Wednesday, November 16, 2005


Mulheres e Violência

Um dos temas na ordem do dia é a violência cometida contra mulheres, nomeadamente a violência conjugal (entre pessoas que vivem em situação conjugal, casadas ou não).
Embora, desde já, manifeste a minha condenação por atitudes extremistas, sejam elas quais forem, a verdade é que foram os movimentos feministas da década de 70 que deram visibilidade à violência contra mulheres e trouxeram este problema para a discussão pública.

Antes disso, a violência no seio do casal era vista como algo normal no relacionamento dos sexos, devendo a mulher submeter-se, primeiro à autoridade do pai e depois à do marido.

É de referir que antes da entrada em vigor do Código Civil de 1966, a mulher devia obediência ao marido e podia dedicar-se a algumas actividades, que não a educação dos filhos e a economia do lar, como era o caso do comércio, se o marido a tal autorizasse… Isto para não falar no direito de voto que apenas foi conferido a todos os homens e mulheres maiores de idade em 1976 com a Constituição da República Portuguesa…

Ou seja, às vezes pensamos em realidades que não são assim tão distantes no tempo… Afinal, eu ainda sou do tempo em que havia 2 canais públicos, a preto e branco e a única televisão da casa estava na sala… A minha irmã é que já é da era da MTV, da televisão a cores no quarto e do leitor de CD´s… E eu não sou pertenço propriamente à 3ª Idade!

Infelizmente, apesar do ponto de vista legal homens e mulheres serem iguais e terem direito às mesmas oportunidades, a verdade é que há uma imensidão de mulheres que vive na ignorância dos seus direitos e das formas de os poder exercer, resignando-se com situações que elas próprias vêem como naturais.
A violência doméstica ainda é um assunto tabu, ressalvando-se o esforço de instituições privadas de solidariedade social, dos meios de comunicação social e das campanhas institucionais do Estado para denunciar o problema. Contudo, a mentalidade portuguesa ainda vê o que se passa entre quatro paredes como domínio privado dando continuidade à crença popular de que «entre marido e mulher, não metas a colher».
Embora a violência contra mulheres seja, normalmente, de ordem física e psicológica, e ocorra no espaço doméstico, ela também acontece no local de trabalho (discriminação sócio-cultural) e na rua (violência sexual). Trata-se, pois, de um fenómeno complexo, multidimensional, transversal a todas as classes sociais, idades e religiões. A perpetuação do flagelo conta ainda com a vergonha e passividade da maior parte das mulheres que se remete ao silencio e à mercê dos agressores.

As razões da permanência das mulheres em relações onde são maltratadas são, sobretudo, devidas às pressões sociais e à sobreposição do valor social da manutenção da família em detrimento da sua dignidade e integridade (física e psicológia).

Já da parte dos agressores, a violência conjugal surge por questões de stress, frustração, dificuldades financeiras e associada a dependências como a álcool e a droga. No entanto, isto não explica porque é que homens submetidos a essas condições não agridem as companheiras e, também, porque é que a regra é a violência ser exercida por homens sobre mulheres e não o contrário.
Numa perspectiva feminista, a violência conjugal é uma das facetas de um problema social mais lato: a violência dos homens contra mulheres e a subalternidade que tem colocado as mulheres num plano social desigual – veja-se a discrepância de salários de homens e mulheres em igual posição hierárquica, por exemplo. Conclusão: concordando com esta afirmação, se calhar sou feminista e só agora o estou a descobrir…
Seja como for, a violência contra mulheres é um tema que me é caro, faz parte da minha vida como profissional e como ser humano, razão pela qual será recorrente aqui no meu «canto». Só espero, ainda que de forma modesta, poder contribuir para a divulgação deste problema social. Se não for pedir muito, já que nesta vida já vi acontecer tanta coisa (de 2 canais a preto e branco agora tenho tantos que nem são realmente quantos são, e todos a cores!), talvez, daqui a uns anos, possamos viver num mundo em que as relações entre casais sejam saudáveis e sem violência… (Não, não acredito no Pai Natal, nem no Coelhinho da Páscoa, agora a Fada dos Dentes nunca me falhou…).

12 comments:

Do choupal até à Lapa said...

Retribuo a visita! Vou também começar a passar por aqui!

Mocho Falante said...

Pois é amiga...é um tema que infelizmente irá ser sempre actual.

Fazes bem em retrata-lo aqui

Beijocas

JNM said...

è insustentável qualquer tipo de violência. É, e será sempre, um acto de medo e de cobardia. Uma das grandes diferenças entre homens e mulheres é que as mulheres conseguem expressar os seus argumentos sem o uso de força física. Para os homens isso não passa do medo de perder a autoridade.

Beijo

Anonymous said...

Estou a ver que estás a mergulhar de cabeça nesta nova etapa... Bjs e boa sorte. (e nada de comer muitos hamburgers no Burger King! :-))) )

Eva Shanti said...

Ó Nica, não digas isso do Burger King, que eu até escolhi viver sem sacrifício de animais e sou ovo-lacto-vegetariana! O Burger King tem uns fantásticos hamburgers de pasta de feijão - os beanburgers!

Quanto ao resto, eu bem ando a tentar gostar de Direito Bancário para ver se ganho uns trocos que se vejam, mas o que realiza é o trabalho com vítimas... Enfim, não tenho emenda!

Tenho que ter uma conversa com o meu «mentor» a ver se acordo para a vida...

Bjs

Bjs

Milan said...
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Milan said...

Muito bonito e oportuno o teu blogue. Obrigado pela visita, e regressarei mais vezes!

Titá said...

Cada vez melhor!
Tema muito bem escolhido e infelizmente ainda actual. Gostei que no blog da "Eva" se tivesse exposto este drama.

Isabel Filipe said...

Oi Eva,
Bom dia...

Este é um tema que dá pano para mangas. Que infelizmente existe por todo lado. Posso dizer-te que no meu local de trabalho, existe...portanto, toca-me bastante.

Bfds
Bjs

Anonymous said...

Sem dúvida um tema infelizmente na ordem do dia...

Apesar de discordar de qualquer forma de violência, verdade seja dita que muitas mulheres também se deixam "abusar e violentar" porque não têm coragem para denunciar. Têm medo (é compreensível)!Mas se continuarem a não ter iniciativa e recorrer aos mecanismos de protecção e instituições existentes para o efeito, o problema protelar-se-á por muitos e muitos anos.

Há que dar trabalho aos advogados que temos no país!

Crer é Poder ; )

Bj Eva, continuo atenta...

Living Place said...

Espero que continues a divulgar este assuntos, sabes nas aldeias ainda há muita desta violencia escondida no seio do casal. Conheci uma senhora (no baixo mondego)que o marido bebia todos os dias, chegava à casa ia ter com ela à cama e batia-lhe, só por bater. Ela foi várias vezes parar ao hospital com braços partidos, costelas fracturadas, emfim. Até que ela pediu o divórcio... apanhou mais por cima, outra ida ao hospital. Ao fim de um tempo conseguiu o divórcio e ordem para não se aproximar dela. Ele esperava-a e nova "tareia". Juntiça? Onde está ela?

Su said...

eu tb costumo dizer q não acredito no pai natal...nem no coelhinho da pascoa......e não acredito mesmo

gostei de ler-te, infelizmente a volência/mulheres é coisa triste e feia, que ninguem quer falar, ou não interessa falar, mas existe e de q modo existe...

jocas maradas