Wednesday, June 07, 2006

Theatre-Press-Shot 2005 - angry little gun by andchore

«Crimes de paixão» ou «crimes de possessão»?

Os homicídios praticados no seio do casal serão todos crimes passionais?

Antes da morte, muitas mulheres, vítimas dos seus maridos ou companheiros, sofreram violência física, psíquica ou ambas.

Os homicídios de mulheres são, na sua maior parte, premeditados e desejados pelos seus autores. Deveríamos chamar-lhes «crimes de possessão» e não de «crimes de paixão», pois quando o homicida decide o ataque final há já um tempo que pensava que isso «era inevitável». Não é a sua paixão amorosa que o guia, mas o seu egocentrismo desmesurado, que o faz acreditar em que há pessoas que lhe pertencem, mesmo que elas não o queiram…

Texto baseado no livro «Amores que matam, assédio e violência contra as mulheres», de Vicente Garrido, psicólogo criminalista, professor na Universidade de Valência.

Foto: Theatre-Press-Shot 2005 - angry little gun by andchore


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Escrevi este post em finais de 2005. Estava à espera de um momento que achasse certo para o "libertar". O Parrot deu-me o mote.

As histórias são quase sempre as mesmas: segundo as estatísticas, as vítimas são normalmente do sexo feminino, de idades compreendidas entre os 26 e 45 anos, sem dependências; os agressores, com um intervalo de idades entre os 36 e 45 anos, casados ou companheiros das vítimas, dependentes do álcool, praticam os crimes de maus-tratos físicos e psicológicos na residência comum.

De acordo com o relatório Penélope, a violência doméstica em Portugal não é muito diferente da que ocorre no resto do sul da Europa - Espanha, França, Itália e Grécia. A informação e conhecimento insuficientes, bem como uma falta de coordenação dos esforços e recursos, geram uma falta de sensibilização para um problema que é transversal à sociedade portuguesa. Infelizmente.

Entretanto, convido todos a (re)ler o que escrevi em Dezembro e Novembro.

10 comments:

Mónica Lice said...

Talvez paixão, transformada em possessão doentia...

Parrot said...

Eva,
A minha opinião já a sabes…..
Cabe-nos a nós, de vez enquanto, dar voz aqueles que por vergonha, medo ou comodismo preferem ao silêncio. O falar destes assuntos, ainda tabus, pode ser que dê coragem a algumas pessoas de deixarem sair a voz…..se isso ocorrer apenas com uma pessoa…..já é um começo.
O mote não fui eu quem o dei….sabes disso, até porque já esse teu texto já estava escrito….. em frente amiga e força.
Beijinhos…..e que a vida te recompense.

Living Place said...

Infelizmente só se sabe destes crimes quando é tarde demais, quando é noticia sencionalista.
Nessa altura a população vai toda a rua manifestar-se, mas e quando essa mesma população sabe do que tem vindo a acontecer uma vida inteira? Não faz nada? Porquê?

Rosa said...

Crimes. Ponto final.

Eva Shanti said...

São efectivamente crimes, mas importa a maneira como a sociedade os percepciona e os valora.

Acredito que a maior parte dos crimes poderia ser evitada, mas reconheço que são situações complicadas e que, por vezes, escapam à alcance das autoridades policiais e da Justica. Em "Amores que matam", Vicente Garrido dá como exemplo histórias verídicas sem final feliz que passaram a casos mediáticos em Espanha.

Na verdade, o portador de Personalidade Psicopática é geralmente tido por "incurável" e, talvez o seja, porque não se trata de uma verdadeira doença, aos moldes médicos, mas de uma formação especial de caráter (ou não-formação).

Eu perdi a inocência face à dura realidade.

Deixo-vos um exerto elucidativo de um outro livro de Vicente Garrido, "Psicopata", best-seller em Espanha, mas sem edição portuguesa:

"Los medios de comunicación social tienden a presentar a los psicópatas como sinónimo de locos o enfermos mentales; esto es, como psicóticos. De ahí que sea necesario diferenciar a los asesinos psicópatas de aquellos otros que cometen crímenes en serie o de modo único, pero debido a una enfermedad mental o psicosis. En estos casos, la gratuidad , el absurdo de esos crímenes no responde a un patrón de personalidad peculiar, como es el caso de los psicópatas , sino a una mente trastornada.

Por otra parte, es cierto que la palabra psicopatía significa etimológicamente enfermedad de la mente ( de psico, mente, y patía, enfermedad) y así fue empleada en los orígenes de la psiquiatría. Pero actualmente se sabe que los psicópatas no tienen una pérdida de contacto con la realidad, ni experimentan los síntomas característicos de la psicosis, como alucinaciones, ilusiones o profundo malestar subjetivo y desorientación. A diferencia de los psicóticos, los psicópatas son plenamente racionales y conscientes de lo que hacen y por qué lo hacen. Su conducta es el resultado de su elección, libremente realizada."

aDesenhar said...

Crimes de paixão ou crimes de possessão, os dois acabam por levar à morte de um ser humano o que é lamentável.
oportuno o teu post.
:)

Meia Lua said...

Não há nada que justifique a violência. Principalmente quando as vítimas não se podem defender. Já saímos da idade da pedra, quando vencia a lei do que literalmente era mais forte. Infelizmente muitas mulheres por terem medo, seja de mais violência, seja de não ter para onde ir, seja por causa dos filhos... tornam-se impotentes. Já denunciei um caso de violência e a cada um que encontrar, farei o mesmo. Nunca é tarde para tentar ajudar alguém. beijinhos para ti Eva querida :*

[A] said...

Olá Eva.
a violência doméstica e os crimes passionais foi algo que nunca percebi muito bem... e ambos os lados!
1º como é que o (suposto)amor degenera nos sentimentos que levam a situações dessas.
2ºo "agressor" só pode ser uma pessoa com baixa autoestima que quando sente alguma instabilidade na relação (ainda que seja só da sua cabeça) parte ao ataque;o controle psicológico e a intimidação são as melhores armas...
3ºnão percebo as vítimas que aos 1ºs indícios de manipulação não assumem uma atitude e muito menos as v´timas de agressões físicas e verbais....o amor pode ser cego numa 1ª fase...mas não é sempre!!!
ultrapassada uma determinada barreira já não há nada a fazer...torna-se tarde demais.

o mais triste deste triste cenário são as crianças...
como são situações que se devem arrastar por anos, muitas mulheres resolvem ter filhos numa tentativa de salvar as relações...
enfim!


beijokas,Eva.
bom fim de semana

Eva Shanti said...

Ana,

1º) Não é amor. É obsessão, sentido de posse de alguém com incapacidade para ter sentimentos - é muito difícil compreender a mente de alguém tão diferente da nossa...

2º) Sim, o agressor tem uma série de conflitos e mal-formações na personalidade mas, quem sofre são as pessoas que lidam com ele, as suas vítimas.

3º)A vitimação como processo leva a uma quebra de defesas que em condições normais poderiam põr um travão à situação. Também há o amor que se sente pelo agressor, o projecto de vida em que se apostou, uma série de factores que levam a vítima a permanecer numa relação destrutiva.

Também é preciso frisar que há pessoas extremamente hábeis na manipulação. Tão hábeis que nos fazem pensar que continuamos a dominar a vossa vontade quando não passamos de marionetas.

Um exemplo do mundo da ficção mas baseado na realidade: a personagem de Sharon Stone em Instinto Fatal.

Bjs

Eva Shanti said...

Beijos a todos e um óptimo FDS!