
Mulheres e Violência
Um dos temas na ordem do dia é a violência cometida contra mulheres, nomeadamente a violência conjugal (entre pessoas que vivem em situação conjugal, casadas ou não).
Embora, desde já, manifeste a minha condenação por atitudes extremistas, sejam elas quais forem, a verdade é que foram os movimentos feministas da década de 70 que deram visibilidade à violência contra mulheres e trouxeram este problema para a discussão pública.
Antes disso, a violência no seio do casal era vista como algo normal no relacionamento dos sexos, devendo a mulher submeter-se, primeiro à autoridade do pai e depois à do marido.
É de referir que antes da entrada em vigor do Código Civil de 1966, a mulher devia obediência ao marido e podia dedicar-se a algumas actividades, que não a educação dos filhos e a economia do lar, como era o caso do comércio, se o marido a tal autorizasse… Isto para não falar no direito de voto que apenas foi conferido a todos os homens e mulheres maiores de idade em 1976 com a Constituição da República Portuguesa…
Ou seja, às vezes pensamos em realidades que não são assim tão distantes no tempo… Afinal, eu ainda sou do tempo em que havia 2 canais públicos, a preto e branco e a única televisão da casa estava na sala… A minha irmã é que já é da era da MTV, da televisão a cores no quarto e do leitor de CD´s… E eu não sou pertenço propriamente à 3ª Idade!
Infelizmente, apesar do ponto de vista legal homens e mulheres serem iguais e terem direito às mesmas oportunidades, a verdade é que há uma imensidão de mulheres que vive na ignorância dos seus direitos e das formas de os poder exercer, resignando-se com situações que elas próprias vêem como naturais.
A violência doméstica ainda é um assunto tabu, ressalvando-se o esforço de instituições privadas de solidariedade social, dos meios de comunicação social e das campanhas institucionais do Estado para denunciar o problema. Contudo, a mentalidade portuguesa ainda vê o que se passa entre quatro paredes como domínio privado dando continuidade à crença popular de que «entre marido e mulher, não metas a colher».
Embora a violência contra mulheres seja, normalmente, de ordem física e psicológica, e ocorra no espaço doméstico, ela também acontece no local de trabalho (discriminação sócio-cultural) e na rua (violência sexual). Trata-se, pois, de um fenómeno complexo, multidimensional, transversal a todas as classes sociais, idades e religiões. A perpetuação do flagelo conta ainda com a vergonha e passividade da maior parte das mulheres que se remete ao silencio e à mercê dos agressores.
As razões da permanência das mulheres em relações onde são maltratadas são, sobretudo, devidas às pressões sociais e à sobreposição do valor social da manutenção da família em detrimento da sua dignidade e integridade (física e psicológia).
Já da parte dos agressores, a violência conjugal surge por questões de stress, frustração, dificuldades financeiras e associada a dependências como a álcool e a droga. No entanto, isto não explica porque é que homens submetidos a essas condições não agridem as companheiras e, também, porque é que a regra é a violência ser exercida por homens sobre mulheres e não o contrário.
Numa perspectiva feminista, a violência conjugal é uma das facetas de um problema social mais lato: a violência dos homens contra mulheres e a subalternidade que tem colocado as mulheres num plano social desigual – veja-se a discrepância de salários de homens e mulheres em igual posição hierárquica, por exemplo. Conclusão: concordando com esta afirmação, se calhar sou feminista e só agora o estou a descobrir…
Seja como for, a violência contra mulheres é um tema que me é caro, faz parte da minha vida como profissional e como ser humano, razão pela qual será recorrente aqui no meu «canto». Só espero, ainda que de forma modesta, poder contribuir para a divulgação deste problema social. Se não for pedir muito, já que nesta vida já vi acontecer tanta coisa (de 2 canais a preto e branco agora tenho tantos que nem são realmente quantos são, e todos a cores!), talvez, daqui a uns anos, possamos viver num mundo em que as relações entre casais sejam saudáveis e sem violência… (Não, não acredito no Pai Natal, nem no Coelhinho da Páscoa, agora a Fada dos Dentes nunca me falhou…).