Saturday, January 07, 2006


Os porquês não têm idade...
Sou uma curiosa e uma estudiosa das relações humanas, em especial, dos sentimentos e das emoções gerados pela atracção sexual e pela influência do sexo na forma como nos relacionamos uns com os outros - palavra «sexo» aqui utilizada no sentido de género masculino ou feminino.

Também por defeito ou por feitio, passo a vida a questionar-me sobre tudo e mais alguma coisa, pelo que poderia definir a minha forma de estar na vida como uma busca constante de respostas. Claro que quando me dou por satisfeita com uma resposta, obviamente surge uma nova pergunta, e assim sucessivamente.

Há quem busque Deus uma vida inteira, eu penso que hei-de questionar o que quer que seja até ao fim dos meus dias. Nem sempre é importante o encontrar das respostas. Por vezes, é o formular da pergunta que importa ou então a descoberta de parte da resposta, se não mesmo, da nossa resposta que pode não ser exactamente a mesma que a do outro…

Amamos da mesma maneira? Há maneiras diferentes de amar? Podemos amar de pessoas diferentes de maneiras diferentes? De que forma amo o outro? Será que a minha forma de amar não é a mais correcta ou é a escolha sabe-se-lá-porquê das pessoas com quem tive relacionamentos que não foi a adequada? Ou será a característica feminina de achar que se tem sempre a culpa quando um relacionamento termina? Atenção, que disse «termina» porque intencionalmente não quis utilizar «falhado».

Nesta incessante busca cheguei a
The colors of Love: An exploration of ways of loving de John Allen Lee, psicólogo canadiano. Lee propõe um sistema pensado para clarificar os estilos que cada um de nós tem de amar. Precursor de outras reflexões sobre o tema, inovador na forma como o teorizou, Lee baseia-se em três estilos principais de amar – Eros, Ludus, Storge – partindo depois para três estilos menores que não são mais do que combinações entre eles, resultando em Agape, Pragma e Mania.

Passo, pois, a explicar...

Eros – a paixão romântica; envolve uma forte atracção física e desejo sexual; poder-se-á relacionar com o «amor à primeira vista»; é um sentimento intenso, irracional, que acontece de repente e que pode terminar de modo abrupto; não importam as consequências, pois o importante é ser-se correspondido; o compromisso e a intimidade são valorizados.


Ludus – O amor é uma brincadeira que, as mais das vezes se reduz a uma noite; jogador por excelência, para o típico ludus há que conquistar, é esse o seu desafio; avesso a compromissos, pode cultivar várias relações ao mesmo tempo; separa perfeitamente sexo de amor e, mesmo durante uma relação duradoura, procura encontros fugazes; ênfase na sedução e na ideia de liberdade sexual.

Storge - O amor-amizade; neste estilo de amar é valorizada a confiança mútua, o projecto de vida em comum; é um romance que começa de forma gradual sem que os intervenientes saibam muito bem identificar o seu início; mais do que a atracção física, é relevante a tranquilidade e a afectuosidade; descreve um relacionamento estável e comprometido, sem paixão, entre duas pessoas que gostam muito uma da outra, que partilham valores, interesses e objectivos.

Agape (= Eros+Storge) – Do grego altruísmo, generosidade, a dedicação ao outro vem antes do seu próprio interesse; é um investimento total numa relação, mesmo sem se ser correspondido; é viver em função da felicidade do outro o que, num limite, pode implicar a renúncia ao parceiro na convicção de que este será mais feliz ao lado de outra pessoa.


Pragma (= Ludus+Storge) - tal como numa lista de compras, é preciso determinar com precisão de os requisitos procurados no outro estão preenchidos, se vale a pena investir na relação ou não; o lado prático do indivíduo condiciona o seu envolvimento no romance, pois trata-se de um puro cálculo de ganhos versus perdas.


Mania (= Eros+Ludus) – Amor-obsessão; nunca se é amado pelo outro o suficiente, pelo que são exigidas provas de amor constantes e inesgotáveis; pânico do abandono; relacionamento que oscila entre o «estar nas nuvens» e «no fundo do poço»; relação caracterizada por ciúme desmesurado e possessividade.


Terão os relacionamentos maior probabilidade de resultar e de serem duradouros se entendermos a forma como amamos? Ou se percebermos a forma como o outro nos ama?

Parece-me um importante ponto de partida. Na verdade, se está estudado que há diferentes formas de liderança, que se deve adequar o estilo de liderança aos membros da equipa, que todos nós temos diferentes modos de trabalhar, competências diversas e experiências de vida que condicionam a nossa forma de nos relacionarmos no mundo do trabalho, porque não estender de forma analógica e mutatis mutandis o que já está testado no terreno laboral aos relacionamentos amorosos?


Um teste engraçado...

Pistas para alguém que queira aprofundar o seu conhecimento sobre si mesmo e a sua forma de amar.

Foto: you find love in the most unexpected places by aWee in http://www.flickr.com/

31 comments:

Sukie said...

O amor é realmente um mistério. Eu acho que não existe uma definição universal, cada um vê e sente o amor da sua maneira...O importante é amar. Bjs.

Eva Shanti said...

moonj_Rita,

Andava eu aqui às voltas com o html, mas o teste já está disponível!

100% de acordo:

- o amor é um mistério;
- há várias formas de amar;
- desde que de forma saudável e não doentia, o importante é amar!

Bjs

Eva Shanti said...

JG,

No meu caso, catalogar é defeito de formação. No entanto, as coisas têm de ter nomes e é inevitável rotular, catalogar, ainda que de forma inconsciente, pois precisamos de saber com o que contamos, precisamos de identificar as coisas e os sentimentos também.

Ora bem, quanto a todas as questões que levantas:

- O amor como sentimento é único ou evolui conforme a relação também evolui;
- Mudam as pessoas com o tempo e muda também a forma de amar, a forma de sentir?
- Infidelidade (há quem prefira outras designações), porque acontece?
- Vivemos na era da monogamia sequencial ou poligamia sequencial?
- Que alternativas de relacionamento existem? Relações abertas, troca de casais ou swing, união de direito, união de facto...?

Bem, é só material e material para «postar»! Brevemente, e aos pouquitos, aqui neste «paraíso», a Eva irá atrever-se a mandar as suas postas de pescada...

Obrigada e Bjs!

Eva Shanti said...

Pelo desculpa! Ig e não jg...

:)

Meia Lua said...

Que existem muitas formas de amar, isto é certo!
Tentarmos compreendê-las também é um passo importante.. Mas quando se ama alguém, não pensamos em nada! O racional fica muito limitado e por mais sabedoria que tenhamos...o coração está sempre lá a mandar!
Excelente texto! Vou já fazer o teste ;)
beijinho

Eva Shanti said...

Meia Lua,

Pois é, para algumas pessoas, o coração é que manda e mainada! Já outras conseguem ser mais racionais nestas coisas do amor.

Eu não fiz o teste. Há quem esteja «between jobs», expressão muito mais simpática e adequada do que o português «desempregado» e eu posso dizer que estou «between relationaships» ou algo do género. E não sei quanto tempo isso irá durar, nem tão-pouco me preocupa.

Estou numa fase de auto-descoberta e parece-me que tenho de fazer um corte com o passado, com uma história de amores impossíveis e de homens emocionalmente indisponíveis... Quando chegar a altura farei o teste, ou talvez não, porque já terei tirado as minhas conclusões...

Bjs

Parrot said...

Eva,
Muito interessante, aliás como a grande maioria dos que escreves.
As dúvidas que levantas, penso que nunca estiveram tão actuais como agora.

O amor é um mistério, e penso que é por ser um mistério que todos o buscamos. Agora penso que é uma palavra uma palavras com um significado claro mas muito próprio de cada um. Amar assume muitas formas e algumas delas que não consigo compreender....

Para mim AMAR...é dar-se. É tão simples, e ao mesmo tempo tão difícil....

Beijo

Parrot said...

Eva,

Obrigado pelo link

Beijo

aDesenhar said...

olá eva

por falta de tempo para uma boa e adequada leitura do teu post, vinha apenas dizer-te que já respondi ao teu mail sobre o html e + ajudas suplementares.

:)
bjs

JNM said...

obrigado.

Este método para perecebermos o relacionamento de cada um é soberbo.

Beijo

Esplanando said...

Não rejeitando a ideia, acho que sistematizar o Amor em tipos de amor parece-me algo estranho.
Acho que a questão aqui é que as pessoas são diferentes e olham o mundo e os relacionamentos de forma diferente.
O que é para mim uma atracção física pode não o ser para outro. O que é para mim uma "amizade colorida" (embora não goste deste termo) pode não o ser para outro. O que é um caso para mim pode não o ser para outro. E, finalmente, o que é Amor para mim pode não o ser para outro.
Para mim o Amor é um estado de alma... julgo (espero) poder reconhecê-lo quando acontecer... já que, como nos dizem, o amor acontece!

Isabel Filipe said...

Eva...

Não conhecia...gostei de ler...e...gostei do Eros...

claro que há diferentes formas e amar...

Beijinho e boa semana

Eva Shanti said...

Parrot,

Obrigada pelas tuas palavras.

«Para mim, amar é dar-se» - Lindo!

Só vejo um problema aqui: há formas de nos darmos aos outros que não são saudáveis, que nos diminuem enquanto pessoas.

Dou dois exemplos muito concretos:

- Mulheres que aceitam prostituír-se, pois fazem-no em nome do Amor, e acham que essa é uma maneira de se darem a quem amam;

- Homens que vivem para o trabalho para que o levam para casa ao fim do mês justifique que a companheira que escolheram não os abandone. É o caso espelhado em 2 canções, mais precisamente a célebre e velhinha canção de «A Hard Day's Night» de Lennon& McCartney, ou «Everything She wants» dos Wham.

Passo a transcrever:


It's been a hard day's night, and I been working like a dog
It's been a hard day's night, I should be sleeping like a log
But when I get home to you I'll find the things that you do
Will make me feel alright

You know I work all day to get you money to buy you things
And it's worth it just to hear you say you're going to give me everything
So why on earth should I moan, 'cause when I get you alone
You know I feel ok

Letra completa em:
http://www.geocities.com/SunsetStrip/Palladium/7821/hdn1964.html#01

Some people work for a living,
Some people work for fun,
Girl, I just work for you.
They told me marriage was a give and take,
Well, show me you can take you've got some giving to do.
And now you tell me that you're having my baby,
I'll tell you that I'm happy if you want me to...
One step further and my back will break,
If my best isn't good enough
Than how can it be good enough for two?
I can't work any harder than I do...

Letra completa em:
http://www.sing365.com/music/lyric.nsf/Everything-She-Wants-lyrics-wham/3D31A8786B857CE948256862001132B4

Bjs e continuo e conto com o teu regresso aqui ao «paraíso»...

Eva Shanti said...

Adesenhar,

Tempo é sempre aquele recurso escasso que procuramos gerir como podemos e como sabemos...

Muito obrigada pela dica. Eu como sou um bocado crominha, gosto de experimentar coisas a ver se dão. Se tiver dificuldades ou dúvidas, agradeço a possibilidade que me deste de poder bater à tua porta.

Bjs

Eva Shanti said...

Ahraht,

Deixaste-me sem palavras... Fico feliz que tenhas gostado.

Bjs

Eva Shanti said...

Isabel,

Conforme nossa anterior conversa, a génese deste post está na leitura das págs. 80 e ss. do livro «Mulheres que Amam Demais» de Robin Norwood.

Embora as ideias me pareçam extremamente correctas e acertadas, para além da forma clara com que a autora as expõe, as definições que dá de Eros e Agape não são as melhores, ou seja, quanto a Eros tudo bem, quando a Agape RB está a referir-se a Storge, no meu entender.

No fundo, é uma questão de nomes!

Eros e Agape, Eros e Storge... Hei-de voltar a este tema...

Bjs e obrigada!

Eva Shanti said...

Esplanar,

Conforme disse a Ig, e repetinfo-me, «No meu caso, catalogar é defeito de formação. No entanto, as coisas têm de ter nomes e é inevitável rotular, catalogar, ainda que de forma inconsciente, pois precisamos de saber com o que contamos, precisamos de identificar as coisas e os sentimentos também.»

Concordo com tudo que dizes. No entanto, vou socorrer-me de Robin Norwood, e citar as suas sábias palavras:

«Penso que a aparente dificuldade em definir o amor se deve ao facto de, na nossa cultura, procurarmos combinar dois aspectos diametralmente opostos, e até mutuamente exclusivos, numa única definição (RB está a referir-se a Eros e a Storge, que identifica como Eros e Agape). Assim, quando mais falamos sobre o amor, mais nos contradizemos e, quando nos deparamos com um aspecto do amor em confronto com outro, desistimos, confusos e frustrados, decidindo que o amor é demasiado pessoal, misterioso e enigmático para que possamos defini-lo com precisão».

Bjs

Eva Shanti said...

Querida Su,

O teu mail merece um agradecimento público.

Fico feliz que o meu post te tenha feito recordar a teoria de Lee, também conhecida como a teoria das cores e a teoria triangular de Sternberg como modelos para entender o amor.

Um dia destes atrever-me-ei a falar de Sterberg. Está prometido, só não sei é quando...

Bjs...marados!

Unknown said...

Olha que gostei das nomenclaturas e até acho que 80% das pessoas que amam ou são amadas, são perfeitamente catalogadas por estes 6 géneros.

Se calhar até vou fazer o teste...

Living Place said...

Se alguém souber definir correctamente o Amor, então o Amor deixou de o ser.
Para mim é algo que não se explica, sente-se.... eu sou das antiquadas...
Mas também concordo que aprendemos muito com as questões que fazemos a nós próprios ou aos outros e essa tua busca de tudo e de questionar tudo, só te enriquece como pessoa.

P.S. os teus posts estão cada vez melhores. Parabéns

Eva Shanti said...

Xá-das-5,

Atreve-te a fazer o teste. Mais, atreve-te a confessar-me os resultados...

Bjs da Eva curiosa

Eva Shanti said...

Musas,

Nem sabes como fico satisfeita pelas tuas palavras, ainda por cima, vindas de quem vêm. É que gosto muito de ti, sei que andas com pouco tempo para as tuas coisas, quanto mais para aturar esta Eva e as suas dúvidas insanáveis...

Bjs

Milan said...

Interessante texto e links para a deliciosa tentativa de sistematizaçao das relaçoes amorosas. Tenho é a impressão que teriamos de colocar uma série de categorias mais ali :)))

Eva Shanti said...

Milan,

Obrigada pela tua visita.

Lembras-te dos guaches e das cores que fazíamos nas aulas de desenho? Aqui é um pouco assim. Lee parte das cores primárias ou amores primários (Eros, Ludus e Storge) para com a combinação destes chegar a mais três amores secundários (Pragma, Mania e Agape).

Acho que no essencial está completa, pode é haver tons mais fortes e tons mais claros (aqui entram os guaches branco e preto, certo?)

É uma teoria, que acho interessante, mas não a única sobre estas coisas do Amor...

Parrot said...

Eva,

"Dar-se" significa:
- Não esperar nada em troca.
- Respeitar
- Respeitar-se
- Compartir
- ....

Beijo

wind said...

Depois de ler todas estas coisas sobre o amor, acho que cada um o sente à sua maneira, logo, não se explica. Agora, tem de haver conta, peso e medida. beijos

Desconhecida said...

Sabes Eva, parece-me que pelo que li aqui da tua descrição de ti própria, somos parecidas nos interesses...
Quanto ao sentirmos todos o amor de igual maneira é um tema interessante. Tenho até um pequena interregação/Post que escrevi há pouco e que irei publicar mais à frente.

Beijos

Eva Shanti said...

Wind,

O amor lá se vai explicando, daí até as explicações serem satisfatórias é que vai outro passo...


Desconhecida,

Fico a aguardar esse teu post. Estou curiosa...

Bjs

Leonor said...

tal como tu tambem sempre me senti atraida pelo questionamento constante. a partir de uma certa idade tambem cansa porque o fisico ou a mente, um dos dois ja nao aguenta tanto desassossego.

bom! mas eu sempre achei que o significado amor era dos mais incontrolaveis e dificeis de explicar. e quanto a isso penso que camoes o faz na perfeiçao.

mas nao deixam de ser interessantes estes pontos de vista pelo que voltarei para ler uma segunda vez.

gostei muito do teu artigo

beijinhos da leonoreta

Eva Shanti said...

Leonoreta,

Tão bem lembrado o nosso Camões, que não posso deixar de reproduzir:


Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Luís de Camões

Bjs

Unknown said...

Olha... sou um Lúdico Pragmático...

E tal como eu dizia, muito do que está descrito não vai contra aquilo que eu sou.

É, este teste até que cobre uma vasta área populacional...
:)