Wednesday, October 03, 2007

sp0054


"Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe." - Oscar Wilde.


Às vezes pergunto-me como seria reduzir-me à mera existência. Ter um sonho ou outro aqui e ali, mas não muito mais do que isso. Viver satisfeita por ter um dia igual ao outro, sem estremecer com a novidade da mudança. Fui educada para ser exigente com a vida, para procurar uma explicação para tudo, para não me contentar com o que é aparente e visível. Agora que sou assim não posso voltar para trás e ser como nunca fui.

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Conheço uma mulher que abandonou a sua terra em busca de uma vida melhor. Na sua terra os Invernos são demasido frios e os Verões matam de tanto calor. Na sua aldeia as pessoas vivem do que a terra lhes quer dar. Ouve-se falar de uma Comunidade de oportunidades e quem tem idade e forças parte para conhecer melhores dias. Muitos deles sabem que têm pela frente uma vida dura que esperam mais doce, menos inglória, que lhes permita mandar algum dinheiro para os seus que ficaram.


A mulher que conheço não foi à escola - ela e os irmãos ajudavam os pais nos campos. Chegou a Portugal clandestina e clandestina continua. Trabalha de manhã à noite, não conhece fins de semana ou dias feriado. Trabalha no que há para fazer, sempre com um sorriso que a ilumina por inteiro.


Depois de alguns anos a amealhar os frutos do seu trabalho, a mulher que conheço viajou para o seu país. Queria ver a família, os amigos, a casa que conseguira comprar. Sentiu-se uma estranha. Conheceu uma vida com água quente, canalizada, viu um filme na tela grande de um cinema, experimentou, assimilou hábitos novos que a sua gente olhou com desconfiança. A casa que tem já não é casa que aparece nos seus sonhos. Voltou, voltou talvez para não voltar.

2 comments:

lr said...

ainda bem que quem tem esses valores, não pode mesmo voltar atrás. bjs

blitz & krieg said...

Foste cuscada.