Friday, February 29, 2008

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- Quem amas?
-Não sei.
- Não sabes?
- Não.
- Não?
- Não. Posso até sentir algo por alguém que ainda não consigo explicar.
- Hummmm
- Posso mesmo ter sentimentos por pessoas diferentes, mais do que uma, pessoas que me dizem alguma coisa, pessoas que me deixaram marca.
- Sentimentos?
- Sim, sei lá, carinho, raiva, aversão, paixão, ternura, curiosidade, vontade de conhecer melhor, tudo à mistura.
- Ah...
- Os platonismos vivem da fantasia, da contemplação, baseiam-se em pressupostos errados porque distantes do objecto. Um sentimento, qualquer que seja, pode surgir sem se saber como, mas para ter nome, para pertencer à categoria dos afectos tem de ser relacional; tem de ganhar peso, substância, mas isso só acontece se houver contacto directo com o outro envolvido, se saudavelmente houver tempo e espaço para conhecer o outro e as nuances da personalidade e deixar que o outro nos conheça também.

2 comments:

Guinevere said...

E deixaremos alguma vez que o outro nos conheça bem? E conhecemo-nos nós bem?
Conseguiremos, alguma vez, entregar-nos completamente despidos e transparentes?... Sem defesas, sem barreiras, sem ter um pé atrás?...
Será que sabemos amar? Será que há como saber amar?

Eva Shanti said...

Acho que...

1. Sim, podemos deixar que alguém nos conheça relativamente bem.

2. Dentro das nossas limitações, podemos conhecermo-nos bem se nos dermos a esse trabalho. Mas estamos sempre a descobrir-nos, a testarmo-nos, e vamos mudando também com o tempo, com as vivências, com o que vemos e sentimos. Sempre com ressalvas, somos quem nos conhece melhor e é com isso que temos de viver.

3. Ninguém se entrega puro se sem defesas. E quanto mais são os anos que nos pesam, mas defesas temos. Só digo que ainda bem que ninguém pode ver o nosso fluxo de pensamentos ou saber o que sonhamos à noite; valha-nos esse reduto de privacidade, que é um direito irrenunciável.

4. Ama-se muito, não se sabe é como. Ama-se de maneira diferente e pode-se ser doentio e obscessivo, ao que se impõe perguntar se isso é realmente amar. Saber amar... Não há resposta para isso.