Tuesday, January 17, 2006



O sexo e as cidades

Lisboa, Madrid, Paris, Londres, Amesterdão, Berlim… NY, Toronto.

De cidade para cidade, na cultura ocidental, não hão-de ser assim tão diferentes os desejos e anseios das pessoas. Ainda que as formas de corte possam ter as suas nuances, no fundo o que todos procuramos é: o amor, o amar e ser amado.

O sexo pode ser um meio e um fim, ou seja um instrumento que nos serve para alcançar um determinado objectivo ou ser o próprio objectivo. É uma questão de perspectiva. Fruto da vontade ou da situação em si, chegamos ao sexo porque:

- Nos apeteceu;
- Se proporcionou;
- Queremos algo em troca;
- Queremos celebrar o amor.

As duas primeiras razões são exemplo do sexo pelo sexo, casual sex ou one night stand, o chamado «sexo sem consequências». Nada podia ser mais enganoso: sexo tem consequências! O envolvimento emocional pode ser mínimo, mas dentro de nós algo muda e, às vezes, só mais tarde damos por isso.

O sexo pelo sexo pode ser uma forma de estar na vida. Recordo o típico ludus (termo grego de significado idêntico ao latim ludu, jogo), o sedutor que apenas vive do prazer do momento, que se importa só com o presente sem pensar muito no amanhã; mesmo no seio de uma relação duradoura, procura encontros fugazes, nem que seja para tentar provar a si próprio que é sexualmente livre. Longe de quaisquer julgamentos ou valorações de conduta, é apenas uma forma de estar na vida, só isso.

O sexo com o intuito de receber algo em troca é, para mim, a pior das modalidades. Não quer significar a venda do corpo, que essa é uma transacção comercial discutível e considerada como negócio ilícito na maior parte do mundo. Também não tem a ver com o pagamento de favores, que essa é, para mim, outra forma de transacção, muito embora já fora do conceito de «prostituição»,
que implica dinheiro. O grave está na utilização do sexo como meio de busca de afecto. Penso que seja um erro tipicamente feminino o querer conquistar um homem através do sexo, conseguir que o envolvimento físico acarrete o envolvimento emocional.

O sexo como celebração do amor é a partilha de uma alegria transbordante de duas pessoas que vivem um momento muito seu e único. Mais do que dois seres se tornarem um só a nível do corpo, é um estado em que a nível do coração também se unem, temporariamente.

Sexo com amor significa que existem dois planos: um físico e terreno, outro espiritual e transcendente. É a forma de dois seres exteriores encontrarem a sincronia interior, atingindo a iluminação, o orgasmo como hiperconsciência, o samadhi – palavra do sânscrito que significa estado de graça, identificação com o Absoluto. O atingimento deste estado implica tempo, investimento numa relação. Não se pode exigir tudo na primeira vez que temos sexo com alguém, ainda que já existe algum envolvimento emocional.


Acredito que bom sexo é uma consequência de uma boa relação amorosa. É ter experiências diferentes com a mesma pessoa, em vez de ter a mesma experiência com pessoas diferentes.

Alguém disse-me: «Sonha-se muito, mas depois é raríssimo encontrar algo ou alguém que preencha esse desejo».

Presumo que por «algo» se deva entender um sentimento, uma forma de amor que julgamos a ideal, que perseguimos toda a vida e que achamos que é para só alguns.

«Alguém», o deus ou deusa que nos faça sentir esse milagre, esse «desejo».

Será que existe esse amor divino? Não será essa perfeição do amor romântico algo inatingível e inibidor de potenciais relacionamentos, estes mais humanos, menos perfeitos, mas mais viáveis…?

Como sempre, tenho muito mais perguntas do que respostas. Por isso, socorro-me das palavras sábias de um homem notável, visionário, polémico, até mesmo utópico. Concorde-se ou não com muito daquilo que disse e que os seus alunos transcreveram, aqui fica um pedaço da sua imensa sabedoria:

«A interdependência acontece muito raramente, mas sempre que acontece cai na terra um bocado do paraíso. Duas pessoas nenhuma delas independente ou dependente mas numa sincronia espantosa, como se respirassem uma pela outra, uma alma em dois corpos – sempre que isso acontece, o amor aconteceu».

Osho, Maturidade, a importância de ser autêntico.


Ilustrações: Fringe Postacard de Kevin Thom em www.kevinthom.com; Capa do Livro Sex and the City de Candace Bushnell; imagem do Kama Sutra

29 comments:

wind said...

Só concebo o sexo com amor. beijos

Eva Shanti said...

Este post vem na sequência de alguns comentários ao que foi publicado a 4/01/2006.

Está assim aberta mais uma discussão...

Bjs

Meia Lua said...

Como referiste no teu post, existem muitas maneiras...
Mas a explicação que mais gosto é aquela em que pelo sexo, duas pessoas tornam-se uma, e atingem assim o seu mais elevado nível espiritual. Naquele momento nada existe, só dois seres que se querem tornar um! Momento pleno do Universo que não deixa uma só folha cair sem que para isso tivesse conspirado... (acho que estou um bocado romântica hoje :D)
beijos

Eva Shanti said...

A maneira como cada um encara o sexo é sua, não é de mais ninguém.

Não é para ser julgada nem criticada.

Bjs

CS said...

Muito bem, amiga! Assunto importante, muito bem abordado!

Só duas provocações: 1.º) «Sonha-se muito, mas depois é raríssimo encontrar algo ou alguém que preencha esse desejo», diz o xá das cinco... Não acontece, às vezes, exactamente o contrário? Encontramos alguém e logo começamos a "sonhar" que está preenchido o desejo? : )
2.º) Enquanto não encontramos o "sexo como a celebração do amor" não é o sexo, à parte as situações de acasalamento mais rudimentar, sempre uma coisa boa? ... como celebração da cumplicidade que, às vezes, se gera entre duas pessoas, como celebração de uma alegria comum... Serão todos os "one night stands" incondicionalmente de condenar? Ou, de outra forma, obedece o amor a criterios temporais?

(Eram estas as minhas perguntas, muito obrigada $)

Eva Shanti said...

Minha querida Maçã,

Estava eu a pensar dormir sobre o assunto, mas... ainda que apressadamente, vou dar-te a minha visão sobre o assunto...

Pois bem, quanto à 1ª provocação, concordo inteiramente. Já passei por isso, conhecer alguém e enquadrar esse alguém num sonho que comecei logo a fabricar... Como se já tivesse a personagem e só falta mesmo é o enredo.

Quanto ao 2º, longe de mim condenar todos os one night stand. Desde que as pessoas se sintam bem, estejam mais ou menos sóbrias (lol), saibam minimamente ou que estão a fazer ou saibam que se estão a deixar ir no prazer de um momento, tudo bem.

Um one night stand pode ser o princípio de algo mais, desde que as 2 pessoas estejam no mesmo cumprimento de onde e assim o queiram.

Quanto a mim, sexo como exercício de aeróbica, dispenso. É como a anedota: «beige, vou pintar o tecto de beige...»

Depois há a questão do envolvimento emocional. Até que ponto somos capazes de controlar isso? Já tenho tido algumas surpresas comigo própria. E não én preciso de chegar a haver sexo...

Bjs

Mocho Falante said...

Andamos tão preocupados em definir o sexo que por vezes nos esquecemos do prazer que ele nos dá; seja por uma noite longa, por uma queca fugidia no banco do carro. O sexo é algo muito nosso, pode ser animalesco, romantico, fugidio, mas se for bom é sempre muito bommmmmm.

Não concordo com a Wind, penso que o amor nem sempre tem de estar presente no sexo, mas definitivamente sexo com amor é delicioso.

Beijos

CS said...

Estou esclarecida, muito obrigada, Evinha! Sabes que, às vezes, a gente anda com dúvidas... : )

Dorme bem, amiga!

Eva Shanti said...

Querido Mocho,

Quecas fugidias no banco do carro... Isso era matéria para outro post - Sexo: onde e quando...

E tenho a certeza que não haviam de falta sugestões!

Também há quem diga, que enquanto não encontramos a pessoa que queremos que seja nossa companheira, não há mal nenhum em irmos disfrutados das outras que vão surgindo. É uma questão de nos apetecer e de haver oportunidade.

Eu aqui respeito a opção de cada um.

Mas há sexo pelo sexo. Umas vezes é óptimo, outras nem por isso.

Bjs

Eva Shanti said...

Ó Amiga Maçã,

Não sou dona da verdade!

Mas se V.Exa. ficou esclarecida, ainda bem!

Disponha sempre!

:)

Sukie said...

É bom tratar destes assuntos sem recear. O sexo não deve ser encarado como um tabu.

Esplanando said...

Sexo!
Algo que deveria ter um tratado com simplicidade mas que se torna difícil. E muito se deve à educação que tivémos... aos constrangimentos mentais e físicos que a nossa educação nos impôs.

Sexo... há quem diga que mesmo quando é mau, é bom!
É bem capaz de ser!

Para mim, é possível haver sexo sem amor. Haver sexo com muita cumplicidade e sem amor.

Mas bom, bom é quando há sexo com amor! E quando essas duas pessoas já atingiram um nível de conhecimento tal que as leva a agir sem contrangimentos e sem tabus.

Aí sim!

I N T E I R O S said...

Por isso vem amigo, vem ser
Não há último nem primeiro
Só juntos podemos fazer
Maravilhoso o mundo inteiro

Rosa said...

Eu acho que a própria definição de "bom sexo" é muito relativa. E, por isso, dependendo da perspectiva, pode ou não ser consequência de uma boa relação amorosa, e até ter ou não alguma coisa a ver com amor.

Anonymous said...

Adorava ver o Sin City na SIC Radical!

Desconhecida said...

O que é bom não é o sexo, é o amante.

LUIS MILHANO (Lumife) said...

Alinho totalmente pelo comentário do Mocho Falante.

Eva Shanti said...
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Eva Shanti said...

Meus caros,

Estou a gostar muito da vossa participação!

Não vou comentar o comentário de A, B ou C em particular.

Acho que há por aí conclusões muito interessantes que merecem uma outra reflexão... Por isso mesmo, é minha intenção pegar em algumas ideias e.... fazer novo post!

Não vai ser publicado «já a seguir», porque estas reflexões precisam de tempo e inspiração.

Todas as contribuições são bem-vindas!

Obrigada a todos!

Bjs

Living Place said...

Olha, cá para mim tinha-me feito jeito este post hà uns anos atrás, quando o meu filho com 6 anos me pergunta:
- Mãe o que é SEXO?
(eu cá para mim: Marido onde estás?????)
- Olha filho, há o sexo masculino e o feminino.
- Não, não é isso.
(o puto tinha 6 anos... afinal a inocente era eu)
- Bem, a mulher tem a vagina e o homem o pénis.
- Mãe, não é isso...
(bolas e agora?)
- OLha filho, quando um homem e uma mulher vão para a cama e....
- ok ok era isso que queria saber!

........

Voltando ao post.
Sexo com amor é maravilhoso, sexo sem amor, felizmente não conheço... sou das "antigoides".

Mais uma vez, minha querida Eva, Superaste as expectativas... e se o proximo é "onde" eláaaaaa quero saber!
lolololo

Parrot said...

Eva,

Sexo...."... o desejo é soberano e inextirpável, mesmo quando, como dizem os budistas, se converte no seu contrário. Para alguém se poder libertar do desejo, tem que desejar fazê-lo..." é é diferente com sentimento (digo eu).

Beijo


Henry Miller in O Mundo do Sexo

Eva Shanti said...

Continuo a ler atentamente os vossos comentários.

Ou seja, como se costuma dizer, «nada cai em saco roto», por isso, podem ter a certeza de que os vossos contributos merecerão uma comentário adequado em forma de post.

No fundo, gera-se aqui uma dinâmica post-cometários-post muito interessante a meu ver.

Obrigada a todos!

Bjs

Unknown said...

A Maria Pedro tem muita razão no que escreveu. Se bem que eu sou um céptico em relação ao amor (afinal vou já na quinta relação matrimonial e parece que não é desta), sou um fervoroso adepto de toda a relação que nos dê, nem que seja por um minuto, alguma noção de prazer ou felicidade. (atenção que não sou defensor das escapadelas, mas quem sou eu?)
Portanto, sou a favor de todos e quaisquer comportamentos (exceptuando, logicamente, aqueles que são aberrantes ou abusivos - animais, pedophilia, etc) que nos provoquem algum tipo de reacção química.
O sexo é bom. Deixemo-nos de coisas.
Com um ou vários parceiro/as, na mesma altura ou diferentes, à noite ou de manhã, no carro ou fora dele, o sexo é pura e simplesmente bom.
O problema é o que nós pensamos sobre ele e como lidamos com ele.
Li aqui comentários realistas e outros sonhadores.
Mas se estivéssemos bem connosco próprios, ou seja, sem tabús ou vergonhas, se fossemos realmente livres, alguém tem dúvidas que estaríamos sempre a quecar?
O sexo não é o amor.
Se os dois se juntam é pura e simplemente um milagre ou um feliz acaso.
E benditos aqueles que o conhecem,
nem que seja por um minuto.
Muito mais haveria a dizer sobre isto, mas acho que já vou longo.

Eva Shanti said...

Xá querido,

Não foste longo no teu comentário. Diria que foste precioso, a juntar a todos os outros comentários já feitos que, mais uma vez, agradeço.

Bjs

Vespinha said...

Passei para deixar 1 beijinho.
Depois "leio-te" com a calma que mereces!

bj da Vespinha

wind said...

Só te vim dizer que aquela caratonha fica na Av. da Liberdade:) bjs

Nuno said...

Esta coisa de que o sexo à séria tem que envolver amor tem muito que se lhe diga. Aliás, pessoas diferentes realizam-se sexualmente de formas diferentes.

E já que se fala do "Sex And the City", como explicar a personagem de Samantha.

Provocação: Não é verdade que O "Sex and the City" incita o sexo como exercício de aeróbica?

Eva Shanti said...

Nuno,

Concordo plenamente contigo quando dizes que «pessoas diferentes realizam-se sexualmente de formas diferentes».

No Sex & The City, a minha explicação para a existência de uma Samantha é a representação de um esterótipo de alguém que quer exactamente o mesmo que os outros (amar e ser amado), mas que substitui essa falta por uma actividade muito física e evitando qualquer envolvimento emocional.

Sem preconceitos, sem tabus, Samantha preenche o vazio da vida amorosa com sexo.

Mas, quanto a mim, a relação que tem com Richard Wrigth é a prova de que, também ela, precisa e quer algo mais.

Depois há facto inegável de sexo=prazer! E se virmos com mais detalhe, todas as 4 amigas têm histórias de mau sexo, por esta ou por aquela razão.

E todas elas procuram um envolvimento emocional satisfatório. Não é mesmo isso que todos nós procuramos?

Também há a situação, em que o amor não acontece e bora lá entretermo-nos com sexo...

Gostei da provocação ;)

Bjs

Milan said...

Este teu texto deixou-me a pensar... É daquelas coisas que se saboreia vezes seguidas... :)