O Karma e o Amor
Taróloga: Ó minha querida, a menina tem um karma nos amores… Mas isso já sabia, não é verdade?
A consulente apenas abanou a cabeça em sinal afirmativo.
Taróloga: Ainda não chegou o seu tempo.
A consulente, mulher dos seus 40 anos, continuava a movimentar a cabeça mostrando a sua concordância com a interpretação do jogo de tarot.
Taróloga: A menina tem de sair de casa, divertir-se, dançar, ter uma actividade, porque o amor não lhe vai cair na sopa… Tem de lutar por ele.
Foram mais ou menos estas as palavras de uma consulta de tarot transmitida em directo, por volta da hora do almoço, num canal nacional. Portanto, trata-se de um diálogo verídico com que me deparei por mero acaso. Ou talvez não, para quem acredita que o acaso não existe.
Vamos então por partes.
Traduzido literalmente do sânscrito por “acção”, Karma designa a lei universal da causa-efeito numa perfeita simetria, justificando que uma acção intencional, consciente, deliberada e voluntária é geradora do consequente efeito, nesta ou noutra vida. Assim sendo, uma boa acção pode despertar um efeito positivo para quem praticou o bem, tal como a prática do mal acarreta inevitavelmente consequências negativas para quem comete tais actos danosos. Acções neutras como dormir ou caminhar não têm consequências morais.
Não é necessário acreditar na reencarnação para aceitar a existência do Karma.
O Ocidente importou o conceito de Karma colocando-o sob a lente dos princípios cristãos de culpa e pecado, atribuindo-lhe uma conotação unicamente negativa que implica a paga das más acções do passado com dor e sofrimento.
Todavia, seja o Karma da vida actual ou de vidas passadas, a pessoa tem a capacidade, com a sua vontade e auto determinismo, de praticar o bem e criar novas situações que lhe tragam efeitos positivos e benéficos.
Oráculo muito antigo, o tarot encanta pelo mistério das suas origens desconhecidas e suscita a curiosidade humana sobre os acontecimentos futuros e a possibilidade de os influenciar. Pode ser entendido como mensageiro do inconsciente, ou ponte entre o espiritual e o terreno já que, por um lado é o consulente que com a sua energia escolhe as cartas e parte do baralho, por outro lado é uma ligação um plano superior que guia e inspira a leitura.
Quanto à afirmação “ainda não chegou o seu tempo” leva à interrogação “o que é que eu fiz?” É cortante ouvir uma expressão destas, potenciadora de esperança mas que mais se assemelha à cenoura em frente do nariz do burro, que insiste em tentar apanhá-la sem ter sucesso.
Do episódio relatado chegamos a um final que é intuitivo: serão maiores as probabilidades de conhecer alguém interessante se tivermos uma vida, se sairmos de casa, se nos juntarmos a pessoas que tenham disponibilidade e interesses em comum, se formos capazes de ser imaginativos e de realizar actividades que nos permitam socializar e conviver. Ninguém precisa de tarot para saber que o amor acontece. Aliás, as cartas nunca nos dizem qual é o “nosso tempo”, temos de ser nós a descobri-lo.
12 comments:
Uma vez fui a uma tarologa... e parecia um jogo de adivinhas. Ela acertou em tudo, mas claro, com dois dedos de testa e conversa, até podemos por as cartas de lado. Neste caso, eu não tinha um Karma de amores, mas tinha sempre alguém a desejar-me imenso mal. Acredito que existam pessoas que me desejem mal, mas tanto? Enfim, valeu pelo que eu me ri e pelo magnifico jantar na praia que se seguiu... e era previsível que eu não voltaria lá...estava escrito nas cartas...
Maria,
Não ponho em causa o recurso a métodos de adivinhação, mas o viver em função disso e a busca de algo que depende em muito de nós.
Acredito em poderes mediúnicos, mas o futuro somos nós em grande parte que o construímos. Digo em grande parte, porque seria uma arrogância dizer que tudo depende única e exclusivamente da nossa vontade. Não podemos ter a pretensão de controlar de tudo.
No caso em concreto, não vi nada de transcendente naquilo que foi dito à consulente. A orientação dada serve para qualquer pessoa que procure um companheiro ou que queira pensar numa vida a dois.
Bjs
Realmente, o fundamental é não viver na dependência de previsões!
Eva querida, o tarot é um jogo de probabilidades matemáticas e interpretações, mais do que um método de adivinhação. Quem lê as cartas apenas interpreta à sua maneira o significado. Existem dois tipos o divinatório (que prevê o futuro) e o de auto-conhecimento (o que ajuda as pessoas a se auto-conhecerem), mas seja qual for o método, temos o livre arbítrio e podemos mudar sempre o rumo das coisas. Tal como a vida é feita de escolhas e o nosso caminho vai sendo tratado. Quanto ao conceito do pecado, foi criado única e exclusivamente para domar o homem, dominar pelo medo. Não nos podemos esquecer que ao longo da história a Igreja sempre esteve ao lado do poder e vice-versa. Sobre o karma eu não sei, mas sei que para viver bem devemos ter a consciência tranquila e para isso necessariamente devemos usar o bom senso e ser coerentes com os nossos actos. Cada um acredita no que quiser, afinal somos livres... enfim, é a minha opinião pessoal. Que saudades tinha eu de vir aqui!!! bejinhos :*
Mais um tema pertinente e mais uma vez muito bem exposto
beijo
Um bom karma par ti.... ;-)
Com todo o respeito pelo Tarot, não sou nada ligado nisso.
Há a pessoa que "lê" e aí creio em clarividência por exemplo. Se as cartas ou a numeralogia, são um mero instrumento de interpretação ou de ligação energética..Ok
Que provoca uma certa desresponsabilização nas pessoas..sem dúvida que sim.
Muito Boa a clarificação do que é o sentido de Karma.
Até ao próximo post..
Bj
estou convencida que o karma existe mesmo. mas é só a intuição a falar, porque todos os dias damos com mau karma...
a reencarnação pode ser uma ideia simpática, optimista: termos uma segunda oportunidade. agrada-me essa hipótese.
no tarot - nunca estive numa sessão - acho piada a algumas coincidências, mas será que não são apenas isso?
mais um post a mostrar o bom senso da Eva: cada um tem de saber encontrar o seu tempo...
Bjos
LR
Querida Eva,
Muitas vezes me questionei o que leva pessoas a recorrerem a este tipo de “serviços”….. Será que as pessoas têm tanta pressa de viver que não querem ter o trabalho de “lutar” por alguma coisa? Será que as pessoas esperam de mão “beijada” alguma coisas relacionada com sentimentos?
Pois é…parece-me que vivemos numa sociedade de consumo em que nos habituamos a comprar tudo e esperamos encontrar em cartas de tarot aquilo que não tem preço e depende apenas de cada um e que exige esforço, insegurança e se calhar até sofrimento.
A solução está em tentar viver o mais intensamente possível e de uma forma natural……até porque aí reside o segredo.
Bejinhos
Querida Eva, eu acredito que ñós somos a medida de todas as coisas.
eu sou uma céptica, mas ás vezes sinto uma pontinha de inveja dos crentes, qualquer que seja a crença. acho que a crença facilita a vida e retira-nos alguma responsabilidade sobre as coisas más que vão acontecendo.Quem acredita, tem necessariamente que ser mais feliz!digo eu...
No universo da crença e da fé, todas essas actividades( e mesmo a religião)´funcionam verdadeiramente.
eu cá sou como o Tomé.
bjs.
Nestas questões não sou céptica como Tomé, mas muito menos dependente de "previsões" sejam que tipo forem.
Acho é que, e por ter tido contacto com alguns desses "condutores de informação" (tarólogos, astrólogos, quiromantes, etc), nós não controlamos absolutamente o curso das nossas vidas. Temos livre arbítrio mas apenas sobre as opções que se nos apresentam, e essas são colocadas no nosso caminho...não há coincidências.
Esses profissionais (os íntegros, ainda há alguns) podem dar-nos pistas se estivermos suficientemente dispertos e disponíveis para encontrarmos as melhores opções para nós em cada momento. Nada mais do que isso.
A quem tem abertura de espírito e seja sensível a estas questões, isto poderá fazer algum sentido.
Aos outros, poderá não fazer qualquer sentido e, tudo isto será fruto da "invenção" dos nossos espíritos.
Eu faço parte do primeiro grupo, mas respeito os do segundo, porque somos todos livres seres pensantes com direito à diferença.
Bom fds ;)
Utilizado como instrumentos de autoconhecimento com consulta de um profissional íntegro (fundamental), o tarot, astrologia, etc. são experiências muito interessante e podem ser proveitosas.
O risco está em viver na dependência de previsões que têm um fundamento inexplicável - para uns são meras coincidências, para outros é a expressão em símbolos da sabedoria infinita de seres uma dimensão diferente da nossa.
Em grande número de casos, são apenas meios de vida que pessoas menos honestas utilizam para explorar as fraquezas dos outros.
Não sou céptica, sou mais do tipo: "que las hay, las hay"
Mais um fantástico texto!
O Tarot fascina-me, gosto, acho muito interessante, se for à séria!
Não sei muito bem se acredito no que dizem as cartas, mas que há coincidências (será?)impressionantes isso há.
Beijo para ti Eva
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