Monday, September 25, 2006

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Uma estranha forma de vida

Há realidades que se sobrepõe àquela que chamamos de nossa e que tendencialmente consideramos como “normal”, porque o nosso ponto de vista é o mais defensável, já que é o nosso ou o de uma maioria significativa de pessoas e a ele aderimos sem reservas.

Um desses mundos à parte, com códigos próprios e uma entreajuda que ultrapassa o entendimento de quem está de fora, enche-se de frases à primeira vista ininteligíveis tais como “Eu sou pro-ana” ou “Já fui Ana, mas agora sou Mia”.


São os códigos de doentes de Anorexia e Bulimia que usam a Internet como fórum. Seres anónimos que escondem das famílias o que chamam de “modo de vida”, partilham as mais sofisticadas técnicas de passar fome, as últimas novidades em laxantes ou drogas inibidoras de apetite, incentivam on-line o vómito e a celebram os distúrbios alimentares com poemas e imagens de modelos magras.


Alguns dos sites/ blogs são escritos à laia de diário com fotos da magreza extrema alcançada pelas autoras e aplaudida com comentários das visitantes. Também do relato diário constam os tropeções de quem vive a luta de não ultrapassar 500 calorias/dia… Volta e meia, algumas destas páginas pessoais são fechadas, mas nem por isso o fenómeno acaba.

As novas tecnologias servem diversos interesses. Ao lado de massas de pessoas que se batem por objectivos tidos como bons – reacções a catástrofes, preocupações ambientais, melhoria das condições de vida – surgem os fanatismos. Terrorismo, pedofilia, racismo, xenofobia… É o que se quiser.

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De acordo com a Organização Mundial da Saúde, apenas 16% da população mundial estava com excesso de peso. Então, como explicar que cerca de 87% das mulheres se sentem com peso a mais?


Ninguém olha para si mesmo sem termo de comparação. E os modelos vão-se buscar ao que é veiculado pela indústria da Moda, pelo Cinema, pelas Artes e pela Comunicação Social. Milhares de jovens procuram fotos de “thininspiration” nas revistas e na net, ícones de um ideal de beleza que nada tem a ver com saúde e qualidade de vida. A pressão para atingir um determinado tipo de corpo pode culminar na patologia de uma mente que distorce a imagem do corpo visto ao espelho - depressão, distúrbios alimentares, auto-destruição.

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Thinispiration...

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Anorexia também existe no sexo masculino – foto retirada de um site pró-ana da responsabilidade de um surfista de 19 anos


Os recentes acontecimentos nas passagens de modelos em Madrid e Milão relançaram a polémica. Várias modelos, consideradas demasiado magras, foram impedidas de desfilar. Ameaçadas as suas estrondosas fontes de rendimento, criadores e bookers insurgiram-se contra as medidas tomadas pelas organizações dos certames de moda.

Medidas corajosas e inovadoras mas só por si insuficientes, já que as variáveis Beleza, Saúde, Educação têm de estar em sintonia. Para além de mexer com ideais convencionados, muito há a fazer em termos de promoção de alimentação correcta, vida saudável e condições para mens sana in corpore sano – refeitórios nas escolas, menus escolares saudáveis, formação e incentivo da prática desportiva como parte de uma vida saudável.

Enquanto isso, milhares de pessoas, na grande maioria mulheres ainda adolescentes, vivem numa estranha forma de vida, uma existência em para se ser magro até aos ossos vale tudo!


Escuso-me de indicar sites/blogs de Anas e Mias. A alguns deles “roubei” as fotos. A pesquisa é livre e a informação está a vista de todos. Quem procura arrisca-se a encontrar… Prefiro referir links construtivos, didácticos, informativos.

Sites informativos:

Ana y Mia - La verdad de un mundo peligroso

Don´t die for a diet

Pro-ana - encyclopedia dramatica

Video:


Anorexia Awareness: Scarytale
Uploaded by Razorbuzz


Página pessoal do modelo Emanuel Carvalho

Posts recomendados (ambos do blog
Síndrome de Estocolmo):

Como andam os blogs Ana & Mia...

Mais sobre as modelos magérrimas e Indice de Massa Corporal

Notícias:

Demasiado magras para desfilar: Madrid só aceita modelos com ar "saudável". Milão pode fazer o mesmo

Manequim morre durante desfile

Fiona, Nayma e Flor – modelos portuguesas magras demais


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18 comments:

Anonymous said...

E eu que pensava que sabiam já alguma
coisa sobre a anorexia e bulimia...
Este é um exemplo de que a Internet serve tanto para o melhor como para o pior.
Continua o bom trabalho.

Maríita said...

Li com atenção tudo o que escreveste, talvez por fazer parte do trabalho da minha mãe, eu mantenho-me muito afastada destes mundos negros.

No outro dia, deu entrada uma criança no Hospital D. Estefânia num estado considerado crítico porque tinha uma anorexia. Não se sabe se vai escapar e já passou mais de um mês de internamento. Estas modas matam e seria bom que os pais soubessem para poderem salvar os seus filhos.

Beijinho

Do choupal até à Lapa said...

Deviam incluir este post como "serviço público". Iria de certo ajudar e esclarecer muita gente.

Dijambura said...

Que conceitos estes que o homem cria e que por vezes se tornam tão extremos que podem até conduzir à morte? Entristece-me o mundo assente nestes moldes, num conceito de belo centrado na magreza, no fashion, na moda de que o bonito é o magro...que prisão, que condicionamento!!

Alegram-me as medidas espanholas, Espanha é o primeiro país a adoptar medidas concrectas no comabate a este grande problema social.

[A] said...

Olá Eva. Como estás? desculpa a falta de visitas ao teu blog...que é um "lugar" bem agradável de se estar sem quezílias, onde se aboradam assuntos e se trocam opiniões sem ninguém levantar a "voz"...mas ando cheia de trabalho e a tentar organizar o meu blog...criei outro para funcionar somente como portefólio pois foi esse o objectivo 1º e agora aquilo já está uma salgalhada de todo o tamanho....É FAVOR DIVULGAR PELAS AMIGAS, OK????

fica bem.beijinhos.

P.S.depois venho ler o post com olhos de ver e não publiques isto...please!rs...

Sandra Neves said...

São imagens chocantes algumas delas... mas não deixa de ser uma doença, causada pelas mais diversas desordens... como tal deviam ser mais divulgadas e o acesso a ajuda mais incentivado e divulgado.

Isabel Filipe said...

Parabéns pelo Post. Sei bem o que referes...

já passei por um grande susto nos 14 aos 16 anos da minha filha (hoje com 21) ...
entretanto superado ...
mas que foi duro foi ...

bom fim de semana
Beijo

Parrot said...

Evinha,

Parabéns pelo post....confesso que fiquei muito mais esclarecido sobre este assunto...de facto existem pessoas que vivem mesmo uma estanha forma de vida.

Beijinhos

Eva Shanti said...

Mário,

Obrigada pelo incentivo. Deve ter-te mesmo tocado este post para teres comentado ;)

Maria,

Sem dúvida um mundo muito negro. Acho difícil, mas não impossível, os pais detectarem este e outros problemas dos filhos. É que esta doença tal como outras implica muita mentira; os doentes tornam-se peritos em ocultá-la!

Choupal,

Obrigada! É apenas uma pequena achega a um fenómeno não complexo e tão presente.

Bazuco,

Obrigada pela visita!
Não posso deixar de concordar que a magreza é apenas a parte visível da doença, que esta má relação com o corpo e com a comida radica em algo grave e do foro mental. Mas mesmo sem chegar à anorexia ou à bulimia, a pressão para se ser magro e ter um determinado tipo de corpo é imensa e há pessoas por esse mundo fora muito infelizes e que não tiram partido da vida por não se conseguirem desprender de ideais que são incutidos a toda a hora.

Sabe-se que não se deve a modas, mas que a pressão cultural para a magreza, a insatisfação e a preocupação com o peso podem contribuir, juntamente com outros factores, para um aumento da vulnerabilidade, que por sua vez pode levar á tomada de decisão de iniciar uma dieta. É pertinente referir que a dieta só por si não constitui uma condição suficiente para o desencadear de um distúrbio alimentar, mas é uma condição necessária, dado que não existem distúrbios alimentares sem dieta""

Dijambura,

Obrigada pela visita!

Acho que nos últimos anos se tem começado a olhar para as pessoas com diversos tipos de corpo" e a dar mais atenção ao facto de não sermos todos iguais. As medidas espanholas são mais um passo importante, mas precisam de ser secundadas de outras acções.

Ana,

Desculpa! Por acaso já tinha andado a cuscar o teu trabalho... Gosto de ver a intensidade com que te dedicas à criação dos teus modelos.

Fico à espera do teu comentário!

Isabel,

Obrigada pelo teu testemunho. É um exemplo de que uns pais atentos e preserverante (assim te imagino) podem ajudar um filho a superar um problema.

Parrot,

É verdade, há quem defenda que a anorexia não é uma doença e sim um estilo de vida. Estranho não é?

Bjs a todos

Meia Lua said...

Infelizmente tudo à nossa volta valoriza a aparência e não os verdadeiros valores interiores de cada um. Ser bonito/elegante/magro(a) é sinónimo de sucesso, ou pelo menos um degrau para isso... é o que a sociedade prega...
Nas lojas, se observarmos bem, as roupas estão cada vez menores... sem falar na publicidade que faz uso da imagem de pessoas consideradas "perfeitas"...
Estas estranhas formas de vida, são como um bombardeio cerebral...
Infelizmente existem pessoas mais frágeis...
Eu apoio a iniciativa de quem usa um número menor de 38 não pode desfilar!!! um grande exemplo... (o teu post está muito bem escrito) bjinhos

Miguel said...

Realmente!
Que estranha forma de vida!Já dizia o filosofo:"O inferno somos nós!" e o psicólogo:"Somos um cocktail de hormonas e químicos, que é um milagre haver pessoas mentalmente sãns!"
Que bem que escreves Eva!
Gostei de te ler!
Vou voltar!

Luis

Mónica Lice said...

Parabéns pelo post! Nem sempre é fácil abordar estes assuntos com a seriedade necessária...
Estas situações assustam-me um pouco, porque surgem do nada, e nunca se sabe quando se irão revelar.

Beijinhos e bom fim-de-semana!

rob said...

mullholand drive é dos filmes mais cuirosos do Lynch sobre o mundo dos sonhos das mulheres.
se puder entenda-o neste ponto de vista do humor do ser mais enigmático, curioso, e irresístivel do planeta:
uma mulher que dorme (cobertor rosa), está em Hollywood e quer ser actriz.
entende que a 'parte sexual' (a morena) atrapalha-a nesse objectivo e manda eliminá-la em mullholand drive, uma estrada anteriormente famosa.
entretanto a consciência (o carro branco) salva-a.
mas quem dorme percebe que não pode dixar à solta a sua parte sexual, e resolve enviar a sua 'parte social', a loira para a controlar... e então acontece a história dos sonhos de uma mulher... divertido, não acha?

Eva Shanti said...

Meia Lua,


Aqui há uns anos, numa conhecida cadeia de lojas de roupa feminina, os tamanhos L e XL tinham de ser pedidos, pois estavam fora da vista das clientes. Escusado será dizer que esses L e XL correspondiam a M e a L.


Luís,

Obrigada pela visita! Volta sempre!

A lice,

As situações parecem surgir do nada, mas são a ponta do iceberg de uma série de problemas emocionais por resolver.

Rob,

Obrigada pela visita. Não sou apreciadora de David Linch, mas agradeço a sugestão.

Bjs a todos

[A] said...

Excelente o teu artigo Eva. Só quero acrescentar que a magreza das modelos não é um fenómeno recente. Lembram-se da Twiggy???
Não adianta atirar as culpas nas costas delas (pior são as agências);como muitos outros problemas sociais tudo desemboca no problema da educação.
Vive-se entre a espada e a parede, se não se podia ser gordo, agora não se pode ser magro... e todos sabemos como manter o equilíbrio é pura demagogia de meia dúzia de psicoterapeutas bem intencionados.
O que eu quero dizer é que este é problema é consequência de muitos outros com raízes bem mais profundas.

Beijos Eva.
Boa semana.

Anonymous said...

Olá,

Sou editora do Jornal de Debates (www.jornaldedebates.com.br), um site colaborativo, que toda a semana levanta diversos assuntos para discussões, e, dessa vez, um dos temas é justamente a questão da anorexia, e gostaríamos de convidá-la a escrever sobre o assunto ou mesmo replicar este seu post lá.

Qualquer dúvida, entre em contato pelo meu e-mail (gabriela@jornaldedebates.com.br)

Tenha uma boa semana.

Anonymous said...

Olá Eva

Eu já tive problemas com anorexia... Nunca fui a um especialista mas agora sei que estava com esse problema.
Vou resumir a minha historia: sempre fui gorduchinha desde pequena mas nunca liguei muito a isso, mesmo assim, principalmente a minha familia, gozava comigo por eu ser assim, como por exemplo quando eu comia doces diziam "pápa chica!!" e coisas do genero... comecei a dar importancia a isso nos meus 17anos pois apaixonei me por um rapaz e queria ser perfeita para ele mas para isso teria que perder alguns quilos... comecei a fazer dietas, ou seja, comer bastante fruta e comer metade do que aquilo que comia. No inicio nao foi facil a habituaçao. Mas à medida que ia deixando de comer, menos apetite tinha. Chegou a uma altura que eu estava elegante pesando uns 46kg (dado que sou baixinha) mas o pior é que eu nao consegui parar por ali, queria ser mais e mais magra. Muitas das desculpas que eu dava para nao comer estao descritos no teu blog, como dizer que comia em casa de amigas (video), ou que comia na cantina, ou seja, praticamente so jantava porque era a unica refeiçao que eu tinha com os meus pais... Comecei depois a vomitar o pouco que comia, fazia exercicio fisico excessivo, sem ter qualquer coisa no esmomago... Chegou a uma altura que eu já tinha medo de me pesar pois pensava que estava muito gorda e nao conseguia emagrecer. A certa altura, ja estava muito debilitava psicologicamente, com uma depressao. Quando me davam as "crises" por pensar que nao conseguia emagrecer, chorava compulsivamente e, para nao sentir a dor psicologia que sentia, cheguei a mutilar me algumas vezes... Esta era uma maneira de recalcar a dor psicologica com uma dor fisica (estranho mas é verdade). Consegui ultrapassar isto com a força da minha mae que se começou a aperceber do que se passava. O meu pai nem sonhava que eu era assim pois conseguia esconder tudo o que fazia, apenas soube quando lhe contei.
Agora felizmente estou curada, ja tenho quase 20kg a mais. :) tenho um namorado que me adora mesmo com o pneuzinho que eu tenho na barriga. Embora nao goste de o ter... ainda! Mas sei que é assim que eu sou mais bonita, tanto por dentro como por fora. :) "Qual é o aviao que nao tem pneus??" sempre ouvi dizer.
Axo que ja falei de mais, mas deixo o meu testemunho e espero que compreendam, como eu compreendi, que a magreza extrema so leva as pessoas a ficarem cada vez mais tristes e deprimidas.

Gostei do teu blog Eva, Parabens!!

Eva Shanti said...

Joana,

Pena que não te poder contactar sem ser desta forma.

Muito obrigada pelo teu testemunho. E desejo-te as maiores felicidades e muita coragem.

Recomendo a revista Gingko #3 Maio/Junho, também em formato online, se bem que vale a pena dar os 3,00€ pela edição em papel.

http://revista.gingko.pt/#/17/
http://revista.gingko.pt/#/17/?art=50

Beijo grande