Tuesday, February 21, 2006

Dick And Jane With Family Doin

Dick And Jane With Family Doin

Vidas (aparentemente) Perfeitas*


Não diria que é um ódio de estimação. É antes uma raiva, uma irritação. Sou uma mulher de paz, o mais que posso dizer é que tenho horror a todos os que insistem em mostrar o glamour das suas vidas perfeitas, os seus amores perfeitos, as suas famílias perfeitas, as criancinhas perfeitas, as casas perfeitas, os carros perfeitos, as roupas perfeitas, as jóias perfeitas, as festas perfeitas, as férias perfeitas, as viagens perfeitas...


Vemo-los nos empregos a puxar o lustro ao chefe, a falar da mulher bem sucedida profissionalmente, das crianças loirinhas e sobredotadas e do pedigree do cão. Mexem na aliança enquanto falam da carrinha espaçosa para levar os filhos à escola, da esposa exemplar e dedicada, querendo com isto que todos acreditem na estabilidade emocional de uma união feliz, pelo sagrado matrimónio, claro. Depois são as centenas de horas que tanto ele como ela fazem em prol da vida profissional, não mais do que subterfúgios para chegarem ambos tarde a casa, irem direitinhos para a cama e apagar a luz, não vá haver alguma ideia. As crianças? Essas vão de autocarro para escola e ficam lá no estudo, até tarde, e alguém que as vá buscar, caso contrário assim como foram também vêm pelos seus próprios meios.


Vemo-los nas revistas cor-de-rosa, casalinhos sorridentes de mãos dadas, a exibir o mais-que-tudo e os rebentos como troféus de um status que dizem terem. Mostram as casas lindas e impecavelmente decoradas, de tal forma que ficamos a pensar se aquilo são casas de bonecas ou se quem vive ali é gente a sério. Depois vêm os barcos, as quintas, o golfe, coisas de elite, sabendo-se lá de quem são e quem é que afinal paga todos aqueles luxos.


No fim, saltam as verdades que o que é aparente nunca dura muito tempo. É a mulher que fugiu com outro e, não contente, fez uma limpeza ao recheio da casa; é o marido apanhado com a amiga da filha numa estância de Inverno; são os divórcios cabeludos com histórias de cortar à faca que fazem estalar o verniz e lá se vai o nível; são os credores a bater à porta, os bens penhorados, os processos-crime mediáticos, as acusações, as difamações, as injúrias e tudo o mais que enche os bolsos de certa comunicação social.

Tenho horror à mentira!

Gosto do que é autêntico, de entrar numa casa e ver bonecos espalhados no chão, livros desalinhados, objectos fora do sítio. Gosto de sentir que há felicidade no ar, mas daquela que se constrói, que se alimenta de pequenas coisas, pequenos gestos, não de ostentações parvas e falsas. Gosto de quem se assume como humano, não de quem quer dar ares de máquina perfeita, diggital, com 0% de erro. Gosto de sentir que há vida e que a vida acontece, nem sempre perfeita, mas é vida.

1941 COCA COLA COKE ad VINTAGE SODA COUNTER FOUNTAIN
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* Desafio da Maria Pedro, ou seja, falar de um ódio de estimação.

35 comments:

armando s. sousa said...

Neste momento gostarias de ver a minha mesa de trabalho.
No entanto só consigo trabalhar nestas condições, uma "desorganização organizada" e ainda por cima gosto.
A nível social, já há muitos anos que deixei de acreditar em revistas lixo/cor de rosa e casais perfeitos.
Outra das coisas que adoro, é ver a minha biblioteca desorganizada, e são, esta parte é para me armar um pouquito, mais de 2000 livros.
All the best and i'm back.

Bill said...

Mas não acreditas nos anúncios porquê??

Eva Shanti said...

Querido Armando,

Fico contente por estares de volta.

Há quem diga cada um que se entenda no seu próprio caos.

Eu também sou assim!

Eu raramente leio revistas cor-de-rosa (só nos consultórios), mas irrita-me profundamente colegas que vão bajular o chefe com uma vida "aparentemente" perfeita para dar a entender que têm uma vida familiar estável e assim serem promovidos.

Odeio que vive de fachadas!

Bjs and welcome back!

Eva Shanti said...

Bill,

Gosto muito de publicidade, especialmente quando é bem feita.

Não acredito é em mentiras que algumas pessoas nos querem impigir à força.

Escolhi estes anúncios vintage para ilustrar o meu texto porque os acho emblemáticos de uma falsa felicidade e de uma harmonia de fachada.

O 1º é o exemplo da little happy family, só faltando a casinha modelo com picket fences.

O 2º mostra um casalinho feliz que nem olha um para o outro. Dispersam o sorriso amarelo com um olhar vago para o vazio.

É essa a minha interpretação.

Bjs e obrigada pela visita

Unknown said...

oraesta!
Eu não tenho culpa de ter um cão com pedigree (faltam-me os papéis), de ter um carro Silver Arrow (é prata, arghhh) e da mulher não ter fugido com outro... acho.
Jogo muito bem golfe no PC e os rebentos que tenho planeados não serão louros (a menos que a mãe o seja) mas, concerteza e logicamente, sairão sobredotados e tal.
Isto é crime?

CS said...

Esta é uma das minhas "de pedra e cal"... Radiohead, claro!

Mais empatias...

"A heart that's full up like a landfill,
a job that slowly kills you,
bruises that won't heal.
You look so tired-unhappy,
bring down the government,
they don't, they don't speak for us.
I'll take a quiet life,
a handshake of carbon monoxide,

with no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
Silent silence.

This is my final fit,
my final bellyache,

with no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises,
no alarms and no surprises please.

Such a pretty house
and such a pretty garden.

No alarms and no surprises,
(Get me outta here)
no alarms and no surprises,
(Get me outta here)
no alarms and no surprises
(Get me outta here) please".

Isabel Filipe said...

Adorei o teu Post...
concordo em absoluto contigo e assino por baixo....

"........Gosto do que é autêntico, de entrar numa casa e ver bonecos espalhados no chão, livros desalinhados, objectos fora do sítio. Gosto de sentir que há felicidade no ar, mas daquela que se constrói, que se alimenta de pequenas coisas, pequenos gestos, não de ostentações parvas e falsas...."

5 estrelas...
beijokas

Rosa said...

Para além de tudo isso que disseste (e muito bem!), a perfeição é uma seca!

Mocho Falante said...

ora cá tou eu na bicada. É vê-los a relatar que encontraram o maor das suas vidas para 1 mês depois cada um ir à sua vida sem um minimo de toque depressivo, é vê-los a apresentar grandes joias que na verdade são fantásticos pechisbeques porque na verda há muito que se foram os aneis e ficaram os dedos como vieram ao mundo, tudo à custa de uma maravilhosa viagem à Polinésia francesa que lhes custou este mundo e o outro.
é vê-las com 60 e muitos anos a querem passar-se por 20 conta de não sei quantos tupperware derretidos para as plásticas fenomenais que fazem. É ve-las nas campnhas da luta contra a interrupção voluntária da gravidez e depois apanha-las em Londres a fazerem desmanches devido a uma das muitas escapadelas ao casamento e ao mesmo tempo fazerem compras no selfridge com um cartão de crédito que já foi chão que deu uvas...

enfim é assistir constantemente a uma história disfarçada de farytale que na verdade é um Elm Street

Um beijo querida, porque fica supé mal dar-se dois...é que há minimos

Sara MM said...

deixa lá... mais cedo ou mais tarde a verdade vem sempre ao de cima!! e qt mais fingidos, mais podres se revelam depois :ob
Pena que mesmo assim é horrivel na mesma... tens razao!!
BJs

Eva Shanti said...

Clife,

Até podemos ter mais do que só um pouco que o que importa é o valor que damos às coisas (que são apenas coisas), e a forma tratamos as pessoas de quem gostamos e que fazem parte da nossa vida.

Como já alguém disse, o amor não se compra já feito...

Bjs

Eva Shanti said...

Spartakus,

De certeza que em tua casa há vida, há amor, há felicidade.

Profissionalmente sou metódica e relativamente organizada. Agora arrumada, bem tento, mas é um aspecto que tenho a melhorar...

Bjs

Eva Shanti said...

Sara_mm,

Obrigada pela visita!

Realmente, aquela gente uma coisa não tem de certeza: felicidade!

Preocupam-se tanto em ostentar a vida que não têm vez de aproveitar o tempo com algo bem mais simples e que não tem a ver com €€€€!

Bjs

Eva Shanti said...

Ó Mocho,

Palavras para quê? Tá tudo dito!

Mas olha que umas comprinhas em Londres não me importava nada, já que falas nisso... Depois dava um pulinho a Amesterdão e outro a Barcelona, por exemplo. Vinhas comigo, não vinhas?

:)

Bjs

Eva Shanti said...

Rosa,

A perfeição tira a piada toda!

Irrita!

Bjs

Eva Shanti said...

Ana,

Eu sabia que só podias estar de acordo!

;)

Bjs

Eva Shanti said...

Maria Pedro,

Satisfeitazita?

Pois: no alarms and no surprises, such a pretty house and such a pretty garden...

Ugh!

Mas isto não quer dizer que eu não gosto de casas bonitas e de boa vida. Acho que toda a gente gosta. O problema está na importância excessiva que se dá às coisas materiais e, pior, ao facto de querer mostrar aos outros uma vida que, na maior parte dos casos, não se tem.

Bjs

Eva Shanti said...

Isabel,

É tudo uma questão de sensibilidade, uma qualidade que é muito tua.

Bjs

Eva Shanti said...

Pachita,

Há quem compre livros a metro e há quem compre livros falsos só para exibir as lombadas.

É triste, mas é verdade.

Estou como tu: casas-museu? No thanks!

Ah, e não tenho cortinados, só tenho estores de enrolar tipo chineses, simples e funcionais, em tecidos ou bambú.

Bjs

Eva Shanti said...

Xá querido,

Não me digas que enfiaste a carapuça! Olha que não era caso para isso!

O meu gato também tem pedigree, mas não é por isso que gosto do animal.

E não, ter ambição não é crime, e ter €€€€ para ter uma vida confortável também não.

Agora viver de crédito e não ter que comer só para exibir sabe-se lá o quê? Isso não é crime, mas talvez devesse ser previsto e punido por lei. Especialmente quando estão envolvidas crianças, loiras ou não, que merecem atenção e carinho, em vez de apenas servirem para serem mostradas.

Tudo o que escrevi tem alguma base verídica e tem a ver com pessoas que conheço ou conheci.

A questão das crianças como símbolo de um determinado status lembra-me, entre outras, uma certa pessoa que tem bom coração mas só conhece a vida de dondoca das revistas cor-de-rosa. Senhora mediática, agora já não tanto por causa do divórcio ainda mais mediático que ela, já não a via há anos. A primeira coisa que ela me perguntou foi: «quantas tens?» Fiquei parva a olhar para ela e ela reformulou: «Crianças? Quantas tens?» Percebi logo, não tenho filhos logo não tenho estatuto.

Sei que não foi por mal, até porque gosto da pessoa em questão, só tenho pena que se contente com uma vida oca. Vida já não tão luxuosa como antes, embora a pensão que o ex-marido lhe deve dar não deve ser coisa pouca e ela própria já provém de uma família com dinheiro.

Mas nem todos somos iguais, né?

Bjs

Mocho Falante said...

Mas eu ia lá perder a oportunidade de uma viagem destas contigo!!!!!!!!

Só se eu fosse parvo ora essa.

E depois...depois viravamos uns verdadeiros dondocas e colocavamos aqui um post a arrasar uma tal de Eva que anda a dizer mal da vida social dos tios tá a ver??? o dito pelo não dito.

Beijos, só numa face claro porque é uma pindériquisse dar-se dois beijos como sabe

Desconhecida said...

Pois é Eva. Vidas perfeitas, tudo perfeito...mas na casa de cada um, só cada um é que sabe. Por vezes é curioso constatar que aqueles que mais pensamos ser o casal perfeito ou ter a vidinha perfeita, são na realidade os mais infelizes. São aqueles que não sabem ou conseguem ser autênticos, e camuflam a vida própria para se enganarem a eles mesmos. Criticam e chocam-se com alguns desvios dos amigos, mas na realidade, alguns deslizam também, mas tudo bem feito para ninguém descobrir que são imperfeitos e que isso é natural. No melhor pano cai a nódoa e é bem verdade. Conheço de perto historias de pessoas que se julgam superiores e intocáveis e olha...a merda cai-lhes toda em cima.
Viver a vida é que é preciso. Detesto falsos moralismos. Abomino exagerada rectidão de condutas.
O meu ódio de estimação é a injustiça e a parcialidade. Não consigo de todo lidar com estas duas coisas.

Beijo

JNM said...

Eva,
Quero dizer-te que partilhamos o mesmo sentimento.

Não será nesta encarnação que atingirei o Nirvana, e uma das razões é o tipo de juízos e de sentimentos que nutro por pessoas como as que descreves. Por vezes dizem que é inveja, mas não. É mesmo desprezo.

Destesto o falso, o fingimento o politicamente correcto, o absolutamente contido, correctamente dito, perfeito.

e podia continuar a odiar aqui até nunca mais deixares que comentasse o que quer que fosse.

Como não tens filhos deixa-me dizer-te: não deve haver coisa melhor que ser mãe, mas porque não deve haver coisa melhor que ser mãe.

Beijo

Parrot said...

Queria Eva,

A vida não é perfeita, no entanto existem pessoas que teimam em nos fazer crer o contrário. Não percebem que não existe nenhum mal, em não ter uma vida perfeita. Essas pessoas são aquelas que se preocupam demasiado com as aparências....enfim, laranjas sem sumo.

Sabes de uma coisa? O que eu gosto mesmo, é de gente simples e de pessoas normais....


Grande beijo

PS - Gostas de publicidade bem feita....eu também. Vou pensar nisto e já me dirás.....:)))

Dina Domingues said...

desculpa lá Eva, mas eu nem sabia que havia gente tão perfeita quanto os anúncios, pensava que até tinha uma vidinha boa e normal, apesar de gritarmos imenso lá em casa, de amuarmos, de nem sempre termos dinheiro, de o meu filho ter birras, de eu amuar sempre que estou nos dias dificeis do mês ;), de os meus cães ladrarem, da minha tartaruga nem sempre comer, e dos meus passaros me atirarem comer para o chão. ah e ainda de os meus bonsais terem amoques e morrerem ou as minhas plantas apanharaem cochinilha. já me estragaste as ilusões todas que tinha :)

I N T E I R O S said...

Esguios ao búzio, cochichavam distintas ocasiões.

Meia Lua said...

Eva...
Estas pessoas que dizem ter a vida perfeita, são as mais infelizes... estão perdidas e não sabem o que é ser autêntico, não vivem, estão em exposição, como numa montra. E na falsidade das suas vidas acreditam que realmente são felizes... quando apenas são dignas de pena...
beijinho grande para ti :*

Eva Shanti said...

Meia Lua,

A verdade é cada um vive a sua vida como quer e bem entende.

O que serve para os outros (a fachada, a mentira, a aparência), não serve para mim.

Bjs

Eva Shanti said...

Eveontheclouds,

Não sei se compreendi o alcance deste comentário:

"Mereces um silêncio ensurdecedor, por fazeres tanto barulho a pedir honestidade..."

Eu não peço nada. Apenas digo o que não suporto. E não suporto gente que se faz mais do que aquilo que é, especialmente quando há interesses em auto-promoção pessoal e profissional.

Também detesto e recuso-me a ver reality shows em que as pessoas não fazem nada, não são contribuem em nada para a sociedade e passam a ser conhecidas e a ganhar rios de dinheiro por NADA! São os palhaços da vida que custam caro!

Bjs e obrigada pela visita

Eva Shanti said...

Inteiros,

Aqui está um comentário esotérico que também não alcancei...

Devo estar num dia mau hoje...

Adoro búzios, adoro o mar, mas detesto cochichos.

Bjs e obrigada pela visita.

Eva Shanti said...

Dina,

I'm very sorry. Afinal, os contos de fadas e pincesas não existem nem na vida real. Mas há histórias muito bonitas de amor, coragem, dedicação.

Lembro de uma cantora que gosto muito, Deborah (Debbie) Harry que relegou a carreira de sucesso para 2º lugar após o ataque cardíaco do marido Chris Stein. Se esta senhora tivesse continuado em força no mundo da música, Madonna teria tido um trabalho bem mais difícil na sua ascensão a Rainha da Pop.

Mas há muitas outras histórias e não são necessariamente de pessoas ricas e famosas. Muitas vezes são histórias de pessoas que vivem ao nosso lado...


Bjs e obrigada pela visita

Eva Shanti said...

Parrot,

Cá estou para ver esse teu PS!

Bjs

Eva Shanti said...

Ahraht,

Ainda há pouco tempo falava com uma pessoa mais velha sobre ter ou não ter filhos.

Disse-me essa pessoa que muito estimo que só depois de ter um filho (e é pai de 3) percebeu o significado de ser pai e assumiu essa função com muito gosto.

Eu nesse campo não posso falar.

Talvez me equipare nesse aspecto à Miranda do Sexo e a Cidade: não tenho tempo para pensar em ter filhos, se engravidasse entrava em pânico, acredito que ponderando tudo acabasse por encontrar em mim algum apelo pela maternidade.

Muitas são as mulheres que decidem ter filhos tarde ou que optam por não os ter.

Não posso falar muito daquilo que não sei.

Agora, acho insuportável exibir as crianças como troféus, pessoas que casaram pelo civil insistirem em baptizar os filhos por causa do acontecimento social e uma série de situações em que as crianças são utilizadas como prova de estatuto. Tenho horror!

Bjs

Eva Shanti said...

Desconhecida,

Deixo-te o desafio de falares sobre os teus ódios de estimação!

Bjs

Living Place said...

Minha amiga, casaisinhos desses é o que mais há... vê-se pelo nº de divorcios a aumentar.
Ias gostar da minha casa, logo à entrada tropeçavas nos cesto da roupa passada, caminhavas um pouco e mais um tropeção nas almofas do sofã que estão sempre, sempre no chão.... queres que continue?
:-)