos de parte à mínima saída infeliz;

- Não damos tempo para que haja um amadurecimento da relação, que tem um tempo variável de gestação e crescimento, mas não, damos connosco a sermos impacientes e querermos as coisas para ontem.

Conclusão:

Queremos tudo e damos pouco, ou seja, procuramos o máximo lucro com um investimento mínimo.

Mas a vida não é uma lotaria e, mesmo essa, é só para quem joga e as probabilidades de ter de um prémio que se veja são escassas.
As oportunidades não aparecem por si só, implicam uma boa dose de trabalho!

18 comments:

Meia Lua said...

Eva!!! ainda agora publiquei um post sobre o Amor Perfeito hehehehe. Claro que sob a minha perspectiva
Afinal o quê procuramos nós? às vezes penso que não sabemos....
;) beijinho grande :*

Eva Shanti said...

Meia Lua,

O "ser perfeito", o "amor perfeito"...

Ó tema inesgotável!

;)

Bjs

Desconhecida said...

Eu sou das que dá tudo, mas também quer tudo.
E sim, é verdade, muitas das vezes existe um "desencontro", como o que falas...há sempre um senão, ou há quimica e pouco mais, ou há mais e nenhuma quimica. É lixado...

greentea said...

os relacionamentos são sempre investimentos que se fazem

Unknown said...

Meu deus... fiquei muito assustado depois de ler isto.
Ou seja, um tipo como eu está desgraçado.
É que todas as características para um espécimen (é lindo, acaba em men) ter alguma possibilidade de sucesso entre as tipas mais urbanas e sofisticadas, resume-se a ter carreira, dinheiro e bom aspecto.
Ora para se ter carreira e dinheiro em Portugal ou se é um grunho ou... um grunho.
Raros são os fulanos que têm carreira slash dinheiro e são cultos ou interessantes.
Não é imcompatível, mas é muito difícil.
Por isso é que as tribos serão sempre as tribos.
E por isso é que Portugal continuará a ser um país de bimbos, trogloditas e cromagnons... mas, e atenção damas, com um fatinho e um beemer.
Meu deus... fiquei triste.
muito triste.

Isabel Filipe said...

Oi Eva,

Tudo bem?
Não há relações perfeitas...se as queremos manter...há que investir nelas...há que dar...para receber...
é a minha opinião..

Beijinho

Eva Shanti said...

Xá,

Fiquei chocada com o teu comentário!

Obviamente que vou exercer devidamente o meu direito de resposta.

Bjs

Mocho Falante said...

é...anda meio mundo a desejar outro mundo que não é o seu e ainda por cima esqecemos que quanto mais procuramos menos se encontra...e às vezes a felicidade está ali ao lado, vestido de calças de fazenda e de camisa saloia, mas o esteriotipo tem tanta força que nem permitimos sequer colocar a hipotese de dizer olá a quem pode na realmente vir a ser a nossa cara metade, porque isso seria uma dura batalha de convencer ao nosso grupo que de facto encontramos o parceiro fora das regras estabelicidas...somos muito estranhos realmente!

Beijocas

Parrot said...

É claro que somos influenciados pela sociedade tão competitiva em que vivemos, e isso tem reflexo em algumas relações. Já tive oportunidade de dizer que o segredo está no dar-se (com limites). Quando se anda demasiado preocupado em encontrar....pode acontecer como os óculos de sol. Às vezes corremos a casa à procura dos óculos....é temo-los postos na cabeça.

As pressas são inimigas dos bons negócios....e dos bons relacionamentos.
Estas coisas não se "buscam", encontram-se.

Beijo

CS said...

Xiiiiii! O que para aqui vai...

Bom... é como eu sempre digo, repetindo um amigo meu: isto das empatias não é quando a gente quer, é quando Deus (ou a Providência, para os ateus) quiser...

Quanto ao esforço, seguramente, seguramente...

[A] said...

olá Eva!!!li com atenção o teu texto...felizmente em toda a regra há a excepção!!! e nesse cenário, faço orgulhosamente parte do 0,001%...rs.Quero acreditar que não seja tanto assim...
bjs

Parrot said...

A procura de um mundo mais perfeito, também passa por pequenas lutas.....estás convocada a contribuir .

Anonymous said...

.. Eva .. sempre aquela questão .. e se o coração tem razão .. e se não tem? muitas vezes cingimo - nos ao limite mais próximo e familiar .. temos medo de voos picados sobre o desconhecido .. quantas vezes já pensei: será que isto que estou a fazer sou eu? .. será que a estabilidade é tudo .. que a vida é tão frágil para deitar tudo o que construímos borda fora .. Às vezes mais vale fazer de conta que está tudo bem .. não vale a pena inventar ..

Eva Shanti said...

Desconhecida,
Mocho,

O ser humando é mesmo complexo e eternamente insatisfeito!

Greentea,
Isabel,

Sem dúvida que as pessoas têm de estar conscientes que é necessário empenho e investimento numa relação.

MP,
Parrot,
Ana,

Tal como tudo na vida, é necessário uma factor "sorte", uma confluência de condições que proporcionam uma situação ou acontecimento - tão bem explorado em MATCH POINT de Woody Allen. No entanto, tudo implica um esforço e cooperação da nossa parte.

Xá,

Sensibilidade e bom senso são duas característas que reúno. Além de as ter potência, tenho a preocupação de as desencolver e trabalhar constantemente. Não é presunção é uma auto-crítica consciente.

Nada do meu texto refere que as mulheres procuram homens com recursos, que não passem de umas interesseiras e que elegem como parceiro quem lhes proporcione um determinado tipo de vida. Também não é focado que qualidades procuram os homens nas companheiras.

O texto respeita quer a homens quer a mulheres, independentemente da sua orientação sexual. É humano querer-se amar e ser amado, ter estabilidade emocional, um equilíbrio entre afecto e profissão.

A questão aborda é a influência da sociedade em que estamos inseridos, que nos pressiona tremendamente no sentido da realização/ sucesso profissional, na vida pessoal e afectiva.

Aceito críticas e não estou à espera que o mundo inteiro concorde comigo. Muito pelo contrário, gosto de saber o que pensa quem discorda de mim. Só peço que seja uma crítica bem feita e construtiva, pois de outra forma, não vale a pena.

Sérgio,

Há quem defenda que a vida é mais simples quando pensamos menos nela.

Eu defendo que cada uma sabe de si, que a vida é uma aprendizagem constante e individual. Isso não invalida que nos socorramos da experiências e dos conhecimentos dos outros.

Bjs

[A] said...

oh Eva, ainda a propósito do tema...eu percebi perfeitamente as tuas palavras, mas também percebo as do Xá...o k eu acho verdadeiramente, e muito embora seja das 1ªs a defender que cada um sabe de si, é que nisto do amor não se pode ser muito racional, ou não se vai a lado nenhum...concordo plenamente quando dizes que as pessoas investem pouco e que desistem à primeira contrariedade, mas isso porque são demasiado egoistas para amar verdadeiramente...poder-te-ia dar imensos exemplos pessoais do k digo, mas não é local para isso....
acho k o Xa estava a ser irónico, mas a avaliação está infelizmente correcta...mas eu sei que não era disso que falavas...
e pronto,tenho dito!
beijinhos

ordePadamaR said...

Eva, este modelo de vida não dá para ninguém - a única excepção são os Japoneses, mas para eles a competição começa no jardim-escola.O que retiramos daí é que são um povo onde o suicídio e os comportamentos anti-sociais, são acontecimentos recorrentes.
Não quero essa Babilónia para mim !

A nossa responsabilidade ?

Como não nos conseguimos sentir bem num modelo como o que descreve, a solução é geralmente culpabilizar alguém..e os alvos são geralmente os que estão mais próximos..depois é uma espiral de incompreensão e mútuo ressentimento.

Para não entrar na «máquina de lavar» resta-nos dosear o esforço na medida da recompensa, sem que o nosso empenho profissional ou pessoal, ou social, saia prejudicado. Ninguém deveria entrar em causas a 100%, porque deixa de haver espaço para outros interesses e prazeres, acabando nuna qualquer forma de obsessão.

O mesmo se aplica ás pessoas que se metem em tudo e mais alguma coisa..se bem que conheço algumas que são assim e são óptimas em tudo o que fazem. Mas pagam o preço..de não olharem para elas próprias, de iludirem muitas vezes o seu interior, adormecendo-o..até um dia (as doenças psicossomáticas..).

Se não nos habituarmos a perceber o que se passa no nosso íntimo, só nos conseguimos ver a reagir, quando o que devemos procurar fazer é agir.

Os afectos, são uma consequência do nosso estado interior. Dele depende a nossa capacidade de atracção, sedução e disponibilidade para o envolvimento numa relação.

A felicidade é um pouco isso..habituarmos o nosso íntimo a desenvolver as respostas emocionais adequadamente positivas, conducentes a um nivelamento dos picos – para quem viu “What Bleep Do We Know ?” sabe que este condicionamento químico do cérebro é uma realidade.

Se assim não for, entramos num mundo de predadores e de presas, que serve apenas para mitigar as dores do momento..até ao próximo momento fugaz de prazer, como junkies do sexo.


Uma nota sobre a selectividade e a escolha de parceiros.

A selectividade é uma característica marcadamente feminina, consequência do maior investimento parental da mulher. O homem tem maior flexibilidade, consequência do menor investimento parental. O homem pode tomar conta do ciclo reprodutivo de uma só mulher, privilegiando uma estratégia de longo prazo e assim criando uma prole ou optar por manter uma estratégia de curto prazo e criar a sua prole fundando maior número de agregados. Isso tem custos muito superiores para a mulher, daí que sejam situações menos frequentes.

Estes são condicionalismos psicológicos a que nenhum de nós escapa, podendo ser potenciados por factores próximos como os recursos económicos disponíveis, status, ideal de beleza e atracção física, ou mais subtis, como troca social -menos custos maiores recompensas, efeito de similaridade ou de complementaridade, entre outros..

Uma coisa é certa, “It takes two for tango” e não podemos esperar ir buscar ao outro coisas que devemos encontrar em nós.

Unknown said...

Muito bem, já (des)conversámos sobre isto.
De qualquer forma continuo, infelizmente, na minha.

Eva Shanti said...

Agradeço a todos os contributos para a discussão de ideias que suscitou o meu texto.

Deixa-me satisfeita o facto de notar da vossa parte uma leitura atenta e uma preocupação de críticas construtivas e que demonstram interesse pela questão: afinal, o que procuramos nós? Qual o grau de exigência que temos dos outros e do mundo? Até que ponto o meio que nos envolve justifica a dificuldade em estabelecer relações estáveis e satisfatórias?

Mesmo não concordando com tudo o que foi dito, acho que se proporcionou um debate interessante e que aqui fica registado para todos os que a ele queiram aceder. Não trazendo propriamente as respostas, levanta questões. Um bom início de reflexão...

Bjs