Fala-se muito de sexo. Todos os dias, a todas as horas, há muita gente a falar de sexo. Na grande maioria das vezes, não com a melhor das intenções, não com a melhor forma nem com o melhor conteúdo.
Fala-se tanto de sexo porque, durante séculos, se propagou a todas as sociedades uma sexualidade reprimida e contida pois, intencionalmente, ao serviço de um jogo de interesses, relegou-se para um plano profundo o facto de que sexo é uma energia biológica inata.
Somos fruto de tradições repressivas – cristã, hindu e muçulmana. Resultamos de educação pela negativa – «não faças isto, não faças aquilo». Todas as religiões assentam numa ideia de controlo da natureza do homem e de condenação do sexo. O sexo assume, assim, conotações de pecado, profano, proibido, mundano.
Sexo é energia. Tal como as águas barradas à força entre diques que acabam por ceder, a repressão sexual levou ao surgimento de outras formas de expressão: a pornografia e as perversões – consequência inevitável um fluxo natural de energia que é interrompido e se revolta contra esse impedimento.
Ora o sexo é como respirar - faz parte da sabedoria do próprio corpo. Não nos detemos a pensar no funcionamento do aparelho respiratório, a não ser que algo não esteja bem. Pense-se uma situação de insuficiência respiratória em que se torna pensar de cada vez que se inspira e expira – é completamente anormal!
Por isso se fala tanto de sexo. Ainda bem que, de uma maneira ou de outra, se fala de sexo. Hoje em dia, apesar da repressão em que insistem alguns fanáticos da religião (seja ela qual for), aqui e ali já existem pessoas que encaram o sexo com naturalidade, como um caminho, quer para a descoberta de si próprios, quer para a descoberta do amor e, por conseguinte, da meditação.
A primeira etapa do processo consiste assumirmos que somos os únicos responsáveis pelo nosso próprio prazer. Sexo é prazer. Desenvolvendo a habilidade de explorar as nossas capacidades sexuais - sem culpa, sem medo, sem preconceitos – estaremos a criar sozinhos todas as condições de nos relacionarmos com os outros.
É muito mais fácil falar de sexo do que falar de amor. O amor é um fenómeno que resulta da consciência humana. Os animais apenas se reproduzem, não amam. Poetas, escritores, realizadores de cinema, psicólogos, antropólogos, médicos, simples mortais: todos se envolvem na descoberta, na definição, na análise, na dissecação do que é o amor. O amor é, pois, um fenómeno humano passível de experimentação, mas de difícil explicação.
O sexo não é amor. Mas faz parte do caminho para o amor. Por sua vez, o amor leva-nos à meditação.
Sexo, amor e meditação: os três vértices do triângulo.
Quando dois corpos (sexo) se juntam em harmonia (amor), ambos deixam de existir em separado para existirem como um só, ainda que por uns escassos segundos. Não há pensamentos, não há futuro, só aquele momento que é presente. O orgasmo é, então, o vislumbre de um estado de total ausência de tempo e de pensamento, a consciência pura e a mais básica forma de meditação – o atingimento do samadhi ou hiperconsciência.
Conclusões:
1) Há sexo pelo sexo: pode ser bom ou decepcionante, pode ser passageiro ou regular; Há amor sem sexo: é uma opção ou uma consequência de um amor platónico, não correspondido, por exemplo; Há sexo com amor.
2) O bom sexo é relativo, porque depende de outras variáveis como seja a relação com o próprio corpo, a relação com o outro.
3) O que é bom no sexo é o amante – sim, na perspectiva de que é com aquela pessoa que se quer estar, que há pessoas que se conhecem bem a si próprias e melhores condições têm de se relacionar com os outros.
4) Sexo e educação sexual são realidades diferentes, tal como o sexo é independente de questões morais e religiosas, embora não seja isso que há séculos é veiculado.
5) Sexo é prazer – então, não? Até para os animais é prazer, porque não havia de ser para nós humanos?
Este texto é dedicado a todos os que têm visitado este paraíso, em especial àqueles que participaram activamente no debate de ideias despoletado pelo post O Sexo e as Cidades.
É uma reflexão com base na minha experiência pessoal, na minha visão da vida para a qual em muito contribuem os ensinamentos de Osho, goste-se ou não, um dos 1000 Construtores do Século XX.