Uma estranha forma de vida
Há realidades que se sobrepõe àquela que chamamos de nossa e que tendencialmente consideramos como “normal”, porque o nosso ponto de vista é o mais defensável, já que é o nosso ou o de uma maioria significativa de pessoas e a ele aderimos sem reservas.
Um desses mundos à parte, com códigos próprios e uma entreajuda que ultrapassa o entendimento de quem está de fora, enche-se de frases à primeira vista ininteligíveis tais como “Eu sou pro-ana” ou “Já fui Ana, mas agora sou Mia”.
São os códigos de doentes de Anorexia e Bulimia que usam a Internet como fórum. Seres anónimos que escondem das famílias o que chamam de “modo de vida”, partilham as mais sofisticadas técnicas de passar fome, as últimas novidades em laxantes ou drogas inibidoras de apetite, incentivam on-line o vómito e a celebram os distúrbios alimentares com poemas e imagens de modelos magras.
Alguns dos sites/ blogs são escritos à laia de diário com fotos da magreza extrema alcançada pelas autoras e aplaudida com comentários das visitantes. Também do relato diário constam os tropeções de quem vive a luta de não ultrapassar 500 calorias/dia… Volta e meia, algumas destas páginas pessoais são fechadas, mas nem por isso o fenómeno acaba.
As novas tecnologias servem diversos interesses. Ao lado de massas de pessoas que se batem por objectivos tidos como bons – reacções a catástrofes, preocupações ambientais, melhoria das condições de vida – surgem os fanatismos. Terrorismo, pedofilia, racismo, xenofobia… É o que se quiser.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, apenas 16% da população mundial estava com excesso de peso. Então, como explicar que cerca de 87% das mulheres se sentem com peso a mais?
Ninguém olha para si mesmo sem termo de comparação. E os modelos vão-se buscar ao que é veiculado pela indústria da Moda, pelo Cinema, pelas Artes e pela Comunicação Social. Milhares de jovens procuram fotos de “thininspiration” nas revistas e na net, ícones de um ideal de beleza que nada tem a ver com saúde e qualidade de vida. A pressão para atingir um determinado tipo de corpo pode culminar na patologia de uma mente que distorce a imagem do corpo visto ao espelho - depressão, distúrbios alimentares, auto-destruição.
Anorexia também existe no sexo masculino – foto retirada de um site pró-ana da responsabilidade de um surfista de 19 anos
Os recentes acontecimentos nas passagens de modelos em Madrid e Milão relançaram a polémica. Várias modelos, consideradas demasiado magras, foram impedidas de desfilar. Ameaçadas as suas estrondosas fontes de rendimento, criadores e bookers insurgiram-se contra as medidas tomadas pelas organizações dos certames de moda.
Medidas corajosas e inovadoras mas só por si insuficientes, já que as variáveis Beleza, Saúde, Educação têm de estar em sintonia. Para além de mexer com ideais convencionados, muito há a fazer em termos de promoção de alimentação correcta, vida saudável e condições para mens sana in corpore sano – refeitórios nas escolas, menus escolares saudáveis, formação e incentivo da prática desportiva como parte de uma vida saudável.
Enquanto isso, milhares de pessoas, na grande maioria mulheres ainda adolescentes, vivem numa estranha forma de vida, uma existência em para se ser magro até aos ossos vale tudo!
Escuso-me de indicar sites/blogs de Anas e Mias. A alguns deles “roubei” as fotos. A pesquisa é livre e a informação está a vista de todos. Quem procura arrisca-se a encontrar… Prefiro referir links construtivos, didácticos, informativos.
Sites informativos:
Ana y Mia - La verdad de un mundo peligroso
Don´t die for a diet
Pro-ana - encyclopedia dramatica
Video: