Wednesday, February 15, 2006

Prostituição - Outra opinião

phoneboothgirls by marccanter in flickr

marccanter - "phoneboothgirls" in www.flick.com


A polémica instalou-se e entendi por bem mostrar a argumentação de quem defende a prostituição, exactamente por ser uma opinião diferente da minha, espelho de uma mentalidade que também não é a minha.

Afinal, cresci numa Democracia pluralista em que a liberdade de expressão e a liberdade de opinião são direitos fundamentais elencados na nossa Constituição.

A ancestralidade da prostituição é um dado, tal como a ancestralidade do racismo, das desigualdades sociais, da criminalidade. São factos aceitáveis, só porque existem e sempre existiram? Para mim NÃO.

Não vou falar da chamada “prostituição encapotada”, das várias formas que há de troca de sexo por géneros. Essa prática funciona em ambos os sexos, pois há muito rapazola a viver à conta; não são só mulheres as interessadas em contas bancárias chorudas e em estilos de vida apetecíveis.

Falemos de prostituição feminina, pois é nela que se pensa logo que se ouve a palavra “prostituição”.

Há quem veja a prostituição como a protectora da família e do casamento, uma válvula de escape social e, portanto, como válvula reguladora de pressão.

O marido recorre a “profissionais do sexo” e volta todo sorridente e satisfeito para o lar, lar onde ficou a “mulherzinha chata”, de quem ele está farto de olhar todos os dias, aquela que até engordou depois de ter os filhos e o filme é mais ou menos este.

Há “mulherezinhas chatas”? Carradas delas. Há mulheres rezingonas que não facilitam nada e não há paciência para as aturar, nem dos maridos nem de ninguém. Mulheres que acham que “prenderam” um desgraçado com o casamento e com a prole. Isso justifica a prostituição? Para mim NÃO.

Há “homenzinhos chatos”? Eu diria que pouco interessantes, com um comportamento em casa e outro fora dela, que gostam de olhar para tudo o que mexe sem darem valor àquilo que pensam ter, porque o dão como garantido. Isso justifica o recurso a gigolos? Não, ela que se atrevesse. E que não lhe passe pela cabeça a infidelidade! “A minha mulher?! Nem pensar!”

Não, em vez de um casal conversar, encontrar interesses comuns, actividades que envolvam toda a família, de ambos se esforçarem por não olhar só para o respectivo umbigo, de não pensarem egoisticamente nas suas necessidades mas lembrarem-se que há um sentimento que precisa de ser trabalhado todos dias, porque uma união sólida constrói-se e dura aquilo que tiver de durar. Não, recorre-se à “válvula de escape”. E a vida continua, infeliz, aborrecida, sem graça.

Amsterdam18

Luís Vieira - "Amsterdam 18" in www.flickr.com

Mas a coisa não se fica por aqui.

Há quem defenda que os desejos e fantasias sexuais, tidos por moralmente "inaceitáveis", só podem ser satisfeitos por profissionais do sexo e, mais uma vez, cá está a prostituição em defesa da família, da moral e dos bons costumes.

Continuando, a prostituição absorve as taras e manias de potenciais violadores, retirando-os da rua – como se a violação tivesse forçosamente que ver com sexo e não com violência.

Depois ainda temos os deformados, os paraplégicos, os amputados e todos os que não têm outra forma de satisfazer as necessidades sexuais sem ser com a compra de serviços, prestados por profissionais do sexo, claro. Como se estas pessoas não pudessem ter uma vida sexual normal – aqui não posso deixar de me lembrar de todos aqueles que conheço, directa ou indirectamente, que, por infelicidade ou de nascença, são deficientes e têm uma vida normal, sexualidade incluída.

Não podia terminar, sem uma palavra às “seitas anti-prostituição”, esses grupos de falsos moralistas, esses estranhos activistas que insistem em combater o que sempre existiu, que passam a mensagem da prostituta-vítima, que acenam com números e estatísticas e que fazem da “luta anti-prostituição” uma obsessão. Isto quando não é de referir a Dra. Inês Fontinha, com os seus 18 anos de experiência na área, como a pior dessa espécie de “profissionais anti-putedo”.
Madeirense, 62 anos, formada em Sociologia, nomeada para o prémio Nobel da Paz em 2005, foi condecorada por Jorge Sampaio e homenageada pela Assembleia da República com o "prémio de Direitos Humanos".
A directora da Associação "O Ninho" foi homenageada pelo trabalho que desenvolve no apoio às mulheres obrigadas a prostituirem-se e no combate à própria prostituição. É também uma das fundadoras da Federação Europeia para o Desaparecimento da Prostituição.

Todas prostitutas são vítimas? NÃO. O exemplo é a empresária Heid Fleiss, que foi aprender a “profissão” para explorar a sua própria rede. Ela não gostava da prostituição em si, teve foi olho para o negócio. Esteve presa mas, após o cumprimento da pena, montou um negócio de milhões à custa da sua imagem mediática. Quantas Heidi Fleisses há por aí? Quantas são as empreendedoras que se mantêm longe do negócio organizado e vivem sem protecção de um chulo? Não são muitas, de certeza.

Legalização? Essa é outra questão, outra argumentação, outro post. É preciso distinguir o que é abolição, regulamentação, legalização e descriminalização da prostituição. Só depois podemos olhar com olhos de ver a experiência de outros países, nomeadamente a Holanda e como a Suécia.

IMG_4862

TwoCrabs - "IMG_4862", The view from our hotel window at the Ramada Amsterdam - girls working the red light district, in www.flickr.com

25 comments:

CS said...

Red light district? conheço muito bem, sim senhora... ;)


Olha, viste o "Leopardo" do Visconti? O filme é fabuloso por tantas razões!
Em particular, a este respeito, tem uma cena paradigmática em que o princípe (Falconieri, interpretado por Burt Lancaster) conta ao padre por que motivo frequenta uma meretriz: tenho uma mulher - diz ele - que se benze antes de fazer amor e que só diz "Jesus, Maria" depois, uma mulhar com quem tive 7 filhos mas a quem nunca vi o umbigo...
E o padre compreendeu...

Mas isto passa-se na Sícília, em 1860...

CS said...

As fotos estão fabulosas também!

Beijo!

Eva Shanti said...

Querida MP,

Não vi ese filme, mas, tal como disseste isso passava-se 1860.

Acredito que se continue a passar nos meios mais rurais. «o meu marido nunca me viu nua».

Ainda há muito a fazer pela educação da mulher que é condicionada pela moral, pelos bons costumes, pelo que é próprio e o que é impróprio para uma menina. Educação que ainda vinga nas cidades e na província, porque a mentalidade portuguesa é aquilo que se sabe.

Quanto às fotos...

Gosto sempre de acompanhar o texto com imagens que são criteriosamente escolhidas - não te estou a dar novidade nenhuma.

Red light district? Indispensável falar na Holanda e nas zona de prostituição de Amesterdão, cidade que eu adoro!

Aliás, todas as cidades holandesas têm a sua rua de prostituição. É assim que as coisas funcionam lá.

Hei-de falar disso...

Bjs

Mocho Falante said...

Bóm já sabes o que penso deste texto já te disse...

É pena só abordares a prostituição pelo seu lado negro e não conseguires de alguma forma falar de quem veja isto como uma profissão e que goste...pois quer queiras quer não, há quem tenha prazer na sua profissão.

Mas ao menos não voltaste a referir que é uma parafilia...valha-nos isso

beijos

Maria Pedro...Red light district, muito engraçado sim senhor já para não falar dos coffee shops, senão a EVA dá-lhe um treco e aind nos chama depravados lololol

Unknown said...

Ó Eva, esta "outra" opinião é apenas o reforço da existente :)

Eva Shanti said...

Ó Mocho,

Até parece que não me conheces...

Chamar a alguém depravado por causa das coffee shops?

E até parece que eu não fui ver o Red light district in loco? Não agora, claro. Temos pena, que eu adoro Amesterdão.

E digo-te mais, havia montras com gajas de 150 kgs e se estavam lá é porque há procura.

É a procura que dita as regras do mercado. Pode se oferta e não há procura, a oferta morre.

Quanto aos depoimentos de gente que gosta do dinheiro que ganha (não da prostituição), aqui ficam alguns:

"Fui levada pelo meu namorado, que queria me trocar por uma garota de programa. Ele disse que se eu não fosse com ele, podia esquecê-lo. E então ele me apresentou para um empresário rico que pagou R$ 80,00 (oitenta reais) por uma hora de sexo. Assim começou esta minha vida".
Márcia

"Minha primeira vez foi com um conhecido de meus pais; eu tinha 13 anos e ele me queria. Acho que meus pais facilitaram para eu ficar com ele. Ele tinha dinheiro e pagava as contas lá de casa, dizia que eu podia ter muito mais se ficasse com ele. Depois conheci outras garotas que ganhavam dinheiro com isso e me chamaram para trabalhar numa casa de prostituição. Eu fui e hoje faturo cerca de R$ 500,00 (quinhentos reais) por semana".
Fernanda

"Eu tinha uma amiga que freqüentava uma dessas casas e sempre estava bem; eu perguntava como ela conseguia tanto dinheiro e dizia que se eu quisesse também poderia ter o que ela tinha. Um dia eu topei e fui com ela, fiz a primeira vez e estou até hoje. Faço programa há uns 3 anos. O dinheiro que ganho dá para pagar a faculdade, comprar roupas e até para ajudar em casa. Eu sei que alguns pais até obrigam os filhos a se prostituir; não é o meu caso. Eles não sabem o que eu faço, sempre invento uma desculpa para sair e para justificar a grana que entra".
Sheila

"Já pensei em parar de fazer programas, mas não acho um emprego que me pague o que ganho hoje. Quando procuro emprego, só querem me pagar, no máximo, dois salários mínimos. Este valor, as vezes, eu ganho em uma noite, dependendo do movimento. Se for em temporada de férias ou final de semana, o valor é mais alto, pois tem turista que não quer ficar sozinho e paga bem para ter alguém com quem sair".
Karla

"Esse 'negócio' é muito lucrativo. Tem madame que manda me buscar onde eu estiver, só para ter algumas horas de prazer. Eu ganho muito bem fazendo programas. Tenho colegas que ralam o mês inteiro para ganhar R$ 300,00 (trezentos reais), enquanto eu ganho cerca de R$ 600,00 (seiscentos reais) por semana. Estou satisfeito".
José

Mas a minha posição é esta: uma falsa consciência da situação e uma maneira de justificar a venda do corpo como um actividade credível leva-me a desacreditar as opiniões de "profissionais do sexo".

Para mim é a velha história da raposa que perdeu o rabo e diz às outras que o que é bom é não ter cauda e que elas a devem cortar também. As outras raposas ficam tristes, porque afinal a cauda é a parte mais bonita que têm e da qual se orgulham...

Por exemplo, não acredito que no depoimento do José que diz que só trabalha para "madame"... Recentemente foi feita uma reportagem pela SIC sobre a prostituição masculina e todos eles diziam que só atendiam senhoras e só se via os ditos "profissionais" a atenderem telefonemas de gajos. Sò um dosn prostitutos, o único que deu a cara, assumiu não gostar, mas fazer serviços a homens.

Bjs

Eva Shanti said...

jg,

Não defendo as prostitutas-desgraçadas: sou contra a prostitiuição no seu todo.

Estou farta de dizer que apenas 20% da prostitição está nas ruas.
Mas volto a dizer, não é um uso do corpo livre e esclarecido. Cai-se na prostituição como se cai na toxicodependência.

Quanto aos clientes e às razões da existência da procura da prostituição, vou falar nelas.

Sou uma pessoa metódica, por isso tem de ser uma coisa de cada vez e tudo numa sequência que faça algum sentido.

Bjs

Eva Shanti said...

Xá,

Quis mostrar alguns dos argumentos do outro lado.

Não são todos, porque há mais.

Não abdico da minha opinião, por isso não podia deixar de os rebater.

Os meus textos não são simples debitar de informações. São pessoais, são críticos, têm muito de mim.

Podia limitar-me a fazer listas disto e daquilo. Não é isso que quero.

Bjs

Unknown said...

Não disse nunca para mudares.
:)

Meia Lua said...

Tantas faces, vindos de tantos caminhos diferentes quem se prostitui e quem "compra" estes "serviços".
Gosto da tua maneira de escrever, dizer a verdade nua e crua.
E concordo contigo em tantos aspectos...
beijinho

Su said...

gosto de ler-te...sei que já o disse
mas cada vez mais estou em concordância contigo
jocas maradas de tempo

marco said...

VIVA A PROSTITUIÇÃO!!!

Unknown said...

O La Palisse disse isso? Nem parece dele...

João C. Santos said...

queremos a todo o custo justificar a solução para o problema...continuaremos com o problema..
Este mundo é mesmo dos loucos...

Living Place said...

A solução para muita coisa na vida é realmente a partilha de tudo e se o casal não partilha, então para quê estar casado?
Para ter a comidinha pronta e a roupa passada?

Excelente post.

lr said...

só agora encontrei este blog e gostei bastante. se não se importa, vou linkar. de resto, é estranho!, mas subscrevo praticamente todos os conteúdos que li. incluindo este sobre a prostituição. bom fds.

CS said...

Evinha, já que falas em prostituição, vai lá à minha tendinha que lá está um presentinho para ti!

aDesenhar said...

faço apenas um comentário curtinho mas pesado.

150 kgs!
não há engano?

:)

Eva Shanti said...

spartakus,

Obrigada pela visita.

A Desenhar,

Pois é verdade, há montras em Red District Light com todo o tipo de "produtos" que se possa imaginar e para todas as fantasias: enfermeiras, colegiais, professoras, e gordas - daquelas enormes, monstrusosas!

Maria Pedro,

Tenho que pensar no teu caso...

Pandora,

Tu que abriste a caixa dos males e não devias (outra história mal contada para pôr as culpas em cima de uma gaja, mas enfim), sabes bem que no fundo havia a esperança (que eu ainda estou a tentar perceber se era um mal menor ou se estava na caixa por engano).


LR,

Obrigada pela visita e pelo link. É sempre bom ter-se reconhecimento.

Musas e Ana,

Muitos dos problemas passam pela falta de comunicação do casal. Se quisermos ser mais abrangentes, do casal e não só.

Joca,

Os problemas são como os chapéus: há muitos! É complicado haver soluções que agradem a todos e que resultem na prática, mas o pior é mesmo ignorar que há problemas e que eles existem.

Nicolau,

Querido, não te vou levar a sério. Afinal, só podias estar com uma pedra de sono para confundires La Palisse com Lavoisier.

Marco,

No comments, para quem gosta de safadas e de fadas - selectividade não deve ser contigo.

Meia Lua,

Beijo grande minha linda! Mais não digo...


Su,

Obrigada por gostares de me ler... Jocas...maradas

Bjs a todos e bom FDS!

Parrot said...

Eva, minha querida maça,

Hoje não tenho opinião. Penso que foi do temporal e do "maldito" trabalho que teima em andar sempre atrás de mim. ;))

Passei, apenas para te desejar um bom domingo.

Beijo

CS said...

Querida Evinha, tu não me deixes ficar mal...

Também eu pensei no teu caso e, depois de cumprires a corrente dos ódios de estimação, já sei o que vamos fazer juntas (já que és mais de amores...): a corrente dos nossos ídolos! Que tal?
Já temos temas para os posts das próximas semanas...

Conto contigo!!! Beijos, Amiga!

Eva Shanti said...

Ó querida MP,

Tu realmente...

Olha que não tenho feito outra coisa senão pensar em ódios de estimação. É que a coisa tán difícil!

Já te disse que sou de paz, que às vezes até me posso irritar um bocadinho com certas situações e com certas pessoas, mas tenho tudo resolvido dentro de mim. Ou seja, tenho raivas, mas ódios nem por isso.

Mas tenho andado a pensar... E ontem vi um nerd! Até disse ao meu amigo: olha tá ali um nerd! Ao que ele respondeu: podes crer!

Depois ainda divagámos sobre seria um nerd ou um geek, mas comcluímos que era um nerd. Não havia dados para o classificarmos de geek ou mesmo nerd-geek.

Bjs

Eva Shanti said...

Parrot,

Que as opiniões não se tornem obrigações.

Bjs e bom descanso (que é preciso)

Parrot said...

Querida Eva,

A minha opinião nunca é uma obrigação, assim como não é uma obrigação visitar o teu lindo espaço.....para mim é antes um grande prazer.

Nunca emito opiniões por obrigação (ser obrigado).

Bom Domingo

Meia Lua said...

Vim agradecer as palavras que me deixaste... muito obrigada, beijo grande para ti:*