Tuesday, March 14, 2006

Melting men - Divagações

Mellting Men by Kelsuen

Melting men by kelsyen in www.flickr.com

Não, não gostava de escrever uma história sobre homens que se derretem e ficam reduzidos a poças de si próprios depois de um encontro comigo. Não, é muito dark, digno de um filme de terror. Até agora, todos sobreviveram e estão de boa saúde!

Pode-se dizer que há quem utilize a técnica de levar o outro à exaustão, mostrando inicialmente o seu pior para, numa segunda fase, os (as) sobreviventes que conseguem a proeza de passar duras provas terem acesso ao melhor, ficando a realidade algures pelo meio.

No entanto, de uma forma generalizada, as pessoas centram-se na fase da conquista e mostram, não o seu melhor, mas a ideia daquilo que o outro procura ou espera encontrar. Mais do que o enaltecimento das qualidades, a preocupação é projectar uma imagem que passa a ser tida como o "melhor" ou o "lado bom". Quando, numa fase mais avançada do relacionamento, as pessoas se mostram a si próprias, o outro pensa que esse é o "lado mau", mas não, é apenas a realidade, porque ninguém aguenta uma farsa durante muito tempo sem se mostar tal e qual como é.

No fundo, o que acontece na prática é um investimento grande na fase inicial dos relacionamentos, fase em que se recorre a manhas e artifícios para "agarrar" o outro, como se esse sentimento de posse tranquilizasse a consciência, não havendo descanso enquanto o outro não é um "dado adquirido".

Fica para segundo plano o que é verdadeiramente importante: sermos nós próprios e construir uma relação alicerçada em verdade e sinceridade.

A maioria tem um medo terrível de se mostrar e de se dar, recorre a máscaras e a jogos com medo da rejeição (o que até se pode dizer que é humano, pois faz parte de um instinto de defesa) e, afinal, a rejeição ou a o fim de uma relação acaba por acontecer se tiver de acontecer, mais cedo ou mais tarde, não?

22 comments:

CS said...

Não vou exactamente fazer um comentário mas deixar uma ou duas ideias que o teu post me suscitou, Evinha, tá bem?

Então cá vão as minhas banalidades:

1) Eu mostro sempre o meu lado mais glamoroso aos deconhecidos; não tenho intimidade suficiente com eles para dar mais ou melhor de mim ;)

2) Viste, com certeza, como toda a gente, o Fabuloso Destino de Amélie Poulain. Lembras-te daquela fantástica imagem da Amélie a diluir-se em água quando o seu amado sai do café sem a ver? Representação cinematográfica perfeita da desilusão!

3)Ter medo de mostrar quem somos porque há o risco de sermos rejeitados é inevitável; é sempre mais apelativo encenar quem gostaríamos de ser (é sempre um desafio e os outros também gostam mais). Eventualmente, alguns de nós conseguem mesmo transformar-se...

Eva Shanti said...

MP,

Tá muito muito bem, esta partilha de ideias.

Eu já caí no erro de querer ser aquilo que o outro esperava de mim e não ser eu própria.

Quase nunca me mostro melhor do que sou, faço os desgraçados andarem numa roda viva até ficarem tontos. Todos sobrevivem, mas não comigo...

Tenho um apurado instinto de defesa. Não recorro a máscaras mas se não quiser dar nada de mim não dou mesmo. Consigo ser de uma frieza cortante quando quero. Se calhar é uma forma de máscara, quiça.

Enfim, assumo que sou complicada, que tenho uma personalidade forte e vincada. Não sou fácil... Mas até sou boa pessoa e os meus amigos sabem disso, pelo menos os meus amigos e a minha mãe também e o meu pai (mas neste aspecto, a minha mãe conhece-me melhor).

Bjs

Unknown said...

Olha que belo post.
Tens razão no que escreves e a Maria Pedro também.
Há, realmente, um terror incrível de dar a conhecer os podres a alguém novo.
Talvez venha dos desencantos da adolescência ou é tudo culpa da mãe.

Dou por mim a ser eu mesmo logo no início, talvez enaltecendo as coisas boas que fiz na vida e deixando caír as menos boas.
Não é, de forma alguma, uma defesa consciente. Mas sim algo que cresceu comigo.

Por outro lado, cometo esse erro (não é que tenha falhado em relação às conquistas) de não ser mais calado, mais "misterioso". Não é apenas pq as senhoras gostam, mas sim porque garante uma defesa porreira... se não dermos muito de nós, tb não esperarão muito, não é?

Mas não consigo. Sou como sou. e tenho que viver com isso até ao fim.
Quem gosta gosta.
quem não gosta, raios partam.

Eva Shanti said...

Ai Xá,

Tu e essa coisa freudiana de culpar a mãe pelos males da vida...

Eu acho que é este mundo competitivo e do culto ao descartável que nos torna assim.

Bjs

Abelhinha said...

Esta parte "No fundo, o que acontece na prática é um investimento grande na fase inicial dos relacionamentos, fase em que se recorre a manhas e artifícios para "agarrar" o outro, como se esse sentimento de posse tranquilizasse a consciência, não havendo descanso enquanto o outro não é um "dado adquirido"." fez-me lembrar uma lengalenga que treinei este fim de semana na aula de teatro:

"Pega o porco, agarra o porco, pega o porco para acabar"

Não estou a chamar porcos aos homens... mas é um pouco isso... a malta agarra o outro, pega no outro e de um momento para o outro acabou... tudo porque não havia alicerces

Mónica Lice said...

Parabéns pelo blog!:)

Voltarei em breve!

Abraço!:)

Desconhecida said...

O 4º parágrafo do texto diz tudo! Por vezes a obstinação é tramada!!

beijo

lr said...

Resumindo, se percebi, na fase de sedução, inicial, tudo são "flores"; depois, surgem os verdadeiros "eus"; finalmente, quem supera essas provas, consegue construir um segundo plano, uma relação verdadeira e sincera.
E porque é que mesmo estas acabam? E porque é que muitas outras,ilusórias, sobrevivem?
Não acontecerá apenas que as pessoas vão mudando, e as relações entre elas sofrem mutações? Algumas pessoas são mais persistentes e focalizadas, outras menos; as avaliações de perdas e ganhos afectivas são algo de essencialmente subjectivo. Que diz, Eva?

Esplanando said...

A questão existe... e é verdade! O que é certo é que quando nos interessamos por alguém queremos captar a sua atenção e mostramos o melhor de nós. Não creio que seja um "eu" que não existe, mas será concerteza o "eu" mais esforçado que conseguimos. Depois... depois se a conquista se dá podemos relaxar um pouco e voltar para os níveis do "eu" habitual.
Esta situação pode, muitas vezes, ser mau para a relação... mas também pode ser um excelente ponto de partida para uma óptima relação.

Eva Shanti said...

Abelhinha,

É um pouco essa a ideia presente no post.

Bjs

Eva Shanti said...

Pepe,

Ninguém é de ninguém. Nem os filhos são dos pais, são seres autónomos que seguem as suas vidas que, muitas vezes, não têm propriamente com aquilo que os pais alguma vez sonharam – os pais querem sempre o que acham melhor para nós…

Mas se a criança desde cedo aprende o significado de posse, se é da natureza animal a definição e defesa do território, o certo é que passamos a nossa vida adulta a tentar despojar-nos desse sentido de posse. Nós, adultos, gatinhamos para a nos afastar de um conceito que está incutido em nós, seja pela sociedade seja pela nossa animalidade. Consequência: há quem consiga dar esse passo, há quem nem sequer compreenda que esse é um passo necessário – estou a lembrar-me de quem fica feliz por ter um carro, uma mota e uma namorada (parece ridículo, mas existe e não é pouco), ou dos homens que entendem que a mulher é sua propriedade, com direito de vida e de morte sobre ela…

Eva Shanti said...

A lice,

Adorei a tua “mini-saia”.

Deveras inspiradora!

Tive logo uma catrefada de ideias para escrever!

E adoro coisas de gaja ;)

Bjs e volta sempre

Eva Shanti said...

Desconhecida,

;)

Bjs

Eva Shanti said...

LR,

E que digo eu?

“E porque é que mesmo estas acabam? E porque é que muitas outras, ilusórias, sobrevivem?”

1º) O ser humano é pleno de complexidades e até de contradições.

2º) Não nos relacionamos com os outros de forma igual, tal como podemos “olhar” para o mundo de forma semelhante, mas como indivíduos ninguém é igual a ninguém.

3º) Uma realidade tem sempre várias perspectivas e implica várias variáveis, para além da nossa própria individualidade.
Há milhões de razões para que certas relações sobrevivam e evoluam no tempo, como também há outras tantas razões para determinar o falhanço.

Concordo inteiramente que as pessoas evoluem e, por vezes, dentro de uma relação, não é raro uma evolução em sentidos opostos, divergentes. Há pessoas que se decidem separar, não porque não se amem, mas porque aquilo que querem da vida torna uma vida em comum incompatível.

Há relações que evoluem, passam por altos e baixos (quem não os tem?), mas há um trabalho de conjunto e uma concertação que leva a anos de vida em comum com um saldo extremamente positivo.

Há pessoas que funcionavam bem em conjunto no início e depois não se adaptam a uma vida em comum, pois não conseguem entender-se ou assumir responsabilidades. Basta pensarmos que todas as relações têm um “preço” e aqui falo da influência do €€€ como variável importante e de peso numa vida a dois – um dia destes desenvolvo a ideia.

Sugestão: uma vista de olhos pelo que escrevi a 07/01/2006 com o título “Os porquês não têm idade...”

Bjs

Eva Shanti said...

Terra do Nunca,

Lamento desiludir-te, mas não carrego dor nenhuma, tenho muito para dar e acredito que estou perfeitamente habilitada a dar e a dar-me. Não o faço é sem defesas e a quem entendo que não o merece.

Também não é verdade que a minha exigência seja superior à minha capacidade de aceitar os outros. Aliás, a minha exigência comigo mesma é superior à exigência dos outros.

Quanto à exaustiva racionalização de tudo, não é defeito é feitio.

De qualquer forma, já me chamaste “anjo de contradições” uma vez e podes pensar o que quiseres.

Bjs

Eva Shanti said...

Esplanar,

A questão mais do que o ponto de partida surge com o desenrolar da coisa…

Quando as premissas são totalmente falsas ou vistas como falsas pelo outro que se sente ludibriado, o que vem a seguir não pode resultar.

É humano enaltecer feitos e qualidades. Quando fazemos um CV procuramos demonstrar o que de bom fizemos na vida e as competências que temos – mostramo-nos como solução e não problema. Resultado: umas vezes até superamos expectativas, outras vezes ficamos muito aquém do esperado…

Bjs

Rosa said...

Eu tenho tão mau feitio que nunca o consigo esconder! Já nem me esforço ;)

Isabel Filipe said...

"........A maioria tem um medo terrível de se mostrar e de se dar,...."

para mim...um das principais razões de tanta relação acabar...

beijinhos

Parrot said...

Eva,

Isto é um pau de dois bicos. Estas atitudes que descreves, são próprias dos dois lados certo?

A minha teoria: Se desde o inicio mostramos o que somos....o melhor vem no final.
:-)))

Beijo

Unknown said...

5000, Evinha.
e tu não estavas lá.
logo tu...
:)

Eva Shanti said...

Rosa,

Com sorrisos aos molhos, não acredito que tenhas mau feitio!

;)

Parrot,

Pau de dois bicos talvez não seja a melhor expressão.... Mas sim, é uma característica humana independente do sexo. Mas talvez o sexo feminino tenha mais tendência para se adequar ao que o outro espera, mais preocupação em ser a "mulher perfeita" em vez de ser apenas "mulher", ela própria, sem medo de mostrar o que realmente lhe vai na alma.

Isabel,

O problema é que as pessoas vão criando defesas, anti-corpos e quando nos damos a quem se aproveita disso sofremos sempre. Quem é que não passou por isso? Quem é que não apanhou seu "balde de ágia fria"?

Questão difícil... E nestas coisas não há receitas infalíveis...

Bjs

Spartakus,

;) Obrigada!

Bjs

Anonymous said...

Bem fez as perguntas e deu as respostas...

Mas começa de uma forma aterradora...muitas vezes faceta da realidade;

O que preocupa, nessas formas de conduta tão negativas, é o facto de as pessoas serem ou não conscientes da atitude e acções que desenvolvem.

Prefiro a espontaniedade e naturalidade das pessoas simples que nada procuram e são sempre encontradas pela vida, sim prefiro.

Mas gostei do final, pela dúvida que encerra...

O Sting tem aquela música..."If you love somebody set them free"... que serve no caso de se terminar uma relação.

...mas muitos gostam da ilusão do "é para sempre" ficam prisioneiros e esquecem o aqui e agora, de cada momento.

...mas há os que sabem da impermanência da nossa condição e vivem o aqui e agora de cada momento; muitos desses atravessam a vida e envelhecem juntos.. muitas vezes ?

Acho que esse é o sentido da palavra eternidade, que também pode ser escrita em 4 letras.