Friday, February 03, 2006

Tango Lesson by Maggie Heinxel-Neel

Tango Lesson by Maggie Heinzel-Neel

A escrita tem sexo?

Ultimamente, fala-se muito de escrita feminina, de escrita light, de escritores homossexuais... De repente, o sexo do autor passou a ser mais valorizado que a sua escrita!

Pareceu-me importante reflectir sobre este tema, pois também a minha escrita tem sido posta em causa. De várias formas, me tem chegado um som de retorno que me fez pensar sobre a mensagem que poderei ou não estar a passar com o que escrevo.

Recentemente afirmei, num mail pessoal, que
sem querer passar mensagem de feminista ou algo do género, os temas escolhidos pretendem abordar questões de homens e mulheres, sexo e sociedade, embora a perspectiva de base seja feminina, pois o facto de ser mulher acaba também por influenciar a forma como escrevo. Mesmo que eu queira ser imparcial, e acho que o sou, há um lado feminino que ressalta, como é normal.

Na verdade, há ideias fundamentais a reter:

- É redutor definir o que quer que seja pela orientação sexual ou pelo corpo do seu criador;

- É meramente acessória a questão do sexo do autor.

Tudo o que fazemos, assim como a nossa percepção que temos do mundo,
está inevitavelmente ligado à nossa maneira de estar na vida, à nossa experiência pessoal, aos factores culturais da sociedade em que nos inserimos, aos valores que pautam o nosso comportamento e que definem aquilo em que acreditamos.

Os nossos pensamentos, as nossas opiniões não aparecem desligadas de um contexto.

Não podemos esquecer que as pessoas têm um sexo, têm uma orientação sexual, mas isso é inerente à condição de pessoa, faz parte integrante da personalidade. Não é necessário estar sempre a afirmá-lo ou a propagá-lo aos quatro ventos.

Muito pertinente foi um texto que encontrei de Inês Pedrosa, O Sexo da Literatura. Esclarecedor quanto a esta questão, começa com uma confissão: só em 1997 me ocorreu que a arte podia ter orientação sexual.

Cheek to Cheek by Maggie Heinzel-Neel

Cheek to Cheek by Maggie Heinzel-Neel

Fotos em www.allposters.com

25 comments:

Nuno said...

Bom, não seu muito bem qual é a posição defendida neste post.

Mas penso que os textos são escritos por pessoas, e a esrita reflecte aquilo que as pessoas são. É obvio que há uma certa escrita feminina, que aborda temas que são caros às mulheres.

Eva Shanti said...

Nuno,

É exactamente isso: os textos são escritos por pessoas e reflectem tudo a personalidade, ou seja, tudo aquilo que distingue um indivíduo de outros indivíduos.

A formação da personalidade é processo gradual, complexo, único e pessoal.

O nascer-se com um determinado sexo e o ter-se uma determinada orientação sexual influi a nossa maneira de ser, mas faz parte de um todo: a personalidade.

Recuso classificações de escritor homossexual, escritor heterossexual (nunca ouvi tal referência, mas é perfeitamente possível) e escrita feminina.

Escrita feminina parece uma literatura de segunda, é pejorativo.

Além disso, também não concordo com temas mais femininos e temas mais masculinos.

Virgína Woolf escreveu Orlando, uma personagem que é homem e que é mulher durante a sua longa vida (o filme com Tilda Swinton é magnífico!); Arthur Golde escreveu Memórias de Uma Gueixa - são inúmeros os exemplos de temas aparentemente mais femininos ou mais masculinos que são tratados por sexo oposto.

Inês Pedrosa tem no seu texto uma frase que acho de uma sabedoria imensa: «Toda a escrita autêntica é simultaneamente masculina e feminina».

Bjs

Eva Shanti said...

Nuno Albuqerque Vaz,
Nicolau,

Obrigada pelas visitas e pelos comentários.

Há "turn on" ou "turn off" com gajos e com gajas, penso eu de que...

Bjs

Unknown said...

Ora antes que o Kamasutra rebente de vez com o meu pc (eu é que vou tratar-lhe da saúde com um backup fresquinho de Xp SP2, tenho para dizer que o melhor livro de todos os tempos se intitula:
"O livro em branco"!!!!!!!!!
Acho que da Bertrand, salvo erro.

Aí sim, encontram-se pérolas!

wind said...

A mim não me interessa se quem escreve é homem ou mulher. Interessa-me o conteúdo do que está no livro, se gosto ou não, tão simples quanto isto:) beijos

Eva Shanti said...

Caro Xá,

Livros brancos há muitos!

Por exemplo, O Livro Branco dos Incêndios Florestais Ocoridos no Verão de 2003, O Livro Branco Dos Direitos Humanos Das Pessoas Com Deficiência, O Livro Branco da Física e da Química
Diagnóstico 2000, Recomendações 2002, Livro Branco sobre Corporate Governance em Portugal...

É o que se quiser!

É muita prosa e alguma poesia, mas isso agora não interessa nada.

Também há livros de outras cores. Os Livros Verdes, por exemplo. Como o Livro Verde para a Sociedade da Informação.

A malta da Comissão Europeia adora Livros! OS brancos são os das recomendações, os verdes são mais sobre questões de jurisdição, materiais e processuais, mas também propõe medidas.

É que esta semana até estive a aprender umas coisas sobre livrozz, por isso foi muito pertinente o teu comentário.

Os livros negos é que não convém nada e os livros amarelos, só os deves pedir se tiveres alguma reclamação, o que é sempre aborrecido...

Bjs

Eva Shanti said...

Wind,

E mai nada!

:)

Bjs

Mocho Falante said...

olá olá

olha já venho ler com atenção, mas agora vim s+o aqui dizer que tens uma "prenda" lá no meu poiso

beijocas

Meia Lua said...

Eva querida!
Eu escrevo o que vivo, o que sinto, o que acho. Isto sou eu.
Eu leio-te porque gosto da maneira que escreves, gosto de saber o teu ponto de vista, porque vou te conhecendo através do que escreves.
Continua exactamente como és. Ainda outro dia em conversa sobre blogs com uma pessoa querida disse que é muito fácil saber pelas respostas e blogs as pessoas pelas quais seríamos facilmente amigos.
Tu és uma delas.
beijinho!!!

Unknown said...

Eu, qdo era mánovo, enchi uns quantos livros brancos. Desde oobjectivos a bonecada (tinha jeito para o traço mas a porra da matemática lixou-me a arquitectura), eram rabiscos dignos de qualquer editora.
Quiz o destino que eu não me tornasse jogador ou treinador de futebol.
Se eu fosse um mister, brancos, encarnados ou azuis, era tudo um sucesso.
:)

Eva Shanti said...

Meia Lua,

Concordo contigo!

Por alguma razão visitamos um blog e não outro.

Se sou visita habitual no teu é porque gosto do que escreves e do que transpareces na tua escrita.

Acho que sim, amigas virtuais, porque não amigas reais?

Bjs

Eva Shanti said...

Xá-das-5,

Ah, treinador de bancada!

Tu e mais uns quantos neste país...

Bjs

Parrot said...

Minha querida Eva,

A escrita mais que uma "relação" entre o escritor e o leitor, é uma relação do escritor com o escritor, e que pode ser projectada no leitor. A escrita é um acto de criação individual, e como tal, cada um escreve tendo como base a sua cultura, pensamento, personalidade, experiência, etc...
A verdadeira escrita não tem sexo.

Quem não gosta de um autor, não deve ler, quem gosta deve ler.
Sobre o que escreves, já deves ter reparado sobre o que penso.

Beijo Grande
Bom fim-de-semana

PS - Obrigado pela tua resposta. Já que vou saber os teus hábitos....já procurei novas "vitimas". :))))

Eva Shanti said...

Querido Parrot,

Gostei da tua afirmação: a escrita, mais do que uma relação do escritor com o leitor, é a relação do escritor com o escritor, e que pode ser projectada no leitor.

Não podia estar mais de acordo.

Bjs e bom FDS!

P.S. Quanto aos hábitos, amanhã desvendo. Fica sabendo que tu estavas na minha lista inícial de vítimas... ;)

Parrot said...

Amiga Eva,

Obrigado por te teres lembrado. És muito querida.

Beijo

Su said...

gosto de ler-te pq gosto do modo como escreves
a escrita não tem ou não depende do sexo nem da cor
jocas maradas

Unknown said...

ahhhhhhhhhh... bancada... nem me deixes começar, senão a qualidade do teu blog vem por aí abaixo...
:)

'Tá Difícil said...

Ainda que não veja necessidade da classificação da escrita por sexo ou orientação sexual, não me choca rigorasamente nada que assim a definam.
Vivo num meio pequeno, onde só as palavras "homem" e "mulher" podem alterar o comportamento de uma pessoa perante uma mesma situação; as palavras "heterossexual" e "homossexual" essas são silênciosas, senão totalmente mudas.
Tenho pena que assim seja, mas assim é.
Talvez todos os tipos de classificação da literatura tivessem começado por ser mal aceites, tal comos as correntes artísticas, o que é facto é que hoje não há tabus ao dizer-se: "pintura impressionista". Da mesma forma não haverá ao dizer-se "literatura erótica"... e os seus autores estarão até agradecidos, porque é isso mesmo que eles escrevem...

Peço desculpa pelo destravamento deste comentário. Mas de facto o seu post suscitou-me bastante interesse.

Cordialmente
Tá Difícil

Eva Shanti said...

Tá Difícil,

Muito obrigada pelo teu comentário.

Na verdade, seja um meio pequeno seja um meio maior, o sexo continua a ter importância e nele assentam inúmeros preconceitos.

Por exemplo, a maior parte das pessoas, se entrar numa loja e vir no balcão de atendimento 2 mulheres e 1 homem, automaticamente assume que o homem é o chefe. Ridículo, mas constatado.

Há donos de negócios que se recusam a contratar homens para atendimento ao público, pois entendem que essa é uma função tipicamente feminina, tal como é o sercretariado.

Em algumas zonas do país, os cafés continuam a ser um domínio masculino; as mulheres ditas «sérias» e «de família» não entram num café e muito menos o fazem sozinhas.

«Heterossexual»? É um palavrão. «Homossexual»? É uma aberração.

E assim vamos vivendo.

Não tenho espírito para me conformar com o instituído, quando não concordo, quando sinto que o ser humano é limitado e agredido nos seus direitos fundamentais.

Sou totalmente contra a discriminação, nomeadamente a discriminação sexual.

Sou contra um tipo de educação próprio das meninas e um outro tipo de educação próprio de meninos - só acentua as diferenças e mantém o que está errado e deve ser mudado.

Acredito que esta «rebeldia» a fui buscar às minhas tias que tiveram, num meio pequeno, a ousadia de conseguir o divórcio (estavámos em 1910) ou de recusar um casamento que as obrigava à submissão ao marido e a um regime de bens injusto. Infelizmente, nem todas as minhas antepassadas tiveram essa coragem. Conheço bem que ature uma vida de insatisfação e nunca tenha feito nada para o mudar.

Bjs

Eva Shanti said...

Su,
Pandora,

Obrigada pelas vossas visitas e pelos vossos comentários.

;)

Bjs

Living Place said...

A escrita é aquilo que somos, independentemente do sexo, ou não?
Olha tou baralhada....

Esplanando said...

Bom... acho que escrever, quer estejamos a falar de estilo ou de temas, depende do que somos.
As pessoas são muitas coisas... entre as coisas que são está o seu sexo. Se são homens ou mulheres. Acho perfeitamente normal que o seu género influencie a sua escrita.

Eva Shanti said...

Queridos Musas e Esplanar,

A escrita apenas demonstra aquilo que somos. Verdade ou ficção, é aquilo que está dentro de nós e deitamos cá para fora, aquilo que, de uma forma ou outra, partilhamos com o mundo.

Para mim a questão é: até que ponto o termos nascido como homens ou como mulheres, o facto de gostarmos de homens ou de mulheres (ou se ambos) influi aquilo que nós somos, escrita incluída.

Bjs

Esplanando said...

Claro que influi!
Se a escrita reflecte o que somos... e ser homem ou mulher faz parte do que somos!

Eva Shanti said...

Concordo que influi, mas é só mais um factor, não é o factor.

Bjs