Um reflexão artística sobre o Universo feminino e a existência da mulher no mundo contemporâneo.
Tampões, crochés, garrafas, talheres de plástico, aspirinas, panelas. Os objectos do quotidiano são a base de trabalho da artista plástica Joana Vasconcelos.
Joana tornou-se mais conhecida do público em 2005 com A Noiva – um lustre feito com 20.000 tampões OB –, peça principal da Bienal de Veneza, Itália 2005. Segundo a escultora, o plástico com que são revestidos os tampões reflecte a luz quase tão bem como o vidro. Esta peça tem a ver com uma situação muito específica dos valores da mulher, da virgindade, da apresentação da mulher no dia do casamento, do vestido branco, da hipocrisia dos costumes, de como o lustre define socialmente uma família.
O todo ofusca a soma das partes. A repetição e acumulação em larga escala conduzem à abstracção das ideias. Os materiais usados são um meio de comunicar, não um fim em si mesmo. O resultado: esculturas imponentes, curiosas, portentosas, lúdicas, ironicamente belas.
Dorothy, o sapato de salto alto imenso, glamoroso, reclama a ambiguidade da vida da mulher contemporânea, que é activa, trabalha e anda de salto alto, mas ao mesmo tempo tem uma vida privada à volta dos tachos.
Parte da exposição “Yellow Brick Road" (Palazzo Nani Bernardo Lucheschi, Junho 2007), Dorothy, é uma mistura de Feiticeiro de Oz e Gata Borralheira", o contraponto entre os afazeres domésticos e a vida social activa.
Coração Independente é outra obra de Joana Vasconcelos. Esta escultura de 3,70 metros de altura insere-se na Trilogia Fado: ouro, sangue e morte e inclui dois outros corações de igual tamanho, um dourado e outro negro que representa a morte.
Coração Independente, Pavilhão Centro de Portugal, Coimbra, 2005. Fotografia de Sandra Leandro.
O coração dourado está temporariamente exposto na sede da União Europeia em Bruxelas, pertencendo ao restaurante Eleven em Lisboa, o coração negro pertence ao Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y Leon e o vermelho pertence ao coleccionador João Pinto de Sousa.
Construído com 5.000 talheres de piquenique torcidos a quente, é inspirado no minhoto coração de filigrana, peça de joalharia tipicamente portuguesa e no Fado de Amália Estranha forma de vida: «Coração independente, / coração que não comando: / vive perdido entre a gente, / teimosamente sangrando, / coração independente».
A Burka, escultura mecânica de 2002, faz parte da exposição colectiva «Modern Mahrem» patente no complexo Santralistanbul em Istambul, Turquia até finais de Novembro. Mais vez uma chamada de atenção para a mulher actual e para as burkas invisíveis aos olhos mas usadas continuamente a uma escala mundial.
Joana Vasconcelos ressalva que o facto de criar peças em grande escala torna as suas obras não acessíveis a uma parte dos consumidores, mas lamenta que grandes instituições ligadas à arte mostrem menos interesse em Portugal do que no estrangeiro. "Só a Fundação de Serralves tem uma peça minha, pequena. As outras estão com apenas três coleccionadores particulares" - António Cachola, Pedro Cabrita Reis e José Miguel Júdice.
De personalidade forte e extrovertida, Joana que já foi segurança de uma discoteca e praticou artes marciais. passeia-se de trotineta pelo armazém da Fundição de Oeiras, onde trabalha diariamente nas suas obras.
Rejeita o rótulo de feminista porque a sua análise "é mais social, a nível prático mais do que político", esclarece.
3 comments:
Não a conhecia. Obrigada por me apresentares, e não é que fiquei fã? Beijokas para ti :*
Nunca tinha ouvido falar dela ...
achei simplesmente soberbos os trabalhos dela que aqui apresentaste ...
beijinhos
Olá Eva.
Excelente post.
Gosto muito da Joana vasconcelos e já tive oportunidade de a postar por 2 vezes. Eu acho o trabalho dela de uma ironia acutilante. De uma forma mais óbvia nuns trabalhos, menos em outros, acaba por colocar sempre o "dedo na ferida" e no papel da mulher "pós-moderna".
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